Combate à Fome por Micros e Pequenos Produtores Agrícolas

 

Fonte: Oxfam

Quando se fala em combater a fome depara-se logo com a hipocrisia de muitos, incluindo governantes, políticos, intelectuais e outros, defensores de uma agricultura comercial insustentável, a exemplo do agronegócio no Brasil, que acabou de dar um exemplo ao mundo com os “ossinhos da fome” e as filas do osso, sem nunca ter apresentado ou adotado políticas alimentares e nutricionais, que atendessem principalmente crianças e mulheres que passam fome.

A Pandemia abalou a estrutura de se alimentar o mundo, através de grandes cadeias de suprimentos e, agora, a guerra na Ucrânia dá sinais claros de que o abalo será maior, resultando num colapso sem precedentes e numa grande crise de alimentos, que já afeta o Brasil.  Ou se muda a estrutura de se alimentar o Brasil ou embarcaremos num processo de aumento da fome no país.

Diante disto, o que se observa hoje é que a base ou edifício intelectual que orienta os governos de esquerda ou direita parece ser estúpida e até perigosa. É ridícula a forma como se construiu nosso sistema alimentar de produção e distribuição de alimentos, totalmente insustentável, sem considerar que a fundação de nossa civilização deve assegurar a todos uma dieta saudável na alimentação. Nós temos o sistema alimentar menos resiliente do mundo e o que está mais baseado no mercado e nos lucros. Com isto, estamos como uma cortiça boiando sem ajuda no oceano global.

A globalização mundial destruiu a estrutura daqueles que poderiam combater a fome no Brasil e no mundo – micros e pequenos produtores agrícolas. Tudo isto com o apoio dos governantes no mundo inteiro, sendo o Brasil um exemplo típico desta façanha.

Nos governos anteriores, o complexo empresarial foi financiado com recursos públicos para competir num mundo globalizado, cujo propósito é exportar sem limites, mesmo em detrimento da sociedade. No governo atual, expandiu-se o volume de recursos naturais para atender a sanha de lucros de multinacionais, através do desmatamento e destruição da floresta Amazônica, abrindo-se o espaço para expandir a criação do boi do futuro, mineração ilegal, massacre dos índios, queimadas, corrupções e a criminalidade amazônica.

No Congresso Nacional, boa parte de nossos representantes é afinada com os interesses das multinacionais. É neste cenário de fortalecimento de poder econômico, político, financeiro e globalizado, que temos que discutir a fome, quando a avareza e ganância não têm nenhum interesse em combatê-la. No Brasil, a fila do osso, foi um exemplo vergonhoso do que foi criado por nossos governantes ao longo dos anos.

A confiança na globalização nos últimos 30 anos levou a produção e distribuição do sistema alimentar tornar-se profundamente interdependente e concentrado em poucos países, com poderosas empresas no setor do agronegócio, a exemplo do Brasil. Com isto, o sistema alimentar tornou-se cada vez mais baseado no mercado e menos sustentável, não assegurando uma forte produção doméstica, ambientalmente sustentável. Estas grandes corporações estão preocupadas com seus elevados lucros no mercado externo, desprezando o consumo interno do país. Não exportassem tanto do que é produzido aqui, os preços dos alimentos não estariam nas alturas do momento.

Por sua vez, a financeirização dos mercados agroalimentares não tem sido discutida de forma clara, mas se observa que isto contribuiu para a acumulação de capital no setor, moldando as corporações para os mercados externos, com profundas implicações de longo prazo em termos de uma sustentabilidade social e ecológica de alimentos e da agricultura em geral. Portanto, o que se observa no Brasil é que os grandes financiamentos a empresas como a JBS e outros grandes frigoríficos contribuíram para exacerbar o desiquilíbrio de poder e riqueza no sistema alimentar.

Sendo assim, os micros e pequenos produtores, com o pires na mão, não conseguem a merecida ajuda financeira para fornecer alimentos, a preços justos, para uma camada maior da sociedade. Ademais, durante a pandemia, observou-se o aumento das vulnerabilidades econômicas e ecológicas das grandes cadeias de suprimentos dentro do sistema alimentar. Por fim, o desequilíbrio de poder e riqueza, com a grande acumulação de capital em poucas mãos, impede e reduz demandas coletivas para mudanças e resistências. Portanto, as implicações de financiamentos no setor agroalimentar são desafios diretos para o sistema alimentar interessado em segurança alimentar de longo prazo.  

Citamos o exemplo da Pandemia que atingiu as cadeias de suprimentos. Surge agora a guerra da Rússia, bloqueando a exportação de grãos e óleos de sementes da Ucrânia. A Rússia, também em represália, barrou as exportações de trigo, que o mundo precisa tanto. A Índia, visando manter suas reservas de trigo, também reduziu as exportações. Com isto, as autoridades mundiais começam a se preocupar com a fome e a tal globalização está afetando o mundo inteiro. Isto reforça a importância dos micros e pequenos produtores agrícolas para suprir os erros da globalização, que resultou numa extraordinária acumulação de capital em poucas mãos.

Num governo de extrema direita, com atritos com vários países, o Brasil poderá ter sérios problemas de importação de alimentos, caso a guerra seja duradoura. O problema não é importar por conta de preços elevados, mas não conseguir importar. Sem uma mudança do sistema alimentar, que venha beneficiar os micros e pequenos produtores, com financiamento agrícola, estimulando cooperativas de agricultores e participação das mulheres no setor, a fome tende a aumentar, diante da dominação do sistema alimentar pelo sistema financeiro e grandes corporações. 

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