Pesquisa Qualitativa nas Cadeias de Suprimentos – Desocultação
Fonte: Getty/Image
Um dos impactos mais importante da atual crise pandêmica
será a mudança de paradigma, conceito introduzido pelo cientista americano
Thomas Kuhn e que promove mudanças nos fundamentos e práticas usadas, como
estamos vendo na reformulação do futuro e das economias de vários países,
principalmente na América do Norte e Europa. Assim sendo, nos campos da economia
e saúde estão sendo evidenciadas mudanças drásticas.
Nos Estados Unidos 17 professores das
principais universidades americanas, premiados com o Prêmio Nobel de Economia,
divulgaram carta aberta apoiando o Plano de Recuperação americano do governo
Biden. Há poucos dias, a Real Academia Sueca de Ciências (The Royal Swedish
Academy of Sciences) concedeu o Prêmio Nobel de ciências econômicas aos
economistas David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens por terem trazido
contribuições metodológicas para a análise das relações causais, desafiando a sabedoria convencional entre os economistas e revolucionando a pesquisa
empírica nas ciências sociais no mercado de trabalho.
No campo das ciências da saúde, principalmente
nas áreas médicas e de enfermagem, estamos vendo a ênfase dada às metodologias
de pesquisa multidisciplinares, através dos métodos quantitativos e
qualitativos, mostrando que a sociedade deve ser guiada por evidências
científicas e não por ideologias políticas, sobretudo quando se observa líderes
autoritários sacrificando a saúde global aos seus próprios egos.
Estamos observando, principalmente nos Estados
Unidos e Brasil, o desprezo pela ciência e conhecimento por parte da sociedade. Isto é muito perigoso num mundo
onde a riqueza está concentrada como nunca e a ciência está em segundo lugar
para charlatões e mentirosos, causando sérios prejuízos a milhões de pessoas e
onde a democracia começa sendo sequestrada.
Não há dúvidas de que as mudanças paradigmáticas requerem
a reconstrução do conhecimento ao questionar a superioridade (ou não) do método
e conhecimento científico, que não pode desprezar a interpretação e compreensão
de uma nova hermenêutica, como forma de compreender as sérias questões sociais
que nos atormentam. Não se pode silenciar diante de tantas perversidades, sem
combater os que estão querendo nos levar ao caminho do obscurantismo.
Precisamos compreender como muitos profissionais médicos abandonaram o conhecimento
científico e de evidências e se entregaram à racionalidade econômica,
prescrevendo o Kit Covid, sem comprovação científica,
influenciando gestores públicos em todo o país.
Na área de gestão das cadeias de suprimentos a preocupação pela diversidade de
métodos de pesquisa vem sendo exposta, embora as pesquisas girem em torno do
paradigma positivista dominante, que impede soluções mais amplas para os
desafios do momento. Para Gammelgard & Flint, os diferentes enfoques
metodológicos na área ainda se baseiam na visão positivista dominante, mesmo
quando se trata de pesquisa qualitativa.
Quando o pensamento crítico é corroído, o mesmo
acontece com a confiança na ciência, levando-nos coletivamente a pagar um
preço. Assim sendo, na gestão das cadeias de suprimentos, o enfoque da pesquisa
qualitativa apresenta um imenso potencial em pesquisas futuras, num setor
severamente afetado pelo Corona, responsável por desigualdades e supostamente
envolvido em atividades e ações imorais e danosas.
Pesquisas recentes vêm demonstrando que as
técnicas da pesquisa qualitativa são vistas como o melhor enfoque para se estudar
problemas complexos como na gestão das cadeias de suprimentos. É gratificante
ver que os estudos qualitativos estão gradualmente se tornando mais aceitos no
campo de administração, mas não tanto no campo das cadeias de suprimentos. Os
pesquisadores devem se esforçar cada vez mais pela busca de ferramentas
metodológicas robustas e confiáveis, de modo que se tenha a pesquisa qualitativa
mais criativa e reconhecida, numa comunidade cuja tendencia é cética em relação
aos estudos qualitativos. Um grande esforço é necessário para posicionar os
estudos qualitativos no mainstream ou dominação da pesquisa em gestão
das cadeias de suprimentos.
Pesquisa publicada há poucos meses tentou
mostrar os devastadores impactos da pandêmica Covid-19 nas cadeias de suprimentos,
com base em trabalhos publicados. Apesar do grande número de publicações sobre
o tema, não ficou claro quais aspectos da disrupção já foram estudados e que
outros aspectos precisam ser investigados. Infelizmente, dos 74 trabalhos
publicados e analisados, apenas três trataram da pesquisa qualitativa, mas
estando entre os seis trabalhos empíricos publicados. Boa parte dos trabalhos
se baseavam apenas em opiniões e não em teoria, apesar do uso de sofisticados
modelos matemáticos, modelos lineares e não lineares, otimização estocástica e
assim por diante.
Espera-se que os impactos da Covid-19 nas cadeias de suprimento abram espaços para guiar futuras pesquisas, visando
melhor interpretar o mundo, através da pesquisa qualitativa.
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