Injustiça e Sofrimento das Mulheres nas Tramas Eleitorais
Fonte: Sintrajufe
Os estudos sociológicos e de saúde mostram a injustiça
e o sofrimento imposto às mulheres brasileiras, mas isto precisa ser analisado
quando acontece através de tramas eleitorais, a exemplo do debate sobre o aborto, com o propósito de conquistar votos, ferindo brutalmente a dignidade e
direito delas.
Ao comentar sobre os resultados das urnas nas eleições
desta semana, na França, a socióloga, Dominique Méda (Université
Paris-Dauphine) mencionou o terrível sofrimento humano durante os últimos 30
anos, mostrando a importância da pesquisa nas ciências sociais, nem sempre lida
pelos governantes.
Para ela, os resultados das eleições na França não
foram surpresa e um bom governo não funciona sem o contínuo apoio das ciências
sociais, mas os maus governos sempre começam relegando a importância delas. No
caso da França, o sofrimento causado pelo modelo meritocrático republicano provocou
uma mudança drástica na sociedade, “motivada pelo medo, desilusão, exasperação
e preconceitos, forçando cada um a tomar uma posição”.
A velha França de Victor Hugo e Voltaire, entre outros, levou os franceses à uma disputa acirrada, diante do crescimento e chances da extrema direita. Contudo, os franceses seguiram o exemplo das eleições na velha Inglaterra, quando a esquerda derrotou, de forma esmagadora, os conservadores e acreditaram na proposta de centro-esquerda do Partido dos Trabalhadores.
Assim
sendo, os partidos de esquerda na França (socialistas, verdes e comunistas)
derrotaram a extrema direita e poderão formar uma coalizão com os conservadores
para governar o país.
No caso do Brasil, espera-se uma reação contundente das
mulheres nas urnas contra a extrema direita, nas eleições municipais.
Espera-se, ainda, que as perversas tramas eleitorais sobre o aborto abram
caminhos para que nossos sociólogos, juristas, filósofos e todos os cientistas
sociais lancem uma luz sobre este
sentimento de desprezo e abandono e os efeitos destrutivos do desmantelamento
das conquistas e liberdades das mulheres.
Já se sabe sobre o cinismo e hipocrisia do movimento
da extrema direita em favor da vida. Este movimento em favor da vida é uma
propaganda para se obter votos, totalmente desprovida de significado, sem
nenhuma preocupação com as crianças. Isto é, também, o caso nos Estados Unidos,
tão bem mostrado pelas pesquisas.
Como já foi dito, nada de novo nisto, mas apenas mais
uma confirmação do que aqueles que têm prestado atenção já sabem: este é um
movimento notavelmente consistente que considera todas as mulheres como bens
móveis e não quer que elas desfrutem de plena cidadania, ponto final. Na
verdade, isto não é uma reviravolta na história. Isto é uma trama.
A questão não é que todos devam ter um bebê com
segurança. No caso das mulheres, não tratam da questão de que todas as pessoas
merecem autonomia corporal. A extrema direita quer leis que neguem a autonomia
corporal das mulheres, sem nenhuma preocupação com seus bebês. O projeto do
estupro não tem nenhuma preocupação com os bebês. Não é um movimento sobre
bebês. Nunca foi. É sobre controle, tanto aqui como nos Estados Unidos.
O movimento de extrema direita em favor da vida é o
que existe de mais mentiroso na face da terra e o que impõe um dos maiores
sofrimentos às mulheres na história mundial, devendo ser rejeitado por homens e
mulheres de tudo o mundo. Já foi dito, a guerra da direita contra o aborto não
tem nada a ver com bebês.
A cena teatral no Senado Federal foi tão irresponsável
que deixou de mostrar ao público a irresponsabilidade do Estado em oferecer
acesso ao aborto legal, nos casos de estupros ou violência sexual, como se a
culpa fosse das mulheres. Não foi mostrado o sofrimento delas neste e outros
casos.
“Não existe estuprada que, por maldade, vai levar a
gestação até 22 semanas por que quer ver o feto nascer prematuro, sofrer, ir
para a UTI e ficar sequelado. Não existe essa maldade. Não atrasou porque foi
culpa dela. Ela deixou chegar até esse ponto por causa do Estado brasileiro,
que fechou todas as portas”, disse Olímpio Moraes, diretor médico da
Universidade de Pernambuco (UPE).
Por fim, as cenas teatrais deixaram de mostrar o
sofrimento de mães e seus filhos, vindos ao mundo e seres expostos à fome,
falta de assistência médica, educação, alimentos adequados e a morte de
centenas delas nos momentos de desesperos e piores sofrimentos.
Muitas mulheres gostariam de ter uma gravidez desejada
e ter seus bebês, se o Estado lhes proporcionasse as condições de criá-los. O
projeto do estupro não é sobre isto, mas é um projeto que visa o aumento do
sofrimento humano.
Comentários