Incerteza, Sustentabilidade e Resiliência nas Cadeias de Suprimentos – Do Imoral ao Ético

 

Fonte:  Fotospublicas.com

As disrupções nas cadeias de suprimentos diante dos impactos devastadores da pandêmica Covid-19 geraram um momento de incerteza que pode ser direcionado para a construção de uma governança orientada para a sustentabilidade e resiliência do setor, apesar de não se ter chegado ainda ao fim da Pandemia.

 As evidências das insustentáveis cadeias de suprimentos eram bastante visíveis, embora a maioria das Corporações sempre demonstrava em seus relatórios que adotava boas práticas de sustentabilidade, com muitas delas informando que já tinham até alcançado a sustentabilidade. O que elas adotavam era o discurso da chamada sustentabilidade fraca e, até certo ponto falsa, razão pela qual em pouco tempo o coronavírus mostrou de forma cristalina que o rei estava nu no âmbito das cadeias de suprimentos, sujeitas a riscos e vulnerabilidades, além das incertezas que as afetam diante de suas complexidades e falta de transparência.

Sempre foram conduzidas pelo setor privado, mesmo se reconhecendo a carência e a falta de interferência de políticas públicas e a definição de uma boa governança no setor, principalmente na área de alimentos que requer uma forte interferência governamental, por questões de segurança alimentar e segurança nacional. A Covid-19 trouxe pontos positivos com a possibilidade de mudanças que podem contemplar as preocupações com a sustentabilidade, principalmente a sustentabilidade social, na busca de melhor governança e resiliência. Além disto, desmascarou o discurso falso de sustentabilidade, ESG e responsabilidade social de muitos que estão aí defendendo empresas poluidoras, escravagistas e  como sendo sustentáveis.

Isto parece ser a grande preocupação dos governantes no momento. Na recente reunião dos líderes dos países do G-7 foi acordado estabelecer coletivamente ações para combater as questões relacionadas com o trabalho forçado ou escravo e a corrupção nas cadeias de suprimentos globais. Os Estados Unidos já estão agindo contra produtos oriundos da região de Xinjiang, na China, onde o trabalho forçado é utilizado. Práticas imorais devem ser combatidas no mundo inteiro e a adoção de práticas éticas é o único caminho para se alcançar a sustentabilidade e melhor resiliência.

Por sua vez, na Conferência do G20 há poucos dias, o Presidente Biden apresentou suas prioridades e ações para combater a crise das cadeias de suprimentos. Para ele, só através de uma mudança conjunta é possível promover maior resiliência das cadeias de suprimentos, que devem ser diversificadas, seguras, transparentes e sustentáveis, assegurando que elas estejam livres do trabalho forçado, apoiando a dignidade e voz dos trabalhadores, em sintonia com os objetivos climáticos. Enfim, Biden apresentou uma proposta holística de longo prazo e o caminho de uma sustentabilidade social para um setor cuja complexidade vem sendo construída nos últimos 40 anos e que não será facilmente revertida.

A certeza é de que o paradigma de pesquisa tradicional falhou em acompanhar a atual Pandemia e o desenvolvimento econômico e ainda não temos evidências empíricas dos impactos sobre as cadeias de suprimentos. O que já se sabe também é que a complexidade está destruindo a lucratividade de muitas empresas e, como já foi dito, esta complexidade tem que ser reduzida, de modo que seja possível sobreviver tendo lucros de forma sustentável. Enfim, a sustentabilidade das cadeias de suprimentos trata dos impactos da gestão ambiental, social e econômica, encorajando a boa governança e práticas éticas. 

Numa perspectiva holística, os processos e as tecnologias vão além do foco atual em entregas de mercadorias, armazenamento e a tradicional visão de reduzir custos e otimizar resultados. Com a Pandemia, a busca é por novos caminhos que evitem futuras disrupções, incorporando mudanças em relação às velhas suposições das cadeias de suprimentos.

Portanto, o que se observa no momento diante das implicações da pandêmica Covid-19 é que tomadores de decisão dos setores público e privado foram forçados a confrontar os desafios inerentes ao funcionamento das cadeias de suprimentos. Por fim, observa-se que os desafios de riscos, resiliência e sustentabilidade (RRS) estão sendo enfrentados, exigindo que futuras pesquisas sejam desenvolvidas para identificar os novos caminhos para o alcance de tais objetivos.

No campo da sustentabilidade social, a pesquisa qualitativa é de grande valia para interpretação do que vem acontecendo nas cadeias de suprimentos neste momento de tanta incerteza, numa Epidemia que ainda continua, vista como a mais devastadora nas últimas décadas.  

 

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