Custo Humano do Poder e Ganância dos Produtores de Carne – Assombroso
Fonte: Rel Ruita
O Congresso dos Estados Unidos acaba de
divulgar relatório mostrando que no auge da Covid-19, o lobby da indústria de
carnes, representado por grandes empresas tais como Tyson Foods, Smithfield
Foods, JBS, Cargill e National Beef enganou o governo de Donald Trump e
conseguiu o bloqueio de medidas de saúde pública que poderiam ter salvado
muitas vidas durante a Pandemia.
A enganação foi de que as medidas de restrições
da Covid-19 não deveriam atingi-las, sob pena de desabastecimento de carne no
país. Porém, pelo que foi divulgado, o mercado interno dos Estados Unidos não
sofria nenhum risco de desabastecimento. Atiçando o medo, o que os produtores
de carne queriam mesmo era não parar suas atividades, visando grandes lucros
com volumosas exportações de carne para a China. Assim sendo, conseguiram
o bloqueio de medidas de saúde pública, quando muitas mortes se tornaram
obscuras para as autoridades de saúde.
A ordem proposta pelas empresas Smithfield e
Tyson era uma tentativa ostensiva de anular os órgãos de saúde pública e forçar
os trabalhadores destas empresas, que em geral são imigrantes e refugiados, a
continuarem trabalhando sem as proteções adequadas, enquanto se mantinha a
blindagem delas de ações judiciais. O presidente do subcomitê do Congresso
americano, James Clyburn, condenou a conduta dos executivos destas empresas e
aliados do governo como vergonhosa.
O relatório mostra o quanto foi intenso o
esforço dos executivos destas empresas e de representantes do governo Trump em
parar as medidas de segurança e saúde pública como em dissuadir os
trabalhadores da ideia de ficarem em casa com medo da Covid-19. Tais empresas
pediram que o Presidente Trump ou seu vice transmitisse para os trabalhadores
que “ter medo da Covid-19 não é uma razão para deixarem o trabalho e se
tornarem elegíveis para benefícios de desemprego”.
Estas perversidades desumanas não estão
alinhadas com os valores de uma sociedade civilizada e tais empresas colocaram
os lucros acima da segurança de seus trabalhadores. Numa das manifestações de trabalhadores
da JBS, em junho de 2020, observa-se o que está escrito num dos cartazes: “JBS
cuida mais de seus lucros do que de seus trabalhadores”.
À medida que a Covid-19 se expandia, os
produtores de carne foram informados sobre o elevado risco de transmissão em
suas instalações. A situação chegou a tal ponto que um médico do setor de
saúde, próximo das instalações da JBS, em Cactus, Texas, escreveu um e-mail
para um dos executivos da empresa dizendo: “100% de todos os pacientes com
Covid-19 que temos no hospital são seus empregados ou membros da família deles”,
alertando que “seus empregados ficarão doentes e podem morrer, se esta fábrica
continuar aberta”.
Portanto, o relatório, com mais de 150 mil
páginas de documentos coletados da indústria de carne, mostra um quadro
assombroso de um setor que inclui matadouros e fábricas de processamento, sendo
um dos mais lucrativos e perigosos nos Estados Unidos. É um monopólio de
negócios, representado por meia dúzia de multinacionais poderosas, dominando a
cadeia de suprimentos que, mesmo antes da Covid-19, já produziam péssimas
notícias para os fazendeiros, trabalhadores, consumidores e bem-estar dos
animais.
A JBS tem suas origens no Brasil, tendo a sua
expansão se dado com financiamento de recursos públicos do BNDES, juntamente
com outros grandes frigoríficos do país. Não se tem ainda uma análise dos
custos e benefícios dos bilhões de reais que irrigaram o crescimento dos
grandes produtores de carne no Brasil.
A CPI daCovid levantou várias denúncias contra a gestão da Pandemia no país, mas deixou
de fora os produtores de carne, quando se sabe que podem ter contribuído e
muito para disseminar o vírus. Não se sabe ainda dos resultados de várias
denúncias da justiça do trabalho contra a JBS e, até que ponto, os órgãos
públicos facilitaram suas atividades de exportação, como aconteceu nos Estados
Unidos.
Várias informações precisam ser produzidas no
Brasil e algumas respostas precisam ser dadas às seguintes questões: Qual foi o
nível de exportação dos grandes frigoríficos brasileiros? Quantos trabalhadores
destes frigoríficos morreram durante a pandemia? Será que os grandes
frigoríficos priorizaram o aumento de produção em detrimento da saúde da
população brasileira durante a Pandemia? Será que estas empresas cumpriram com
as restrições de saúde pública? Estas e outras questões precisam ser
respondidas pelos órgãos públicos.
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