Turistificação e Gentrificação Tornam João Pessoa Inabitável

 

Fonte: You Tube                                                                                                                                            

A turistificação e gentrificação em João Pessoa estão tornando-a uma cidade inabitável, diante de políticas públicas de nossos dirigentes, que priorizam o direito para viajar sobre o direito de viver, estabelecido pela turistificação, com efeitos desastrosos para todas gerações.

A turistificação é definida como o processo de transformação de um lugar num espaço eminentemente turístico e seus efeitos implicam na busca de um ambiente favorável do turismo em detrimento da população local, que perde o direito de viver na cidade, ou seja, é uma adaptação do ambiente ao visitante.

A literatura mostra que algumas das implicações sociais da intensificação do turismo estão relacionadas às que ocorrem com o conhecido fenômeno da gentrificação. Os dois processos, turismo e gentrificação, estão diretamente relacionados e se sobrepõem no tempo e no espaço. Neste caso, para alguns autores a turistificação é um processo complementar ao da gentrificação e, em ambos os casos, ocorre uma mudança residencial.

Na gentrificação, moradores de classe socioeconômica mais baixa são substituídos por uma população com maior poder aquisitivo. Ao empurrar as classes de renda mais baixa para áreas mais pobres e longínquas, os dirigentes municipais nem sempre proporcionam políticas públicas para beneficiar os menos favorecidos.

Este processo de gentrificação já é visto na Europa como uma forma de capitalismo perverso ou novo modelo de colonialismo, quando moradores de classe socioeconômica mais baixa são substituídos por uma população com maior poder aquisitivo. Isto vem sendo identificado e analisado há décadas, sendo um fenômeno que continua a surgir em diversos contextos, principalmente em cidades da Europa, mas chegou em João Pessoa com força.

Por outro lado, na turistificação a comunidade local é deslocada por visitantes de curta duração e alta rotatividade, que também possuem maior poder aquisitivo, ou seja, turistas. Essa substituição populacional é denominada pelos acadêmicos como “gentrificação turística”, aludindo à transformação do bairro para se adaptar às necessidades dos visitantes e à consequente proliferação de instalações de entretenimento relacionadas ao turismo.

Pesquisas acadêmicas precisam ser realizadas em João Pessoa de forma intensa para mostrar os impactos da turistificação e gentrificação na cidade, principalmente em termos de impactos ambientais, impactos comerciais, cultural, investimentos e políticas públicas, transportes públicos, consumo e até a gourmetização da culinária e restaurantes da cidade.

No tocante aos impactos ambientais,  João Pessoa vem sofrendo com isto, desde há muito tempo, com a conivência do poder público, apesar das críticas de cientistas, ambientalistas e parte da sociedade civil. O Cabo Branco, ponto extremo oriental das Américas, em João Pessoa, foi vítima de uma irresponsabilidade ambiental com a construção da chamada estação ciência.

Recentemente, o atual prefeito, Cícero Lucena, empresário da construção civil, tentou “arruinar a orla da capital”, propondo um projeto desastroso de alargamento das praias. Depois de uma forte pressão popular, protestos e mobilizações da população de João Pessoa, incluindo ações do Ministério Público, o projeto foi suspenso.

Há poucos dias, lei municipal de João Pessoa, que contraria a Constituição do Estado da Paraíba, que limita altura de edificações na orla marítima, começou sendo julgada pelo Tribunal de Justiça da Paraíba. Embora o julgamento tenha sido suspenso, a maioria dos desembargadores já votaram pela inconstitucionalidade da lei municipal, dando uma resposta à ganância do mercado imobiliário e aos interesses de dirigentes municipais.

Um dos pontos que merecem mais atenção neste processo de gentrificação em João Pessoa é a comparação comercial dos pequenos negócios (minimercados, armazéns, mercearias), que envolve o consumo e o comércio varejista da população local, com outras atividades da  prioridade dada aos turistas. Quando o comércio varejista da população local é substituído pelos interesses dos turistas, o desastre é logo reconhecido.

Neste caso, a chamada “gentrificação comercial” e a “turistificação comercial”, já bastante discutida na literatura, precisam ser estudadas para se saber o quanto a população local e os pequenos negócios do comércio varejista vêm sofrendo com a prioridade dada aos turistas, incluindo custo de vida, negócios ilegais e lavagem de dinheiro.

Ao que parece, cada ano que se passa a população de João Pessoa sofre mais com a falta de transportes públicos. Mantendo a prioridade de investimentos públicos na orla marítima para atender aos turistas, tornar-se evidente não haver nenhum interesse do poder público de transportar a população de baixa renda para áreas privilegiadas.

Com o enfraquecimento do comercio varejista, não há também pressão para transportar a população de baixa renda para lugar nenhum. As reclamações são recorrentes, sendo a população vítima de residir numa cidade inabitável, levando-a a buscar permanentemente uma nova vizinhança, só que cada vez distante de sua cidade original.

Por fim, já foi dito que a gentrificação, as desigualdades sociais e a luta e busca de uma vizinhança ou bairros, por parte da população de baixa renda, levam ao caminho de se matar uma cidade, razão pela qual dirigentes municipais, responsáveis por isto, devem ser severamente punidos nas urnas pelos eleitores.   

 

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