Sustentabilidade da Indústria de Mídia na Era Digital – Desafios e Ameaças
As ameaças à indústria de mídia são mais
perigosas do que se pensa e um grande risco à democracia, principalmente quando
se fala de uma mídia independente e com liberdade de expressão na produção de
informação e notícias elaboradas por jornalistas, por exemplo. É preciso buscar
o que pode ser feito para salvá-la. Recentemente o ex-presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama, disse que as instituições democráticas americanas estão
sob ameaça como nunca. Para alguns pesquisadores, as plataformas de mídia
social estão destruindo nossa democracia e que a classe política precisa
avançar para protegê-la.
Com a expansão da Internet, o mercado de informações aumentou
substancialmente, dando origem a graves desigualdades no mercado, após ter sido
rapidamente dominado por gigantes do Vale do Silício, como Google e Facebook. A
falha na prestação de informações como bem público é, em parte, uma falha de mercado
que exige regulamentação e um código de conduta, principalmente quando se
evitam as responsabilidades de editores e jornalistas. Nessa falha de mercado,
as forças de oferta e demanda não funcionam adequadamente e a mídia perde a
capacidade de atuar como vigilante e forte pilar da democracia.
Depois de 16 meses de uma investigação do
Congresso dos Estados Unidos sobre Amazon, Google, Apple e Facebook foi emitido
relatório com dura condenação sobre o poder de monopólio destes tech gigantes
em segmentos de negócios chaves e o abuso na dominação do mercado. Segundo o
relatório, as evidências são significantes para mostrar que a conduta
anticompetitiva destas empresas impede a inovação, reduz a escolha do
consumidor e enfraquece a democracia. Essas empresas têm muito poder e esse poder deve ser refreado e sujeito à
supervisão e fiscalização adequadas. Nossa economia e democracia estão em jogo,
diz o relatório. Estas descobertas prepararam o terreno para uma possível
legislação futura destinada a refrear as Big Tech, mesmo com as autoridades
antitruste do Departamento de Justiça e da Comissão Federal de Comércio se
preparando para possíveis litígios contra algumas das empresas nos Estados
Unidos.
Google e Facebook atualmente estão coletando em
torno de 80 por cento de renda de publicidade em alguns países, o que torna
difícil a competição entre outros participantes do mercado. Seus produtos são
grátis e cobram taxas de publicidade abaixo do mercado, mas, por outro lado
coletam todos os dados de seus usuários. Este mercado de práticas
monopolísticas dos gigantes americanos de tecnologia resultou no
desaparecimento de milhares de dólares de publicidade e a perda de emprego de
milhares de jornalistas, com o fechamento de vários jornais ou outros meios de
comunicação. Diante da natureza e poder destas plataformas, as ações de
interferência e discussões das ideias de um mercado de mídia não pode se
limitar a um único país, embora alguns países desenvolvidos, a exemplo de
França, Canada e Reino Unido, já tomaram a frente para enfrentar estas forças
monopolísticas poderosas, impondo um código de conduta nos monopólios da web,
reforçado com penalidades financeiras expressivas.
Observa-se, assim, uma redução drástica da
sustentabilidade nas empresas de mídia, que precisa ser estudado do ponto de
vista social e econômico para se avaliar os efeitos da transformação digital,
medir perdas e lucros, tendências do emprego/desemprego jornalístico e a
evolução do mercado de publicidade online.
Não são só as práticas monopolísticas que afetam o setor, carente de
modelos de negócios sustentáveis e do papel de incentivos regulatórios. O
ecossistema de informação e mídia está em transformação com os avanços
tecnológicos que criam novas oportunidades nas áreas de liberdade e pluralismo da
mídia, mas também estimulam novas fontes de riscos, incluindo a divulgação de
má informação, desinformação e o discurso do ódio em escala nunca visto.
Lembrar, ainda, que em muitos países, a mídia local/regional e comunitária não
garante a sustentabilidade e independência, sem ajuda do Estado na forma de
subsídios. Alguns estudos de marketing sobre mídias sociais se limitam às
experiencias dos consumidores e a geração de lucros e receitas de vendas para
as empresas, esquecendo os fatores sociais de efeitos danosos.
Portanto, os maiores riscos para uma
pluralidade do mercado vêm da concentração de propriedade da mídia, que
beneficia as grandes plataformas, e da falta de uma regulamentação apropriada.
As gigantes plataformas online apoderam-se da maior parte do mercado de
publicidade, quebrando o modelo tradicional dos negócios de notícias na mídia
em setores vulneráveis como jornais e a indústria da mídia local. Outros riscos
estão relacionados com a falta de transparência de propriedade da mídia e sua influência
nos conteúdos editoriais, diante da falta de pluralismo político como condição
para a democracia e cidadania democrática. É preciso ainda avaliar a
distribuição de recursos para a mídia e o controle político dos conteúdos e
organizações, especialmente da mídia de serviços públicos.
Diante destas ameaças e outros desafios ao
jornalismo profissional e organizações de mídia tem sido recomendado que, sem
ajuda pública e regulamentação dos mercados digitais, o jornalismo profissional
independente, em perigo, se una a organizações de mídia para pedir à comunidade
internacional, ao governo americano, comunidade europeia e outros a adoção de
políticas e orçamentos que correspondam à urgência e escala da crise,
principalmente nos países em desenvolvimento, apontando as falhas do mercado, que
impedem a diversidade e pluralidade da mídia.
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