A Oculta Produção da Indústria de Carne Rejeita Transição
A história da
indústria de carnes é “uma história de corrupção” (Livekindly) e “a produção de
carne industrial” não é só responsável pelas “precárias condições de trabalho”,
mas “expulsa as pessoas de suas terras, leva ao desmatamento, perda da
biodiversidade e uso de inseticidas – além de ser um dos principais fatores da
crise climática”. (Meat Atlas 2021).
A produção da indústria de carnes no Brasil não é só
oculta, mas rejeita qualquer tentativa de transição para uma produção e consumo sustentáveis, mesmo depois que a Pandemia de Covid-19 desmascarou o mito das
grandes cadeias de suprimento de carnes não só no Brasil, mas no mundo inteiro,
a exemplo da corporação JBS no Brasil e Estados Unidos.
A política de concentração de frigoríficos no Brasil
precisa ser revista, incluindo a quebra de monopólio e uma análise aprofundada
dos efeitos da Covid-19 nestas empresas devem chegar ao público, sobretudo em
termos de aumento de preços, falta de produtos no mercado e mortes registradas.
Nesta direção, mais de 30 (trinta) grupos e
organizações, incluindo o Instituto de Mercados Abertos e alguns senadores dos
Estados Unidos pediram ao Presidente Biden o uso da Lei Anti-Trust para banir o
monopólio do que é chamado de Big Ag (Grande Agricultura) e Big Meat (Carne
Grande). A JBS está incluída por ser parte da meia dúzia de frigoríficos que
formam o monopólio da indústria de carnes no país.
Esperava-se que a concentração de frigoríficos e o
Grande Agronegócio no Brasil fossem revistos também, com uma agenda de
transição para a produção e consumo sustentáveis. A rejeição a esta transição,
nos levará a um desastre pior do que já se registra no país.
Para pesquisadores do Instituto de Mercados Abertos,
as grandes indústrias de carnes já são os mais perigosos ambientes de trabalho
e o poder da Carne Grande sobre sua força de trabalho foi mostrado em 2020,
momento em que a Covid-19 se espalhou nestas indústrias. Ao invés de pausar ou
reduzir as linhas de trabalho em seus matadores para evitar o surto, lobistas
foram acionados no governo Trump para que estas indústrias se mantivessem
funcionando e fazendo negócios como sempre (Business as Usual – BAU).
Sem padrões de segurança obrigatórios, muitas empresas
ainda não reconfiguraram suas instalações. O resultado foi que mais de 57.000
trabalhadores adoeceram e várias mortes foram registradas logo no início da
Pandemia nos Estados Unidos. No Brasil, diante de ações do Ministério do
Trabalho e comentários da imprensa, o resultado não deve ter sido diferente ou
pior.
Não se pode permitir que estas cadeias de suprimentos
e as relações do comércio internacional, como conhecemos hoje, voltem ao
“normal” após a pandemia, embora muitos estejam defendendo isto, usando o
Estado para fortalecer o sistema capitalista e manter os negócios como sempre
(BAU).
Considerando as ineficiências e disrupções da atual
cadeia de suprimentos da indústria de carnes tem que se pensar num “novo
normal”, com mudanças profundas no setor, talvez privilegiando o mercado local
com mais emprego e melhorias de renda em cada localidade.
Assim sendo, o surto de Covid-19 pode ter sido o marco
de início de uma transição para a produção e
consumo sustentáveis. Embora se reconheça a necessidade desta transição,
a degradação global só faz aumentar, razão pela qual alguns autores oferecem
uma orientação que nos leva a distinguir entre os que defendem a persistência
da insustentabilidade e os que propõem mudanças estruturais, visando sistemas
de produção e consumo sustentáveis.
Diante destas duas visões, não estamos vendo mudanças
radicais no sistema de produção e consumo, mas uma assistência do Estado tentando
resgatar o sistema capitalista. A Covid-19 desmascarou o mito de que as atuais
formas de produção e consumo são as únicas opções. Pode-se refletir que
aspectos do velho “normal” podem ser aproveitados, mas é chegado o tempo de se
criar um “novo normal”.
As destruições da pandemia e as escandalosas fixações
de preços expuseram o perigo das grandes corporações da indústria de carnes. Se
os governantes não se mobilizarem neste momento e exigir uma indústria de
carnes mais democrática e segura, a exploração dos trabalhadores, fazendeiros,
animais e o meio ambiente continuará sendo cada vez pior, principalmente no
Brasil onde o Estado foi e é o grande responsável por isto.
O que se lê na imprensa é que a Big Carne no Brasil
cada vez mais ganha poder e privilégios nas várias esferas governamentais,
podendo até modificar a reforma tributária para impor mais impostos à sociedade,
beneficiando a bancada ruralista com a enganação de que os que estiveram na fila
do osso, agora podem comer picanha.
O governo e boa parte da classe política rejeitaram uma
transição pós-pandêmica na indústria de carnes e o resultado será catastrófico.
Depois do que se passou, desprezar a sociedade e os rumos de uma economia
sustentável será outro desastre pior.
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