Injustiça Ambiental e Cortes de Justiça nos Desastres do Brasil
Fonte: UOL
A injustiça ambiental no Brasil chegou a um nível de perversidade tamanha que hoje, mais do que nunca, tornou-se necessário e urgente fortalecer e intensificar um movimento de Justiça Ambiental para, junto das Cortes de Justiça, atuarem no enfrentamento da crise climática, que acabou de assolar o Rio Grande do Sul.
Infelizmente, a Covid-19 não fortaleceu a justiça de
saúde para todos nem tão pouco a justiça ambiental. A Covid-19 resultou em terríveis iniquidades e injustiças, além da terrível falta de dados e informações, que
até hoje não foram explicitadas. Mesmo com uma CPI, que durou vários meses,
apontando inúmeras irregularidades, não parece ter havido responsabilização de
nada, depois de mais de 700 mil mortes.
O mesmo aconteceu nos Estados Unidos, mas os estudos
estão mostrando o quanto o racismo ambiental foi severo com os negros, latinos
e os mais pobres. O sofrimento e índice de mortalidade da Covid-19 foi elevado na indústria de frigoríficos e nas prisões americanas foi três vezes maior
do que nos demais seguimentos da sociedade.
Precisamos de estudos mostrando a severidade do
racismo ambiental no Brasil durante a Covid-19, como iniciativa de apoio a uma
agenda de justiça ambiental. Um dos pontos que merece mais atenção numa
política climática é o fato de que nem todos estão tendo a experiencia dos
efeitos da crise climática igualmente. Os menos responsáveis pela crise
climática, estão tendo as piores experiencia de seus impactos.
Portanto, entre a Covid-19, o racismo estrutural
existente no país, as brutalidades de policiais, mudanças climáticas, ameaças à
população indígena e quilombolas, e as ameaças a uma governança democrática,
chegou o momento de dizer – já é bastante.
A justiça ambiental tem uma extensa lacuna nas leis e
governança no mundo, mas vários países estão tentando confrontar os impactos do
racismo ambiental, avançando na justiça ambiental, com o propósito de resolver
injustiças ambientais e ecológicas.
Sabemos que as Cortes de Justiça, a exemplo do Supremo
Tribunal Federal (STF), mesmo recebendo algumas críticas pela falta de transparência
de alguns de seus membros, deram um exemplo ao mundo ao enfrentar a Covid-19,
salvando milhares de vida, através da definição de ações, que foram
implementadas pelos governos estaduais e municipais, contrariando os defensores
da cloroquina, ao lado da ciência.
Outra ação do STF a ser registrado na história da
Justiça Ambiental foi a vitória dada aos povos indígenas na votação do golpe
arquitetado pelo Congresso Nacional, chamado de tese do Marco Temporal. A
maioria da Corte não se curvou ao golpe, demonstrando que a demarcação de
terras indígenas é direito constitucional.
Lamentavelmente, o Congresso Nacional partiu para o
confronto, avançando na violação dos direitos dos povos indígenas, atendendo
aos interesses das grandes corporações. O Senado brasileiro aprovou o chamado Projeto
de Lei do Genocídio, que reformula a tradição da ocupação da terra e os
direitos originários dos Povos Indígenas.
Estes dois exemplos mostram ações diretas das Cortes
de Justiça e sua importância na longa batalha de Justiça Ambiental,
considerando que precisamos de mudanças rápidas na sociedade para reduzir nossa
dependência em combustíveis fósseis, reduzir desigualdades, racismo ambiental e
parar a guerra destruidora contra a natureza.
Precisamos alcançar estas mudanças através de ações diretas não-violentas. Parte da academia parece ser um ambiente hostil a estas mudanças, que não são extremistas, mas necessárias para defender responsabilidades, ética. e estruturas políticas modernas.
Ao responder o que o meio ambiente precisa da Suprema
Corte de Justiça americana, Sam Sankar, vice-presidente da instituição americana, EarthJustice,
defensora do planeta, respondeu: Precisamos de juízes que tem a certeza de que
nossas Cortes permaneçam um lugar onde a ciência e a lei derrotem a corrupção e
os privilégios.
Para ele, precisamos de juízes que reconheçam a
obrigação do governo em proteger o meio ambiente, assegurando direitos de
terras para todos e saibam a diferença
entre a ciência e a política. O interesse dos poderosos é barrar a entrada nas
portas da justiça, mas o trabalho dos juízes é mantê-las abertas, com o governo
e a indústria responsáveis.
É enorme o sofrimento dos gaúchos com dezenas de
mortes de crianças, mulheres e idosos, além de centenas de animais e
emocionante a forma como muitos foram resgatados por voluntários, através das
mais básicas ferramentas, quando muitas crianças, idosos, cadeirantes e animais
foram salvos, carregados nos braços humanos.
A maioria não teve o privilégio do cavalo caramelo,
que teve a mídia e recursos de salvamento sofisticados, a exemplo do aposentado
Claro Nunes, de 82 anos, doente de Alzheimer e salvo por voluntários. A imagem acima mostra “seu resgate dentro de
uma caixa d’água na cidade de Canoas (RS)”.
Brasileiros! Não vamos permitir a falta de
responsabilização do desastre dos gaúchos. Vamos participar de todos os
protestos e mobilizações necessárias, em nossas cidades, em defesa da justiça
ambiental e combate ao racismo ambiental. As mais terríveis catástrofes podem
nos atingir e serão temerosas.
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