Mulheres na Política e no Combate à Violência e Sofrimento
Fonte: CFEMEA
As recentes
eleições na França e Inglaterra deram uma resposta ao sofrimento e violência
praticados contra a sociedade, principalmente contra as mulheres, que no Brasil
sofrem uma descarada violência política, evitando-se a participação delas na
política, no Judiciário e outras importantes posições de destaque no âmbito
governamental.
O Primeiro-Ministro
da Inglaterra, Keir Starmer, antes de ser eleito, disse que a política se
tornou algo como dividir as pessoas, e não o caminho de encontrar pontos em
comum. Para ele, a política chegou a um ponto tóxico e de divisão, contrariando
o que eles são na Inglaterra em termos de união.
Infelizmente,
estamos vivenciando os mesmos sintomas, com uma política de divisão tóxica. Ao
longo de dezenas de anos a elite política brasileira não fez da política uma
força para bem, mas uma força para o mal, intensificando a violência política e
o sofrimento do povo, principalmente das mulheres e negros.
Acreditamos
que a participação das mulheres na política poderá recuperar o conceito de
política como uma força para o bem comum, muito bem enfatizada na Filosofia por
Hannah Arendt, depois dos horrores da Segunda Guerra Mundial.
Infelizmente,
o conceito que o povo tem de política é de que se trata de uma força para o
mal. É sinônimo de enganação, picaretagem e corrupção. Neste caso, acreditamos
que as mulheres poderão começar o combate à violência política contra elas,
participando urgente e intensivamente da vida política, com a promessa de mudar
o conceito de política como uma força para o bem, numa batalha em favor da
melhoria de qualidade de vida de nosso povo e contra as desigualdades sociais.
É
lamentável a representatividade de candidatas mulheres nas eleições municipais
deste ano nas capitais brasileiras. Isto é um sinal da violência política
praticada contra elas. Não acredito que seja mais possível corrigir isto,
aumentando o número de candidatas em todos os municípios brasileiros.
Contudo, as
mulheres devem reagir a isto de forma intensa, só votando em candidatos a
prefeitos que se comprometam com mudanças drásticas na lei eleitoral, de modo
que seja permitido uma cota de 30% a 40% de mulheres na formação do próximo
Congresso Nacional.
A mesma
cota deve ser exigida para posição de mulheres na cúpula das Cortes de Justiça,
incluindo o Supremo Tribunal Federal, que já deveria ter uma mulher negra como
ministra. Espera-se, também, que o exemplo do atual Primeiro-Ministro da
Inglaterra seja seguido pelo atual governo, indicando pelos menos 40% de
mulheres para os ministérios.
É
inadmissível que o percentual de representatividade das mulheres na política
brasileira seja tão insignificante, quando comparado com países como a Bolívia
e Nicarágua, na América Latina, e vários outros países africanos. Por conta
disto, as mulheres são severamente atacadas, a exemplo da Lei do Estupro,
apresentada de forma teatral no Senado Nacional.
Como falar
em democracia, com tamanha violência política contra as mulheres? As eleições
da Inglaterra e França nos mostraram que nem os conservadores de direita e nem
os liberais de centro trouxeram benefícios para a sociedade. Além disto, o
temor da extrema direita e da antipolítica foi intenso, sendo os partidos de
esquerda vitoriosos.
Foram
eleições que mostraram ao mundo que o Estado tem que proteger o povo, reduzindo
as desigualdades sociais e eliminando o enriquecimento exagerado de meia dúzia
de bilionários. No caso da Inglaterra, o único partido político com
credibilidade de recuperar o Serviço Nacional de Saúde, chamado de NHS, foi o
Labour Party (Partido dos Trabalhadores). Enfim, o sofrimento do povo pesou muito
nas decisões dos eleitores.
Esperamos
que o mundo caminhe para uma redução do sofrimento humano e a política voltada
para o bem com certeza alcançará isto. O sofrimento das mulheres ao longo de
séculos poderá levá-las a provocar mudanças que tanto desejamos, a exemplo do
combate às mudanças climáticas, melhorias na educação e saúde, contemplando o
aborto, moradia e, acima de tudo, confiança na política.
A reação
das mulheres à violência política e a participação delas na política irritam a elite política dominante, ao saber que a luta delas é por democracia, liberdade
e cidadania. Ademais, elas insistem na responsabilização, que não agrada aos acostumados
aos orçamentos secretos e outras imoralidades, a exemplo da ação abominável dos
parlamentares esta semana, anulando os crimes de seus próprios partidos.
Esta
imunidade ao crime pelo Legislativo ou Judiciário não é uma prática da
democracia. A violência política contra as mulheres nos impede de alcançar a
democracia e a luta delas por uma política do bem será a maior revolução deste
século.
Comentários