Boicotes num Ambiente Hostil à Natureza, Saúde e à Democracia – Inacreditável Acontecendo
Diante do que vem acontecendo com a destruição do nosso país, a sociedade brasileira tem que pensar no boicote como uma ferramenta de defesa. O inimaginável vem acontecendo nos Estados Unidos nos últimos dias, quando corporações ameaçam boicotar as políticas da extrema direita nos Estados governados pelo Partido Republicano, que tenta implementar legislações visando reduzir a participação dos negros nas próximas eleições. Para o Brennan Center for Justice, da Escola de Direito da Universidade de Nova York, os efeitos destas legislações são os de reduzir o acesso às urnas de eleitores negros.
Para a imprensa americana, os legisladores
republicanos estão dando uma resposta às afirmações falsas de Trump de que ele
perdeu as eleições por conta de fraudes em áreas que votaram em peso contra
ele. Limitar ou dificultar os votos dos negros nestas áreas é inaceitável,
razão pela qual em vários Estados como Texas, Georgia e Iowa, corporações como
Coca-Coca, Delta Airlines, Microsoft e dezenas de outras estão desconfiadas
deste enfoque e dispostas a se unirem às centrais sindicais para boicotes. Mesmo
tendo seus interesses, não é comum o registro de corporações se unirem a
centrais sindicais em defesa da democracia, pedindo o voto livre.
Infelizmente no Brasil estamos vivenciando o
contrário. Temos um governo destruindo a natureza, a vida, a democracia, a
ciência, a educação e o sistema de saúde, entre outros, com o apoio da maioria
dos empresários e da classe política e tudo acontecendo como se estivéssemos na
normalidade. A sociedade não conta com seus representantes e só a cada quatro
anos tem o poder de voto. Contudo, temos como enfrentar a qualquer momento
todos os que estão ajudando a destruir o país e seu povo. Temos outra forma
muito forte de votar, que é o boicote - voto da carteira. A força do boicote já
é estudada nas ciências políticas e sociologia e exemplificada no mundo
inteiro. No momento a sociedade brasileira tem que se articular para usá-lo contra as empresas. Muitas delas temem o voto da carteira, quando começam a
perceber a queda de suas vendas. Elas podem nos levar à fome, mas nós podemos levá-las
a falência.
No momento, quando o negacionismo e a
negligência nos leva a 400 mil mortes e mais de três mil mortes por dia nesta
Pandemia, salvar vidas deve ser a prioridade número um. Temos um presidente já
denunciado no Brasil e por organismos internacionais por crimes contra a
humanidade, mas apoiado por nossos empresários e a classe política, que vem
engavetando quase cem pedidos de impeachment. À classe política, só poderemos
dar uma resposta nas próximas eleições, mas aos empresários e suas empresas já
se pode começar boicotes. Os órgãos representantes da sociedade, da natureza e
meio ambiente, as igrejas, os sindicatos, centros estudantis, entidades
médicas, jurídicas, da imprensa, de professores, representantes dos
consumidores e os próprios consumidores devem urgentemente se articularem para
o voto da carteira.
Além das mortes humanas, a sociedade brasileira
ainda não se deu conta da morte da natureza, de gravidade incalculável para as
gerações do presente e futuras. Os campos de conhecimento da filosofia,
psicologia, sociologia, ciência política, ecologia e teoria crítica estão
oferecendo caminhos para o conceito de natureza, que nos leva a uma mudança do
conceito de meio ambiente para natureza. É importante compreender o interesse
atual e mudança do conceito de natureza como sendo estático e um recurso
disponível - meio ambiente – para Natureza viva, tendo valor, significado e
agência. Assim sendo, a natureza é uma realidade e um construto mental, sendo a
cultura industrial de nossos tempos explorá-la e destruí-la.
O enfoque do agronegócio no Brasil não se
diferencia daquele da antiga Mesopotâmia, há mais de mil anos atrás, que trouxe
avanços na agricultura às custas de desmatamentos e a desertificação ambiental
da região. Hoje, o que foi áreas férteis e de florestas da Mesopotâmia não
passam de desertos estéreis. Argumenta-se que os atuais conflitos na região
tiveram sua origem na desertificação ambiental e nas subsequentes batalhas por
água. No atual governo, apoiado pelo agronegócio, deu para perceber a sede
deste setor na devastação de nossas florestas e na contaminação humana através
do aumento acelerado do uso de agrotóxicos. Assim sendo, torna-se necessário
cada vez mais uma reflexão das atividades do agronegócio no Brasil e das
cadeias de suprimentos dele originadas.
Por fim, não se pode esquecer e conclamar a
participação da minoria de empresários brasileiros que se opõem à catástrofe
que estamos vivenciando. De forma articulada e planejada temos que defender a nossa
democracia, a vida e a natureza com as armas de que dispomos. O boicote - voto
da carteira - é uma delas e precisamos usá-lo urgentemente.
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