Câncer, Alimentos Ultraprocessados e Agrotóxicos no Brasil
Agora em
novembro, no Dia Nacional do Câncer, um estudo de câncer colorretal no Brasil,
denominado de “O desafio invisível do diagnóstico”, da Fundação do Câncer,
revelou um dado assustador, ou seja, mais de 60% (sessenta por cento) dos casos
registrados em hospitais públicos e privados foram diagnosticados em estágios
avançados da doença.
Há poucos
dias a Revista Lancet tratou, também, das ameaças dos alimentos
ultraprocessados e seus aditivos cancerígenos. Feitos com ingredientes
industriais baratos, os alimentos ultraprocessados representam mais de 50%
(cinquenta por cento) das calorias consumidas nos Estados Unidos e Reino Unido,
sendo que o consumo está aumentando em países de baixa renda como o Brasil e
outros da América Latina.
Foi
relatado, ainda, a relação dos alimentos ultraprocessados e o câncer
colorretal, principalmente entre mulheres.
São vários os alimentos classificados como ultraprocessados –
refrigerantes, salgadinhos, biscoitos recheados, pães e produtos de
panificação, macarrão instantâneo, barras de proteínas, sorvetes, margarina, carnes
processadas como as salsichas, pizza, nuggets e muitos outros.
Pesquisas
realizadas no Brasil pelo INCA(Instituto do Câncer) e Fiocruz já vem
demonstrando isto, mas devido ao
assustador aumento de câncer colorretal, outras pesquisas precisam ser
realizadas no país para analisar a relação do uso de agrotóxicos e outros tipos
de câncer.
Sabe-se que
tanto as mulheres como os seus filhos podem sofrer graves efeitos de saúde a
longo prazo resultantes do consumo de agrotóxicos. Estudos recentes realizados
no Brasil e no exterior demonstraram que a exposição a estes produtos químicos
pode ter efeitos transgeracionais, o que significa que resultados adversos para
a saúde podem ser transmitidos através de múltiplas gerações.
Neste caso,
não só os alimentos ultraprocessados, mas os alimentos em geral que estamos
consumindo e a água que bebemos podem ser afetados pelos agrotóxicos, razão
pela qual um imposto deve ser pago pelas corporações destinado à pesquisa sobre
o que estamos consumindo.
Os canceres
mais letais são os de pulmão, que registrou mais de dois milhões de óbitos em
2023 e o colorretal, com mais de um milhão de óbitos no mesmo ano. Em seguida,
vem os de estomago, mama e esôfago. O câncer de próstata no Brasil vem também
crescendo muito.
Afirma-se
que mais de 40% destes tipos de canceres podem ser evitados, desde que as
desigualdades sociais sejam reduzidas e a políticas públicas sejam direcionadas
para as áreas de saúde e sistemas alimentares e nutrição. No caso de alimentos
ultraprocessados tem-se que considerar ainda os casos de obesidade e diabetes.
A
comunidade científica vem propondo estratégias de mudanças para enfrentar estes
problemas, mas ela sozinha não tem como enfrentar o poder de corporações
poderosas, a exemplo da indústria de ultraprocessados, uma das mais lucrativas
do mundo, que tem seus lobbys para influenciar governos e até financiar
pesquisas para desacreditar a verdadeira comunidade científica.
No Brasil,
governos de esquerda e direita sempre beneficiaram estas corporações em
detrimento de boas políticas públicas. Vimos o fracasso do Brasil na COP30, com
o governo propondo explorar petróleo na Foz do Amazonas e os lobistas da
agricultura se omitindo em falar do metano, segundo maior poluidor, oriundo dos
pums e arrotos de vacas e bois.
O Congresso
Nacional esta semana demonstrou ser mesmo inimigo do povo, enfrentado o governo
e a comunidade científica, ao derrubar uma série de vetos do Presidente Lula,
que visavam uma melhoria do processo de licenciamento ambiental.
Diante
disto, só a sociedade civil organizada poderá enfrentar as grandes corporações
e a classe política que, com suas políticas do mal no Brasil nos últimos anos,
pavimentaram o caminho da morte de muitos.. Nossas escolhas de bem-estar não
são as deles e precisamos nos organizar urgentemente para enfrentar o mal.
Se as
mulheres são severamente castigadas com o maior índice de câncer no mundo –
câncer de mama – parece serem também castigadas com o maior índice do câncer
colorretal, por conta do consumo de alimentos ultraprocessados, que estão
associados a pólipos colorretais em mulheres com menos de 50 anos.
Temos que criar
e fortalecer uma consciência da vida humana diferentemente de uma consciência dominante
de escravidão, que nos oprime, explora e mata.
Co-autoria:
Susanna Gouveia Rodrigues, mestranda em População e Medicina, na Universidade de Guelph, Canada.

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