A Oculta Produção da Indústria de Carne Rejeita Transição

Fonte: You Tube                                                                                                                                             

A história da indústria de carnes é “uma história de corrupção” (Livekindly) e “a produção de carne industrial” não é só responsável pelas “precárias condições de trabalho”, mas “expulsa as pessoas de suas terras, leva ao desmatamento, perda da biodiversidade e uso de inseticidas – além de ser um dos principais fatores da crise climática”. (Meat Atlas 2021).


A produção da indústria de carnes no Brasil não é só oculta, mas rejeita qualquer tentativa de transição para uma produção e consumo sustentáveis, mesmo depois que a Pandemia de Covid-19 desmascarou o mito das grandes cadeias de suprimento de carnes não só no Brasil, mas no mundo inteiro, a exemplo da corporação JBS no Brasil e Estados Unidos.

A política de concentração de frigoríficos no Brasil precisa ser revista, incluindo a quebra de monopólio e uma análise aprofundada dos efeitos da Covid-19 nestas empresas devem chegar ao público, sobretudo em termos de aumento de preços, falta de produtos no mercado e mortes registradas.  

Nesta direção, mais de 30 (trinta) grupos e organizações, incluindo o Instituto de Mercados Abertos e alguns senadores dos Estados Unidos pediram ao Presidente Biden o uso da Lei Anti-Trust para banir o monopólio do que é chamado de Big Ag (Grande Agricultura) e Big Meat (Carne Grande). A JBS está incluída por ser parte da meia dúzia de frigoríficos que formam o monopólio da indústria de carnes no país.

Esperava-se que a concentração de frigoríficos e o Grande Agronegócio no Brasil fossem revistos também, com uma agenda de transição para a produção e consumo sustentáveis. A rejeição a esta transição, nos levará a um desastre pior do que já se registra no país.

Para pesquisadores do Instituto de Mercados Abertos, as grandes indústrias de carnes já são os mais perigosos ambientes de trabalho e o poder da Carne Grande sobre sua força de trabalho foi mostrado em 2020, momento em que a Covid-19 se espalhou nestas indústrias. Ao invés de pausar ou reduzir as linhas de trabalho em seus matadores para evitar o surto, lobistas foram acionados no governo Trump para que estas indústrias se mantivessem funcionando e fazendo negócios como sempre (Business as Usual – BAU).

Sem padrões de segurança obrigatórios, muitas empresas ainda não reconfiguraram suas instalações. O resultado foi que mais de 57.000 trabalhadores adoeceram e várias mortes foram registradas logo no início da Pandemia nos Estados Unidos. No Brasil, diante de ações do Ministério do Trabalho e comentários da imprensa, o resultado não deve ter sido diferente ou pior.

Não se pode permitir que estas cadeias de suprimentos e as relações do comércio internacional, como conhecemos hoje, voltem ao “normal” após a pandemia, embora muitos estejam defendendo isto, usando o Estado para fortalecer o sistema capitalista e manter os negócios como sempre (BAU).

Considerando as ineficiências e disrupções da atual cadeia de suprimentos da indústria de carnes tem que se pensar num “novo normal”, com mudanças profundas no setor, talvez privilegiando o mercado local com mais emprego e melhorias de renda em cada localidade.

Assim sendo, o surto de Covid-19 pode ter sido o marco de início de uma transição para a produção e  consumo sustentáveis. Embora se reconheça a necessidade desta transição, a degradação global só faz aumentar, razão pela qual alguns autores oferecem uma orientação que nos leva a distinguir entre os que defendem a persistência da insustentabilidade e os que propõem mudanças estruturais, visando sistemas de produção e consumo sustentáveis.

Diante destas duas visões, não estamos vendo mudanças radicais no sistema de produção e consumo, mas uma assistência do Estado tentando resgatar o sistema capitalista. A Covid-19 desmascarou o mito de que as atuais formas de produção e consumo são as únicas opções. Pode-se refletir que aspectos do velho “normal” podem ser aproveitados, mas é chegado o tempo de se criar um “novo normal”.

As destruições da pandemia e as escandalosas fixações de preços expuseram o perigo das grandes corporações da indústria de carnes. Se os governantes não se mobilizarem neste momento e exigir uma indústria de carnes mais democrática e segura, a exploração dos trabalhadores, fazendeiros, animais e o meio ambiente continuará sendo cada vez pior, principalmente no Brasil onde o Estado foi e é o grande responsável por isto.

O que se lê na imprensa é que a Big Carne no Brasil cada vez mais ganha poder e privilégios nas várias esferas governamentais, podendo até modificar a reforma tributária para impor mais impostos à sociedade, beneficiando a bancada ruralista com a enganação de que os que estiveram na fila do osso, agora podem comer picanha.

O governo e boa parte da classe política rejeitaram uma transição pós-pandêmica na indústria de carnes e o resultado será catastrófico. Depois do que se passou, desprezar a sociedade e os rumos de uma economia sustentável será outro desastre pior.



 


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