Agronegócios e Escravidão – Resistências ao Discurso de Sustentabilidade
As pesquisas estão mostrando que a escravidão
no Brasil atrasou o processo de industrialização, mas é preciso mostrar o que
está acontecendo com o agronegócio brasileiro que, ao invés de acelerar a
industrialização e desenvolvimento sustentável, fortaleceu uma base agrícola de
dois blocos: um bloco elitista e conservador nas mãos de poucos, detentores de
todos os privilégios, em detrimento do bloco de produtores marginalizados do
progresso, incapazes de prosperar e gerar renda. Como resultado, tem-se o enriquecimento
cada vez maior de uma pequena elite, aumentando as desigualdades e encarecendo
os alimentos no país. Esta divisão se mostra alarmante quando se percebe que
pouco mais de dez por dos estabelecimentos rurais são responsáveis por quase
noventa por cento da produção agropecuária.
Assim sendo, temos o bloco de acumulação de
riquezas e outro com muitos estabelecimentos de baixa produtividade e produção,
que se convencionou chamar de socialização da pobreza da agricultura familiar.
A falta de uma reforma agrária levou o setor agropecuário a uma modernização
conservadora perversa, reprodutora de desigualdades, escravidão, culminando com
estes dois blocos antagônicos, que impedem a industrialização do país.
Considerando que o agronegócio envolve uma cadeia de diferentes atividades,
incluindo a agroindústria, é preciso estudar mais profundamente este setor,
cujas atividades podem estar dimensionadas no setor industrial. Acredita-se que
com o avanço das tecnologias e mercado, seja possível encarar a
sustentabilidade no setor da agroindústria, embora não exista provas sobre
isto.
O setor do agronegócio brasileiro tenta usar o seu
discurso de sustentabilidade e marketing sustentável, mas o que se observa é
que a medida que aumentam as pesquisas em várias áreas, a péssima reputação das
empresas e degradação ambiental tornam-se evidentes. Além desta desigualdade
gritante do setor, estamos acompanhando a expansão de agrotóxicos, queimadas e
degradação ambiental no Brasil, mostrando que é impossível o setor agropecuário
brasileiro atender aos pilares básicos da sustentabilidade, ou seja, a
sustentabilidade social e ambiental. Pior do que isto, ainda se tem registros
de milhares de trabalhadores sendo submetido à escravidão e trabalho forçado.
A noção de sustentabilidade corporativa está
surgindo, tentando conectar os três pilares de desenvolvimento sustentável –
econômico, social e ambiental, embora se perceba a falta de integração de
sustentabilidade na governança corporativa, que vai exigir muitos esforços. Do
ponto de vista teórico esta integração vem sendo discutida, mas do ponto de
vista prático este objetivo não foi ainda realizado. O grande problema com a
sustentabilidade corporativa é o seu enfoque estreito e simplista, formulado em
torno de uma sustentabilidade fraca, que significa a continuação de se ganhar
dinheiro mantendo os negócios como sempre. Neste sentido, tenta-se reforçar uma
poderosa metáfora de sustentabilidade, na suposição de que estas corporações
estão agindo dentro dos princípios de sustentabilidade. Não é verdade, mas a
metáfora é usada rotineiramente no discurso do agronegócio. Estudo em grandes
empresas brasileiras evidenciou que elas não usam a sustentabilidade e nem
estão interessadas em usá-la, mas enganosamente usam a metáfora de
sustentabilidade fraca.
Neste sentido, nestas empresas a ambiguidade
estratégica de sustentabilidade é de tal forma que o termo sustentabilidade não
tem nenhum sentido, além de assegurar boa lucratividade. Por fim,
sustentabilidade não se apresenta como um dilema ou problema para estas
empresas, uma vez que, na visão delas, já alcançaram a sustentabilidade. Felizmente,
algumas empresas no mundo já estão se enquadrando em enfoques que permitem um
futuro sustentável, fugindo da visão puramente econômica. Para se discutir
sustentabilidade no setor do agronegócio é necessário mudanças profundas e
inovações, a partir de políticas que busquem uma integração de todas suas
atividades com outros setores da economia.
Por fim,
no atual modelo de agronegócio, a agricultura familiar e a reforma agrária não
são contempladas e a terra é apropriada para produzir e exportar, visando
acumulação de capital e desigualdades. Como já foi dito, enquanto não se
resolver problemas relacionados com a barbárie do capital financeiro na
agricultura, a violência no campo, a expropriação e a reforma agrária não se
pode pensar em sustentabilidade de agronegócio no Brasil.
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