Consumidores e a Falta de Informações dos Sistemas Alimentares











Fonte: FSP-USP

Diante da desconexão entre sustentabilidade e segurança alimentar na agricultura, nós, brasileiros, somos clientes e consumidores carentes  e punidos pela falta de informações básicas dos sistemas alimentares, que nos levam a não confiar nas mãos que nos alimentam. Já foi dito que um sistema alimentar que não assegura segurança alimentar e nutricional não pode ser chamado de sustentável.

Um exemplo dos riscos de nosso sistema alimentar foi exposto esta semana pela imprensa, mostrando problemas da merenda escolar nos últimos três governos federais, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Segundo uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), o setor da merenda escolar enfrenta problemas da falta de gestão, alimentos vencidos, superfaturamentos e qualidade na merenda de nossas crianças. 

A falta de dados e informações, de forma compreensiva, impede nossa habilidade de compreender de forma holística as dinâmicas e complexidade dos sistemas alimentares. Por esta razão, alguns autores já chegaram a afirmar que nossas fábricas de alimentos são lugares de “manipulações obscuras”. No caso do Brasil, a agroindústria demorou muito a fornecer um mínimo de informações de seus produtos aos consumidores, as quais são ainda incompletas e falhas.

O conceito de sistema alimentar está passando por uma rápida evolução de significado.  Antes, focava basicamente na necessidade de alimentar populações crescentes, limitando-se à produção, distribuição e consumo. Mais recentemente, um conceito mais holístico de sistema alimentar ganha força entre pesquisadores e tomadores de decisão.

De acordo com o Painel Global de Agricultura e Sistema Alimentar para Nutrição (Global Panel on Agriculture and Food System for Nutrition – 2016), esta nova perspectiva integra todos os elementos (meio ambiente, pessoas, inputs,  processos, infraestrutura, instituições, etc.) e  atividades relacionadas com a produção, distribuição, preparação e consumo de alimentos, incluindo os resultados socioeconômicos e ambientais.

Com uma interpretação ampliada dos sistemas alimentares, especialistas de diversas disciplinas e tradições intelectuais estão cada vez mais interessados nas questões relacionadas com a natureza e origem da insustentabilidade de nossos modernos sistema alimentares, que resistem à transição para a produção e consumo sustentáveis.

Apesar de toda mecanização da agricultura e modernas ferramentas de tecnologias de informação, os dados atualmente existentes e disponíveis nos sistemas alimentares tendem a ser fragmentados e incompletos.

Aliás, o setor agrícola do Brasil não é bem-visto no mundo em termos de segurança alimentar, merecendo uma intensificação da rastreabilidade da produção, certificação e outras informações não existentes em nossos produtos. Com o chamado Green Deal no mercado europeu, produtos contaminados com agrotóxicos e oriundos da Amazônia, dificilmente entrarão na Europa.

Há poucos meses, o Congresso Nacional aprovou a lei do veneno, permitindo que agrotóxicos proibidos em outros países sejam usados no Brasil. Pesquisas já realizadas no Brasil e exterior vem mostrando os danos do uso intenso de agrotóxicos no Brasil, dando origem a casos de câncer, abortos espontâneos e malformação fetal. As mulheres estão sendo castigadas de forma nunca visto na história brasileira.

Assim sendo, há uma necessidade urgente de se avançar em pesquisas destinadas a analisar as implicações e desafios do envenenamento da sociedade com agrotóxicos, até para se tentar recuperar a confiança da mão que nos alimenta, hoje criminosa. Os consumidores precisam que as empresas da cadeia de suprimentos da agroindústria e do comércio ponham nas etiquetas de seus produtos informações sobre agrotóxicos.

Num mercado competitivo, as responsabilidades integradas em termos sociais, econômicas e ambientais tornam-se um pré-requisito para um bom empreendedorismo no setor de alimentos. Com a integração de sistemas computacionais e melhoria das informações é possível proporcionar soluções para se medir e avaliar a sustentabilidade de produtos ao longo da cadeia de suprimentos.

A informação adquirida das características do produto pode ser usada pelas empresas como práticas sustentáveis para clientes e consumidores nas cadeias de suprimentos, satisfazendo as necessidades de informações dos consumidores. Num momento de grandes preocupações com as questões sanitárias, o setor da agroindústria deve se preocupar cada vez mais com a segurança alimentar visando atender às exigências dos mercados e consumidores.

A literatura vem mostrando as inseguranças dos alimentos, o medo e pânico universal, que podem ser atenuados através de infraestruturas de informação e da digitalização visando recuperar a confiança de todos.  O setor é carente de pesquisas com foco informacional nas áreas de logística, rastreabilidade, segurança alimentar e qualidade dos alimentos. 



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