Aborto, Extrema Direita e a Brutalidade do Estupro
Fonte: Agencia Brasil - EBC
Nunca se pensou que um tema tão complexo como o aborto
chegasse a fazer parte da agenda de políticos oportunistas de extrema direita e
até de juízes machos, a exemplo do que aconteceu recentemente na Suprema Corte americana. Nunca se pensou que mesmo políticos oportunistas fossem tão mansos
com a brutalidade e violência do estupro, em detrimento da dignidade de uma
mulher e até de uma criança indefesa.
A encenação teatral acontecida no Senado Federal, casa
do povo, foi abominável, mostrando a pequenez de ações políticas contrárias à
democracia. Juízes machos e políticos não devem discutir o tema de aborto sem
uma ampla participação das mulheres, que deverão ter prioridade na discussão do
tema, considerando que muitas vezes os políticos votam contra os interesses das
mulheres em matérias de saúde, educação e o bem-estar delas.
Aborto é, acima de tudo, cuidado de saúde. As mulheres
que estão abortando estão tendo os devidos cuidados de saúde, educação e
bem-estar? O aborto está acontecendo após uma decisão da mulher e seu médico?
O aborto sempre foi uma discussão de teólogos e
religiosos, mas nos últimos anos passou a ser discutido por políticos
oportunistas da extrema direita. Nós cristãos, em geral, somos contrários ao
aborto, mas não há ainda uma clareza de seus limites e restrições. Não se pode
discutir uma lei contra o aborto, sem discutir o acesso ao aborto.
O aborto e a desumanização de uma mulher em não
desejar mais a vida de seu filho precisa ser melhor entendida. Vale a pena
lembrar a orientação do cardeal Joseph Razinger aos políticos sobre o direito à
vida, proteção e promoção da família, a liberdade e a construção da paz.
O que estão fazendo os políticos de extrema direita no
momento? Tratando do direito à vida, mas menosprezando a proteção e promoção da
família, a liberdade, saúde etc. Neste caso, são contrários ao aborto, mas
menosprezam as ações sociais básicas em benefício dos mais pobres, das crianças
e das mulheres.
Nestes últimos anos governos de extrema direita, a
exemplo de Trump, nos Estados Unidos, e Bolsonaro, no Brasil, trouxeram
sofrimentos inesquecíveis para a população mais pobre. Negligência completa com
a saúde, a partir da falta de vacinas para idosos e crianças.
Mesmo assim, tanto nos Estados Unidos como aqui, leis
estão sendo aprovadas ou discutidas proibindo as mulheres abortar, mesmo que o
feto seja resultante de uma relação com um tarado estuprador. Mesmo em casos de
incestos, não será mais permitido o aborto.
As mulheres não devem ser criminalizadas em
circunstâncias horríveis como estas e submetidas a uma gravidez
indesejada. Estes absurdos não devem ser
aceitos numa sociedade civilizada.
Assim sendo, o discurso dos guerreiros antiaborto e
defensores da família é um blefe. Este discurso antiaborto da extrema direita é
o de não ter compromissos com os milhões de bebês que nascem num ambiente de
muita dureza e continuam perambulando neste mundo sem a devida assistência.
Falam em mudar as leis de aborto e valores da família,
mas esquecem os bebês que chegam ao mundo sem um programa desenhado para
protegê-los, principalmente os mais pobres vivendo em ruínas e violências
econômicas.
Família para a extrema direita é a presença de um
homem forte e “macho”, uma mulher subordinada e crianças que aprendem como se
lançar na vida, sem dinheiro, oportunidades educacionais e perspectivas de
trabalho no futuro. Existem estudos mostrando que de cada quatro mulheres, as
três que se submetem ao aborto são mulheres de baixa renda, com a maioria
vivendo abaixo da linha de pobreza, mães solteiras que vivem sem ajuda dos pais
das crianças.
Bilionários de extrema direita estão financiando o
plano diabólico antiaborto, exigindo que a justiça o aprove. A campanha começou
nos Estados Unidos e já está atingindo a Europa. A teoria da conspiração por
trás disto é a de que se as mulheres brancas pararem de ter filhos, a
supremacia branca começa a perder poder.
Estes poderosos descarados querem controlar os corpos
e os úteros das mulheres com este projeto racista, sem oferecer nenhuma
contrapartida para os cuidados de crianças. São estes os guerreiros da família
e contra o aborto. Lembrar que no meio deles existem aqueles que, como
divulgado pela imprensa, são acusados de violar o corpo de mulheres,
humilhando-as e gabando-se orgulhosamente de ter alisado as partes íntimas de
seus corpos.
Nós, homens,
vamos nos unir as mulheres, exigindo que qualquer discussão de aborto só seja
feita depois que todas as crianças e mães deste país estiverem devidamente
protegidas com um programa de saúde e educação adequados, sendo prioritária a
participação das mulheres neste debate.
Não vamos embarcar na enganação da extrema direita, de uma campanha
antiaborto perversa e enganosa.
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