Sustentabilidade no Sistema Financeiro do Brasil
Argumenta-se que temos sistemas financeiros que causam instabilidades e, além de terem custos elevados, exigem custos diretos e indiretos atribuídos aos contribuintes do presente e do futuro. Consequentemente, os sistemas monetários atuais são as principais causas de crises múltiplas, com débitos soberanos, destruição ambiental, desemprego e desigualdades acentuadas. O discurso neoliberal nos dias de hoje, no Brasil, enfatiza a destruição do bem estar social, ataca os sindicatos, e fortalece a desregulamentação, em que a liberdade é transferida da liberdade humana para a liberdade do mercado, através de ações coercitivas do Estado. Ao longo dos anos, o regime financeiro dominante no Brasil conseguiu produzir a concentração econômica, de capital e de poder nas mãos de poucos que lucraram muito, enquanto a maioria dos cidadãos são incapazes de confrontar as classes dominantes levantando as vozes. Temos o exemplo, no momento, quando os banqueiros estão defendendo uma reforma da previdência em favor dos bancos, enquanto os trabalhadores poderão ser condenados, sem serem ouvidos, ao sofrimento para o resto da vida. O país precisa de uma reforma da previdência para cortar privilégios e acabar com as desigualdades gritantes, e não esta que está aí destinada a fortalecer o sistema financeiro privado.
Diante das
várias catástrofes financeiras, ocorridas em vários países do mundo, danos e
decadencia das condições sócio-econômicas são socializados na forma de salários
e pensões reduzidos. Além disto, aumento de impostos, redução dos gastos em
educação e saúde, perdão de dívidas de fazendeiros e banqueiros levam ao
aumento do desemprego e pobreza, segregação social e aumento de grupos extremistas, como no caso
da Europa, e da criminalidade, como no caso do Brasil.
Há muito
tempo foi dito que o sistema financeiro
predominante é incompatível com a sustentabilidade e, nos últimos anos, isto
foi reforçado pelos discursos de Sustentabilidade Corporativa e
Sustentabilidade Social Corporativa. Portanto, enquanto no campo da Ecologia se
tenta fortalecer teoricamente o discurso de sustentabilidade, nas áreas acima
citadas, o discurso de sustentabilidade é reduzido às práticas de negócios
(business-as-usual). Este tipo de sustentabilidade, denominado de
sustentabilidade fraca, é o discurso dominante no mundo corporativo, razão pela
qual em muitas corporações, incluindo os grandes bancos brasileiros, a
sustentabilidade é, na visão deles, perfeitamente praticada. Em resumo, sustentabilidade
para estas corporações significa business-as-usual, ou seja, negócios como
sempre.
Felizmente,
o discurso de finanças sustentáveis, que exige um pensamento profundo, advindo
de áreas como Ecologia e Ciências Sociais, começa a surgir preocupado com a
humanidade e o planeta Terra. Alguns pesquisadores na área de finanças
sustentáveis reconhecem que os investimentos tem sido concebidos e executados
através dos esquemas da governança existente, que são incongruentes com os
problemas de sustentabilidade. Todavia, mais recentemente, esquemas corporativos financeiros estão sendo
proposto nos Estados Unidos e Europa enfatizando uma significante participação
que pode ser aplicada às finanças sustentáveis. O futuro da governança
corporativa vai permanecer obscuro, mas as recentes iniciativas podem acarretar
uma profunda mudança sobre as suposições básicas da governança corporativa
dominante. Na União Européia, por exemplo, as finanças sustentáveis são
enfatizadas, levando-se em conta as considerações sociais e ambientais que
apoiam o crescimento econômico de uma forma sustentável, a longo prazo,
reduzindo as pressões sobre o meio ambiente, atacando a poluição e aumentando a transparência através de uma governança apropriada. Recentemente um grupo foi
estabelecido, composto de especialistas da sociedade civil, do setor bancário,
acadêmicos e observadores internacionais, para propor recomendações de finanças
sustentáveis. Acadêmicos já reconheceram
que a teoria de finanças tradicional e suas práticas são limitadas e
direcionadas por um conjunto de valores inapropriados, considerados insustentáveis, propondo uma mudança paradigmática que enfatiza um esquema
sustentável, que considera o social e ambiental. Em resumo, uma teoria geral de
finanças deve valorizar a sustentabilidade e punir a poluição, por exemplo.
Pensar em
finanças sustentáveis no Brasil ainda é um sonho, diante da concentração de
meia dúzia de bancos dominando o sistema financeiro do país. Vale lembrar aqui
o que disse o grande jurista da Suprema Corte americana, Louis Brandeis, reconhecido como o
advogado do povo. Referindo-se aos Estados Unidos, Brandeis disse: "Podemos ter democracia, ou podemos ter riqueza concentrada
nas mãos de poucos, mas não podemos
ter os dois". Há muito que sabemos como são eleitos nossos
políticos com o dinheiro sujo das empresas. A Lava Jato veio comprovar tudo
isto. As recentes denuncias de devastação da Amazônia, envolvendo a
participação de membros do Congresso e dezenas de empresas, deixam qualquer um
entristecido. As denúncias e pedido de impeachment de alguns membros da mais
alta corte de justiça do país que, ao contrário de Louis Brandeis, não defende
o povo, mas os poderosos, nos entristece mais ainda, sobretudo por que nada
acontece com eles.
Com a concentração de meia dúzia de bancos e a riqueza nas mãos de poucos, sabemos que estamos longe de se pensar em sustentabilidade e finanças sustentáveis no setor financeiro. Mas, será que ainda podemos fazer uma escolha e pensar em democracia?
Com a concentração de meia dúzia de bancos e a riqueza nas mãos de poucos, sabemos que estamos longe de se pensar em sustentabilidade e finanças sustentáveis no setor financeiro. Mas, será que ainda podemos fazer uma escolha e pensar em democracia?
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