Educação para a Sustentabilidade no Brasil: Barreiras, Desafios e Retrocesso
Educação para a Sustentabilidade é um dos assuntos
bastante discutidos nos dias de hoje, principalmente por pesquisadores
europeus. Se antes se tinha bastante barreiras e desafios para se estudar ou
implementar a Educação para a Sustentabilidade nas Instituições de Ensino
Superior (IES) do Brasil, no atual governo o que se observa é um deplorável
retrocesso acadêmico. Na área de educação, o obscurantismo no Ministério da
Educação é de uma violência brutal, inaceitável em qualquer sociedade
democrática e civilizada. Recentemente cientistas americanos denunciaram que os
Estados Unidos vão levar mais de dez anos para recuperar os danos causados pelo
governo Trump na área acadêmica, especialmente na área das ciências ambientais,
onde vários grupos de pesquisa foram eliminados. No Brasil a destruição é pior,
pois atinge quase todos os órgãos de educação do país, diante do doentio viés
ideológico do governo.
O conceito de sustentabilidade vem de longe, formado
no contexto das florestas em séculos passados, com a noção de cuidado e
responsabilidade com a natureza e entidades sociais. Naturalmente as
sociedades, valores e o conhecimento evoluíram até se chegar à definição de
desenvolvimento sustentável dos dias de hoje. Neste contexto, instituições
políticas globais chamam a atenção e pedem ações para o Desenvolvimento
Sustentável, incluindo a Educação para a Sustentabilidade. Mas foi a partir de
2015, com os 17 objetivos de Desenvolvimento Sustentável adotados pela ONU
(Organizações das Nações Unidas) que se enfatizou a relevância e urgência de
transformação em direção a uma visão integrada do planeta, pessoas e
prosperidade. A definição de sustentabilidade já mencionava as principais
dimensões de sustentabilidade (social, ambiental e econômica), mas em 2015 se
enfatizou um esquema para enfrentar desafios globais tais como fome, pobreza,
desigualdade de gênero, destruição de recursos naturais, mudanças climáticas,
ou seja, o alcance de uma transformação da sociedade. A partir daí muitas
universidades em todo o mundo vem intensificando esforços para incorporar a
Educação nas medidas de Desenvolvimento Sustentável.
O período de 2005 a 2014 foi proclamado como a “Década
Mundial de Educação para o Desenvolvimento Sustentável”. Neste período,
reitores de universidades alemãs, por exemplo, assumiram compromissos com o
desenvolvimento sustentável e adotaram a definição de sustentabilidade da
Assembleia da ONU: a presente geração deve atender suas necessidades sem
comprometer a habilidade de gerações futuras atenderem suas necessidades.
Assim, a sustentabilidade compreende equidade, justiça global na distribuição e
desenvolvimento de recursos, afluência e qualidade de vida, bem como um foco
nos mais pobres do mundo. Considerando que a definição de sustentabilidade
envolve as dimensões acima citadas é preciso reconhecer o tremendo debate e
controvérsia em torno de tópicos relacionados com a “sustentabilidade”,
“educação ambiental” e “educação para a sustentabilidade”. Diferentes
perspectivas existem e são significantes, embora não devam ser vistas como
obstáculos.
Não só no Brasil, mas no mundo inteiro, tem se
enfatizado a educação ambiental e negligenciado a dimensão social nos estudos
de sustentabilidade. Algumas universidades brasileiras tem tido destaque nesta
área, mas é preciso se avaliar a contribuição destes estudos para a
sustentabilidade, uma vez que muitas vezes estão dissociados das outras
dimensões de sustentabilidade. Tanto a educação ambiental como a economia
ecológica já existiam antes destas novas noções de sustentabilidade, sendo áreas
que só vão enriquecer o campo de conhecimento em sustentabilidade. Portanto, é
necessário que a educação ambiental e a educação para a sustentabilidade devam
trabalhar juntas para refazer e redefinir nosso sistema educacional. A área de
administração é muito carente de uma educação em sustentabilidade e, mais do
que nunca, especialistas da área devem se interessar em avaliar o desempenho de
sustentabilidade em diversas áreas administrativas das empresas, uma vez que o
que importa na formação profissional não é mais a maximização de lucros, mas
ações empresarias voltadas para a melhoria das condições de vida da sociedade e
bem estar coletivo.
Como um forte aliado da ONU, o Brasil já esteve numa
posição de avançar na Educação para a Sustentabilidade. Infelizmente no governo
atual houve um retrocesso e dificilmente não só a Educação para a
Sustentabilidade, mas a educação em geral está passando por um processo de
degradação nunca visto na história, nos campos de ensino e pesquisa. Estamos
diante de tempos sombrios com aqueles que querem a continuação da destruição da
natureza, visando interesses econômicos, a exemplo do Presidente Trump dos
Estados Unidos, que retirou o seu país do Acordo de Paris. Como seguidor de
Trump, o Presidente Bolsonaro vem sendo criticado por suas ações em favor da
destruição da Amazônia. Isto pode ser visto também como um retrocesso na
Educação para a Sustentabilidade no Brasil.
Estamos deixando de seguir os exemplos de países que
estão empenhados com a sustentabilidade, a exemplo da Holanda, pioneira no
mundo por tornar seu setor agrícola sustentável, usando a economia circular. É
também o país do mundo que mais tem avançado na Educação para a
Sustentabilidade. Assim sendo, enquanto a Educação para a Sustentabilidade
avança em outros países, registra-se claramente um retrocesso no Brasil, onde o
ensino e a pesquisa parecem ser orientados para o obscurantismo, mostrando a
falta de compromissos com as gerações futuras.
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