Poluição das Grandes Fazendas Brasileiras – Quantas Mortes por Ano?
A brisa soprada de uma fazenda de porco carrega gases perigosos: metano, amônia e sulfato de hidrogênio. O odor das fazes de porco é muito forte. Os gases do esterco e alimentação animal produzem pequenas partículas, que irritam o pulmão e capazes de flutuar por vários quilômetros (Washington Post).
Pesquisa recente publicada pela Academia
Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a primeira sobre poluição das grandes fazendas americanas, mostra que mais do que 17 mil mortes por ano são
registradas no país. A agricultura animal é o mais mortal emissor de partículas
de poluição do ar, responsável por 80 por cento das mortes da poluição
relacionadas com a produção de alimentos. Os gases associados com estercos e
alimentação animal produzem pequenas partículas, que irritam o pulmão, sendo
capazes de flutuar por vários quilômetros. Por sua vez, a brisa soprada de uma
fazenda de porco carrega gases perigosos: metano, amônia e sulfato de
hidrogênio. Além disto, o odor das fazes de porco é muito forte.
Assim sendo, a pobre qualidade do ar é o maior
risco de saúde ambiental nos Estados Unidos e no mundo e a agricultura é a
maior fonte de poluição do ar, com a produção agrícola causando mais mortes
anualmente do que as emissões das fábricas de carvão, de acordo com o estudo
acima citado, sendo a maioria das mortes causadas pela produção de alimentos.
Apesar disto, das discussões sobre os impactos de alimentos na saúde ambiental,
a qualidade do ar tem sido ausente. Enquanto
a poluição das fábricas de carvão e de veículos é bastante regulamentada, o
mesmo não acontece com a regulação da qualidade do ar e da poluiçao das grandes fazendas. O
estudo mostrou ainda as mortes relacionadas com as emissões das cadeias de
suprimentos, sendo a produção de determinadas commodities como carne e porco as
que mais se destacam. Os locais ou
municípios que apresentaram o maior número de morte foram identificados.
Como já foi dito, “é
fundamental que haja mais compreensão sobre as causas e riscos apresentados
pela pecuária” no Brasil, considerando o alerta de cientistas “há décadas sobre
os riscos das práticas agrícolas intensivas para a saúde pública”. O danoso modelo
agrícola do Brasil, concentrador de terras e frigoríficos e seu insustentável
modelo de agronegócios tem que ser estudado considerando seus maléficos efeitos
sobre a poluição do ar, que pode ser uma das piores do mundo. Além disto tem-se
que começar a registrar o número de mortes anualmente, causadas pela péssima
qualidade do ar oriunda das grandes fazendas, fazendas industriais,
frigoríficos e cadeias de suprimentos internacionais. Com a Pandemia, o mundo
começou a compreender melhor como o capitalismo nas fazendas industriais e
grandes cadeias de abastecimentos funcionam no Brasil, cujo propósito e coletar
lucros enquanto o resto de nós arcamos com as consequências.
Para a professora Jannifer Jacquet do Departamento
de Estudos Ambientais da Universidade de Nova York, a indústria de carnes está
fazendo exatamente o mesmo o que as grandes companhias de petróleo fizeram para
enfrentar ações climáticas, conforme matéria do Jornal Washington Post. Contudo,
o público aprendeu sobre as táticas destas empresas ao longo de décadas de
investigações por jornalistas, pesquisadores, juristas e grupos da sociedade
civil como o Centro de Investigação do Clima. A agricultura americana está
começando a ser investigada da mesma forma, embora elas tenham preferência
pelas condições climáticas em termos de energia e transporte. Para a professora
Jannifer Jacquet, as promessas dos Estados Unidos para o acordo de Paris fez apenas
uma referência às “fazendas de animais” e nenhuma à “carne”. Para ela, é tempo
de se perguntar por que?
Enquanto os parlamentos das principais
economias mundiais estão votando legislações voltadas para um capitalismo responsável, tentando aliviar o sofrimento nestes tempos difíceis, o parlamento
brasileiro aproveita o silencio e isolamento da Pandemia para votar o que
existe de pior contra a sociedade, a exemplo da recente lei geral do licenciamento
ambiental, já chamada da “mãe de todas as boiadas”, em favor do lucro dos
gananciosos e uma poluição desenfreada, que vai afetar a saúde e qualidade de
vida da população. Ações desta natureza envergonham o mundo, que começa
despertar para ações sustentáveis em defesa do meio ambiente e de gerações
futuras.
Espera-se que as mudanças externas possam
influenciar o nosso modelo agrícola perverso, baseado em atividades agrícolas
intensivas, que vem destruindo a Amazonia, os biomas e todos os recursos
ambientais da natureza. Estamos vendo a
Comunidade Europeia defendendo sistemas alimentares baseados numa agricultura
local e regional, evitando importar toneladas de alimentos das cadeias de
suprimentos internacionais, que deixou o mundo assustado e chocado, diante de
suas ações antiéticas de enfrentamento do vírus. Empresas e investidores
começam a se interessar pelo chamado ESG (sigla em inglês que significa
melhores práticas ambientais, sociais e de governança). Países como Canadá e
Estados Unidos começam também a incentivar uma agricultura local e regional,
além do surgimento de gigantes da carne de plantas.
A indústria de carnes é muito poderosa em
países como Brasil e Estados Unidos, onde a carne ainda é um alimento saboroso,
mas os estilos de vida estão mudando. Tanto no Canadá como nos Estados Unidos
os guias alimentares buscam reduzir o consumo de carne, sem falar da China que
está sugerindo a seus cidadãos uma redução pela metade do consumo de carne. Enfim,
pesquisa do Instituto Gallup mostrou que, em 2019, um em cada quatro americanos
reduziu o consumo de carne, principalmente por razões ambientais e de saúde.
Com a Pandemia, as questões éticas foram acrescentadas. Os líderes mundiais
começam a observar as preferências e desejos dos consumidores, que num período
pós-pandêmico podem trazer grandes surpresas. Não se pode esquecer o que disse
o ativista Leah Garcés: é mais fácil levar metade dos americanos às comidas
vegetarianas do que tornar metade deles vegetarianos.
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