Turistificação e Gentrificação Tornam João Pessoa Inabitável
A
turistificação e gentrificação em João Pessoa estão tornando-a uma cidade
inabitável, diante de políticas públicas de nossos dirigentes, que priorizam o
direito para viajar sobre o direito de viver, estabelecido pela turistificação, com efeitos desastrosos para todas gerações.
A
turistificação é definida como o processo de transformação de um lugar num
espaço eminentemente turístico e seus efeitos implicam na busca de um ambiente
favorável do turismo em detrimento da população local, que perde o direito de
viver na cidade, ou seja, é uma adaptação do ambiente ao visitante.
A
literatura mostra que algumas das implicações sociais da intensificação do
turismo estão relacionadas às que ocorrem com o conhecido fenômeno da
gentrificação. Os dois processos, turismo e gentrificação, estão diretamente
relacionados e se sobrepõem no tempo e no espaço. Neste caso, para alguns
autores a turistificação é um processo complementar ao da gentrificação e, em
ambos os casos, ocorre uma mudança residencial.
Na
gentrificação, moradores de classe socioeconômica mais baixa são substituídos
por uma população com maior poder aquisitivo. Ao empurrar as classes de renda mais baixa
para áreas mais pobres e longínquas, os dirigentes municipais nem sempre
proporcionam políticas públicas para beneficiar os menos favorecidos. 
Este
processo de gentrificação já é visto na Europa como uma forma de capitalismo
perverso ou novo modelo de colonialismo, quando moradores de classe
socioeconômica mais baixa são substituídos por uma população com maior poder
aquisitivo. Isto vem sendo identificado e analisado há décadas, sendo um fenômeno
que continua a surgir em diversos contextos, principalmente em cidades da
Europa, mas chegou em João Pessoa com força.
Por outro
lado, na turistificação a comunidade local é deslocada por visitantes de curta
duração e alta rotatividade, que também possuem maior poder aquisitivo, ou
seja, turistas. Essa substituição populacional é denominada pelos acadêmicos
como “gentrificação turística”, aludindo à transformação do bairro para se
adaptar às necessidades dos visitantes e à consequente proliferação de
instalações de entretenimento relacionadas ao turismo.
Pesquisas
acadêmicas precisam ser realizadas em João Pessoa de forma intensa para mostrar
os impactos da turistificação e gentrificação na cidade, principalmente em
termos de impactos ambientais, impactos comerciais, cultural, investimentos e
políticas públicas, transportes públicos, consumo e até a gourmetização da
culinária e restaurantes da cidade. 
No tocante aos
impactos ambientais,  João Pessoa vem
sofrendo com isto, desde há muito tempo, com a conivência do poder público,
apesar das críticas de cientistas, ambientalistas e parte da sociedade civil. O
Cabo Branco, ponto extremo oriental das Américas, em João Pessoa, foi vítima de
uma irresponsabilidade ambiental com a construção da chamada estação ciência. 
Recentemente,
o atual prefeito, Cícero Lucena, empresário da construção civil, tentou “arruinar
a orla da capital”, propondo um projeto desastroso de alargamento das praias.
Depois de uma forte pressão popular, protestos e mobilizações da população de
João Pessoa, incluindo ações do Ministério Público, o projeto foi suspenso.
Há poucos
dias, lei municipal de João Pessoa, que contraria a Constituição do Estado da
Paraíba, que limita altura de edificações na orla marítima, começou sendo
julgada pelo Tribunal de Justiça da Paraíba. Embora o julgamento tenha sido
suspenso, a maioria dos desembargadores já votaram pela inconstitucionalidade da lei municipal, dando uma resposta à ganância do mercado imobiliário e aos
interesses de dirigentes municipais. 
Um dos
pontos que merecem mais atenção neste processo de gentrificação em João Pessoa
é a comparação comercial dos pequenos negócios (minimercados, armazéns,
mercearias), que envolve o consumo e o comércio varejista da população local, com
outras atividades da  prioridade dada aos
turistas. Quando o comércio varejista da população local é substituído pelos
interesses dos turistas, o desastre é logo reconhecido. 
Neste caso,
a chamada “gentrificação comercial” e a “turistificação comercial”, já bastante
discutida na literatura, precisam ser estudadas para se saber o quanto a
população local e os pequenos negócios do comércio varejista vêm sofrendo com a
prioridade dada aos turistas, incluindo custo de vida, negócios ilegais e
lavagem de dinheiro.
Ao que
parece, cada ano que se passa a população de João Pessoa sofre mais com a falta
de transportes públicos. Mantendo a prioridade de investimentos públicos na
orla marítima para atender aos turistas, tornar-se evidente não haver nenhum
interesse do poder público de transportar a população de baixa renda para áreas
privilegiadas.
Com o
enfraquecimento do comercio varejista, não há também pressão para transportar a
população de baixa renda para lugar nenhum. As reclamações são recorrentes,
sendo a população vítima de residir numa cidade inabitável, levando-a a buscar
permanentemente uma nova vizinhança, só que cada vez distante de sua cidade
original.
Por fim, já
foi dito que a gentrificação, as desigualdades sociais
e a luta e busca de uma vizinhança ou bairros, por parte da população de baixa renda, levam ao caminho de se matar uma cidade, razão pela qual dirigentes
municipais, responsáveis por isto, devem ser severamente punidos nas urnas
pelos eleitores.   

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