Riscos e Vulnerabilidades das Cadeias de Suprimentos – Da Escravidão ao Genocídio
Foi preciso o surgimento da Covid-19 para mostrar ao mundo os riscos e vulnerabilidades das grandes cadeias de suprimentos que, em nome da eficiência e baixos custos para os consumidores, escondia por trás de suas atividades os grandes males e riscos e vulnerabilidades, hoje evidentes em termos de uma escravidão moderna que vai até o genocídio.
Assim sendo, o discurso de eficiência e baixo
custo, depois de cerca de 40 anos, é transformado numa catástrofe a partir da
Covid-19, diante do sofrimento e mortes de trabalhadores. A imprensa nacional e
internacional mostrou os riscos e vulnerabilidades de empresas, a exemplo da JBS e Cargill no Brasil e
Canadá, no caso da
Covid-19. A falta de transparência das cadeias de suprimentos começa a ser
reconhecida no mundo inteiro.
Nos governos anteriores, o Brasil foi um dos
países que apoiou grandes cadeias de suprimentos com financiamento de dinheiro
público, através do BNDES, beneficiando grandes frigoríficos e a empresa JBS, hoje a maior
distribuidora de carnes do mundo, embora criticada por suas atividades de
desmatamento, junto de outras empresas do setor do agronegócio. Concentradas na
eficiência e grandes lucros, as grandes cadeias de suprimentos pareciam
acreditar que os riscos e problemas sociais escondidos durante anos jamais
seriam expostos.
No Brasil foi fácil transferir nossa herança da
escravidão para o setor, hoje com os requintes
da chamada escravidão moderna, a exemplo das práticas de trabalho forçado,
escravidão por dívida, servidão doméstica, prostituição forçada, casamento
forçado e o tráfico humano. Estes tipos de escravidão não acontecem apenas nos
países do Terceiro Mundo, mas são práticas globais, principalmente em
atividades da construção civil, agricultura, salões de beleza, fazendas,
lavagem de carros e venda de drogas.
Os estudiosos da relação entre a globalização e
escravidão vem demonstrando o crescimento alarmante da escravidão moderna, hoje
bem maior em números do que a histórica escravidão de tempos passados. O campo
de estudo da escravidão nas cadeias de suprimentos é novo, mas vem chamando a
atenção de estudiosos das áreas em estudos ambientais, sociologia, direito,
geografia, ciências políticas, literatura, estudos culturais, desenvolvimento
internacional e história, com o propósito não só de remover o trabalho escravo
das cadeias de suprimentos, mas mostrar o quanto esta escravidão está
contribuindo para a degradação ambiental.
Infelizmente, nosso impulso insistente de
sempre comprar o mais barato não nos leva a pensar que todos os dias milhares
de pessoas são submetidas ao trabalho escravo. Celulares, roupas, sapatos,
vinho, alimentos, flores e muitos dos produtos que compramos e usamos, todos os
dias, são produzidos por pessoas encurraladas ou aprisionadas na escravidão
moderna, ligadas às cadeias de suprimentos dos negócios internacionais
ofertando mercadorias e serviços.
Há poucos dias a imprensa do Canada noticiou
que as principais cadeias de supermercados do país mantêm em estoques
produtos de tomate conectados ao trabalho forçado chinês.
Neste caso, os consumidores canadenses que compram pastas de tomate,
molho e ketchups podem estar comprando produtos manufaturados pelos povos Uyghurs ou outras etnias vivendo sob condições de trabalho
opressor em Xinjiang, área remota da China ocidental, onde
estão sujeitos à detenção em massa e torturas pelo governo chinês, denominadas
em alguns países de genocídio, como noticiado.
Para chegar a este resultado e mapear a
vertiginosa rede de suprimentos globais foram necessários meses de investigação
num trabalho disfarçado com empresas chinesas, analisando os registros
internacionais de navegação, que conseguissem conectar a tomate de Xinjiang às
marcas internacionais, algumas das quais encontradas nos principais
supermercados do Canadá.
A China possui plataformas digitais adequadas
que poderiam facilmente rastrear suas cadeias de suprimentos. Uma
infraestrutura digital adequada, incluindo o uso da inteligência artificial, machine
learning e internet das coisas (Iots), deve substituir o controle e a estrutura
física do passado. Além disto, das cinco maiores infraestruturas da tecnologia
5G – Huawei, Samsung, Nokia, Ericsson e ZTE, duas são chinesas.
Mesmo assim, observa-se que sem estratégias e
políticas de cadeias de suprimentos resilientes, sustentáveis e voltadas para o
bem-estar social, de nada adianta infraestrutura tecnológica sofisticada. As
cadeias de suprimentos não irão desaparecer, mas mudanças estruturais estão
sendo encaminhadas, no sentido de privilegiar cadeias regionais e locais,
considerando as falhas e riscos e vulnerabilidades das atuais estruturas. A Europa, na área da
agricultura, segue nesta direção, enfatizando a produção local de alimentos. Com certeza um
processo de dissociação (regional decoupling) vai acontecer nas cadeias de suprimentos,
buscando o caminho da resiliência e sustentabilidade ambiental.
É inacreditável, como vem sendo descrito, a exploração do trabalho forçado e destruição de vidas dos Uyghurs na região de Xinjiang, China, com a presença de empresas tais como Nike, Samsung, Adidas, Amazon, entre dezenas de outras. A ganância, lucros e aumento de capital das cadeias de suprimentos de muitas empresas são o grande incentivo para reduzir o valor de vidas humanas. Num mundo assim, a morte de inocentes é capitalizada ao máximo possível, como no caso do kit da morte no Brasil. Como já foi dito, o comunismo chinês está levando o capitalismo selvagem a desrespeitar leis, regras e costumes internacionais, tornando-o cada vez mais vulnerável a um comportamento imoral ao adotar medidas destrutivas.
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