Riscos da Financeirização e Aumento de Preços no Sistema Alimentar - Fome

 

Fonte: Agencia IBGE                  

Estamos percebendo que a fome e o aumento de preços abusivos dos alimentos são resultantes da financeirização das grandes corporações, principalmente no sistema alimentar. Com a expansão dos mercados futuros de commodities agropecuárias, produtos agropecuários como o café, milho, soja, boi gordo e vários outros são negociados nas Bolsas de Valores, intensificando os riscos da financeirização no sistema alimentar com grandes fundos de investimentos, a exemplo dos fundos de pensão, hedge e ações de empresas privadas, além de outros especuladores.

 Existem várias definições de financeirização, mas uma delas se refere ao crescimento e importância dos mercados financeiros no capitalismo global nos últimos anos. Sendo assim, os atores financeiros expressam seus motivos perante as instituições que operam nas economias dos mercados doméstico e internacional. Com isto, o poder das corporações nas grandes cadeias de suprimentos aumenta e a financeirização transforma alimentos e terra em objetos de especulação. Outra definição é a da socióloga Greta Krippner, que trata da tendencia de se obter lucros na economia através dos canais financeiros e não através das atividades produtivas.

Estas definições abriram a perspectiva para que várias áreas de conhecimento comecem a estudar o fenômeno, a exemplo da economia política, geografia, sociologia, antropologia, entre outras. Em resumo, os estudos dos riscos da financeirização estão desafiando a neutralidade do dinheiro e criticamente analisando o sistema financeiro.

Enquanto as tendências neoliberais nos últimos anos intensificaram os riscos da financeirização do sistema alimentar, privilegiando as grandes empresas, os micros e pequenos empreendedores sofreram com a redução de ajudas em quase todo o mundo. Até em países desenvolvidos (Canada, Estados Unidos e Europa), que antes incentivavam modelos agroalimentares alternativos em resposta ao modelo arraigado dominante, a ajuda aos pequenos produtores locais foi reduzida, diante da onda neoliberal de globalização.

Mesmo nestes países, pequenos empreendedores defensores de um modelo sustentável de produção de alimentos ainda hoje sofrem com as práticas de empréstimos das instituições bancárias tradicionais, que privilegiam as grandes indústrias de alimentos, aumentando a insustentabilidade do sistema alimentar. Pequenas atividades agrícolas têm sido vistas como sendo um investimento arriscado, por serem vulneráveis às imprevisões da natureza.

Portanto, as dificuldades de acesso ao crédito por parte dos pequenos agricultores têm sido danosas, por não poderem contribuir de forma mais regenerativa para um sistema alimentar alternativo. Muitos dos empreendedores sociais lutam pelo acesso ao capital que precisam para iniciar e fazer crescer seus negócios.  Assim sendo, podemos argumentar que a falta de acesso ao capital por tais empreendedores inovativos fragiliza a transição para um sistema alimentar mais sustentável.

Neste caso, a renda ou lucro dos agricultores familiares (se é que têm lucros) decorre do suor derramado. São eles que trazem os alimentos do campo para o garfo. A financeirização, por sua vez, contribuiu para uma profunda reconfiguração da ordem da indústria de alimentos, da produção ao consumo, aumentando as desigualdades, tornando os sistemas alimentares vulneráveis e desprezando a defesa de sistemas alimentares sustentáveis.  Assim sendo, os resultados do crescente controle do sistema alimentar por grandes corporações põe em riscos a sobrevivência dos micros e pequenos produtores, a qualidade ambiental, segurança alimentar e a soberania do consumidor.

No momento, a Covid-19 está sendo usada como bode expiatório para que as corporações que dominam o mercado de alimentos determinem o aumento de preços abusivos como muito bem querem. Como bem disse o Presidente do Federal Reserve dos Estados Unidos, numa comissão do senado americano: elas aumentam os preços porque podem. Ora, se podem fazem o que querem.

Para a Casa Branca, as corporações estão apresentando as maiores margens de lucros dos últimos 60 anos. Para as 100 maiores empresas do país, a margem de lucro é 50% maior em relação a 2019. Por sua vez, as margens de lucros líquidos das principais produtoras de carne como JBS, Tyson Foods, Marfrig e Seaboard, estão acima de 300%. Para a Administração de Biden e outros políticos, incluindo a senadora Elizabeth Warren, estão considerando isto como crime.

Tanto é crime que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos já colocou vários executivos por trás das grades por fixar aumento de preços abusivos e indiciou vários outros. Segundo a Revista Time, várias corporações, incluindo a JBS, estão pagando milhões para resolver outros casos. Se o poder destas corporações pode tornar a inflação pior do que está, o que deve ser feito?

No Brasil, no atual governo, parece que nada, mas nos Estados Unidos o Congresso acabou de aprovar o chamado “PRO Act”, que tenta regulamentar as ações destas corporações, não só exigindo que o bem-estar de seus trabalhadores esteja acima de seus lucros abusivos, mas fortalecendo os sindicatos e a voz dos trabalhadores nas decisões destas empresas.

Países como México, Egito e Bangladesh já se manifestam contra o aumento de preços abusivos dos alimentos, mostrando que a grande crise de alimentos, levando à fome, é o resultado dos grandes investimentos, beneficiando as grandes corporações. A batalha contra a fome no Brasil sempre se deu beneficiando grandes empresas. No atual governo militarizado e dominado pelo Centrão, estamos no caminho da fome, esperando que algum candidato à Presidente apresente um plano de um sistema alimentar, diferente do plano da miséria de hoje.

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