Do Boi do Futuro e do Bife à Fome e Destruição da Amazônia
Fonte: Embrapa
Reportagem desta semana no Jornal Washington
Post mostrou como a Floresta Amazônica está sendo devorada com a força do boi e
do bife, com a cumplicidade do Estados Unidos. Para o Jornal, se a Amazonia vai
morrer é o bife que a matará.
Enquanto os americanos são os maiores
consumidores de bife do mundo, a imprensa brasileira noticiou esta semana que a
classe média brasileira não tem mais condições de comer bife, mudando os hábitos
alimentares para comer fígado, frango e ovo. Os mais pobres têm que se contentar
com montanhas de arroz e ovo.
Já se sabe que o maior escândalo do mundo no
momento é a fome e a insegurança alimentar do povo brasileiro,
num país considerado o segundo maior produtor de alimentos do mundo. Diante
disto, nosso modelo de agronegócios por corporações nacionais e internacionais é
perverso e não traz nenhum desenvolvimento para o país, além da busca de
riquezas numa das regiões mais ricas do planeta. Estamos vendo uma região sendo
devorada num ambiente de corrupção, crimes e ganancias.
Sabemos como começou o desenvolvimento da
Amazônia na época da ditadura militar, com a construção da Transamazônica, com
o propósito de habitar a região e aumentar o rebanho bovino. A literatura
mostra que no ano de 1960, pouca gente da região tinha visto um boi, a não ser
os búfalos da Ilha da Marajó. O rebanho bovino hoje na região deve se aproximar
da população brasileira. Assim sendo, o poder do boi do futuro na região é reconhecido.
No governo petista se faz um dos maiores
financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
para, com recursos públicos, se criar a maior empresa de bife do mundo - JBS. Ainda
hoje não se conhece uma análise de custos e benefícios do uso de recursos
públicos para tal propósito, a não ser mostrar a expansão de um agronegócio insustentável no país, com
financiamentos públicos a grandes frigoríficos.
No governo Bolsonaro a devastação parece ser
maior, com o agronegócio nacional e internacional acumulando riqueza às custas
da biodiversidade. Os investidores do boi do futuro têm conseguido mudanças da legislação
para evitar medidas de proteção ambiental e outros programas contra o trabalho
forçado. O poder do boi do futuro expandiu o trabalho escravo no país. Vale registrar
ainda as grandes queimadas na região no atual governo.
Depois de analisar milhares de cargas, faturas
e imagens de satélites das fazendas de gado, o Jornal Washington Post identificou
que a JBS ainda não se separou das ligações com o desmatamento ilegal. A
destruição da Amazônia da é escondida por trás de uma longa e sofisticada cadeia de suprimentos, que se conecta
diretamente com fazendas desmatadas ilegalmente e outras acusadas de infrações
ambientais até às fábricas autorizadas pelo governo dos Estados Unidos para
exportar bife. Diversos fazendeiros a quem a JBS comprou bois eram reconhecidos
e denunciados por autoridades por estarem entre os mais destrutivos atores na
região, responsáveis pelo desmatamento ilegal. Pelas imagens de satélites,
todos violando a lei brasileira.
Apesar de sua defesa de preservação da
Amazônia, o Presidente Biden não parece ter poder para mudar a legislação e
influenciar as agencias que inspecionam o serviço de compra e exportação de
bife para os Estados Unidos. Para estas agencias, eles não determinam se os
bois são de origem de áreas que estão sendo desmatadas. Para o IBAMA, o
controle ambiental da cadeia de suprimentos de bife deveria ser rigoroso e esta
discussão vem sendo feita há mais de 30 anos, mas nada acontece. Estranho.
Fica demonstrando que por trás das cadeias de
suprimentos é possível esconder tudo. Se o governo brasileiro não controla o
desmatamento para criação de bois, nem o governo dos Estados Unidos nem os
consumidores americanos sabem da origem do bife que consomem. Uma vez que o
bife importado passa pelo serviço de inspeção americana, todas as etiquetas que
identificam a sua origem são removidas, sendo a partir daí vendido como se
fosse um produto doméstico.
Por sua
vez, os vendedores de bife não são obrigados a informar aos consumidores a
origem do produto, sendo protegidos por lei. Quando o Washington Post perguntou
a 16 cadeias de vendas de bife nos Estados Unidos se eles vendiam o bife da JBS
do Brasil, apenas duas responderam que sim, mas em pequena quantidade. A JBS
também não respondeu a quem vende bife nos Estados Unidos. Com certeza, muitos
americanos boicotavam o bife da JBS, oriundo do Brasil.
Está aí um resumo da destruição Amazônia, uma das
regiões mais ricas do mundo, explorada por gananciosos, sem nenhuma contribuição
para o desenvolvimento social do país. Tudo isto acontecendo com a ajuda do
atual governo e governos anteriores. Como no Brasil "os crimes de Estado
são respaldados pela burguesia”, nada acontecerá a não ser a nossa tristeza em
ver uma região e uma sociedade destruídas pela ganância, poluição e mortes e pelas monstruosas
desigualdades sociais.
O boi do futuro e o bife fazem parte da
ideologia perversa de país do futuro, onde se destrói o passado e tudo o que se
tem de precioso, em benefício de uma elite perversa, de esquerda ou direita.
Para debochar de nosso país, ainda existem aqueles que nos insultam tentando
vender McPicanha sem picanha. Neste país do futuro e do boi do futuro, onde a
grande maioria não pode comer mais um pedaço de bife, não merecemos tamanho
deboche e insulto. A fraude e a lavagem da picanha ou bife são crimes brutais
imperdoáveis contra os consumidores e a sociedade brasileira.
Comentários