Agronegócio Insustentável Mostra as Toxidades do Agro Pop
A insustentabilidade do agronegócio no Brasil ficou
bem evidenciada depois que entidades do setor publicaram um manifesto
defendendo a democracia e fazendo “um chamamento para colocar os adultos na
sala” para discutir a crise política. Isto deveria ter sido feito há muitos
anos, num setor responsável pela concentração de terras, de frigoríficos, insegurança
alimentar, escravidão e vários outros indicadores que impedem a soberania do nosso sistema alimentar e uma política de desenvolvimento de um mercado
doméstico, com sistemas de distribuição localizados e cadeias de distribuição
transparentes.
Com base no manifesto e declarações do Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), senhor Marcelo Brito, que diz não falar pelo agronegócio, chegou a hora de separar o joio do trigo no agronegócio. Fora a ABAG, poucas entidades participaram do manifesto. São empresas mais ligadas ao setor da agroindústria e que tem dado sinais de preocupações com a inovação e sustentabilidade. Sempre mostramos neste blog que a agroindústria é um dos setores do agronegócio insustentável que pode avançar em termos de uma indústria moderna, inovadora e sustentável, mas nada adianta se os demais setores percorrem o caminho de um agronegócio insustentável.
O presidente da ABAG, Marcelo Brito, reconhece que “o Brasil vem sendo cobrado internacionalmente pela falta de compromisso com a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade” e contraria os argumentos do presidente Bolsonaro ao afirmar que o “agro não precisa de terra indígena para crescer”. Disse ainda “Eu não vi nenhum estudo sério mostrando isso”.
O parágrafo acima merece uma reflexão no contexto atual, que nos leva a parábola bíblica do joio e trigo. De um lado, observa-se o agronegócio insustentável e de elevadas toxidades, promovido principalmente pela banda ruralista, que impede a paz no campo, sustentabilidade e a segurança alimentar do país, entre outros, mantendo o colonialismo, escravidão e desigualdades sociais. São estes ruralistas, que agem como os senhores de engenho do passado, defendendo o marco temporal das terras indígenas, considerando como terra indígena apenas a que era ocupada no ano da promulgação da Constituição de 1988. Não consideram que os índios foram antes expulsos de suas terras, sofrendo topo tipo de atrocidades e chacinas praticado por colonizadores cruéis. A violência histórica deste país está no campo.
Do outro lado, podemos observar um dos setores do agronegócio, como o da agroindústria, falando de um agronegócio que o país precisa e, possivelmente, de uma democracia erguida em cima do bem-estar social, da participação e da inclusão. Muitos dos que estão falando de defesa da democracia, estão defendendo nada mais do que uma submissão cúmplice aos interesses econômicos. Estes grupos deveriam estar envergonhados e os políticos, já vistos como mercenários subservientes, devem ser constantemente listados.
É lamentável que alguns políticos e até pesquisadores utilizem métricas tão inadequadas para analisar o agronegócio insustentável no Brasil, considerando apenas o grande volume de exportações, sem encarar os pontos de toxidades do chamado agro pop. Algumas organizações do agronegócio insustentável divulgam publicidades falsas tentando mostrar que são socialmente responsáveis e praticam a sustentabilidade, a exemplo do agro pop. O agro não é pop. O agro já é visto como tóxico. Muitos alegam que o Brasil alimenta o mundo. Isto não é verdade, como já foi dito, e não existe nenhum mérito nesta afirmação, até porque boa parte de nossa produção de alimentos é usada para ração de bichos.
Já vem sendo denunciado que as grandes cadeias de suprimento de carnes, por exemplo, são uma grande ameaça à saúde pública, como se evidenciou com o surgimento da Covid-19. Isto já tinha acontecido no passado com a gripe suína e a doença da vaca louca, que acaba de surgir no Brasil. Provavelmente veremos isto no futuro com outras doenças e a resistência a bactérias, diante do uso excessivo de antibióticos. Mas não é só isto. Outras ameaças a estas cadeias de suprimento estão surgindo, a partir do desmatamento da Amazônia. Alguns já estão prevendo que a crise energética no setor será pior do que a crise da Covid-19.
Para enfrentar as toxidades do agronegócio insustentável no Brasil e o desmatamento da Amazônia, a comunidade internacional está elaborando leis para serem usadas contra as cadeias de suprimento que não protegerem as florestas e as pessoas. Neste sentido, o desmatamento deve ser combatido e o os direitos das populações indígenas protegidos. No mínimo, devem surgir leis regulando a importação de produtos agrícolas exigindo que as empresas assegurem que seus produtos não estão associados com atos de violência, intimidação da população indígena e abuso de seus direitos e uso de suas terras.
É lamentável que no Brasil tenhamos a maior corporação do mundo em distribuição de carnes, JBS, que, junto de outras como Marfrig, Global Foods SA e Minerva sejam apontadas como tendo em suas cadeias de suprimento a marca do trabalho escravo. Empresas financiadas pelo dinheiro público deveriam dar um bom exemplo de responsabilidade social e de proteção dos direitos humanos. Falar em alimentar o mundo, sem alimentar a população de seu país e ainda usá-la em trabalho escravo é uma ação criminosa.
No dia de hoje, dia da Amazônia, vamos nos unir aos que estão condenando os fundamentos do marco temporal das terras indígenas e esperamos que a lista de empresas defensoras do real e verdadeiro agronegócio do país, com responsabilidade social e ações sustentáveis venha aumentar, ampliando nossa democracia e um futuro melhor.
Comentários
ig.moura@unesp.br
Muito obrigada pela sua atenção, aguardo contato caso haja interesse!