Desenvolvimento Insustentável e Desastre do Rio Grande do Sul

 

Fonte: Globo                                                                                                                                                  

O desenvolvimento insustentável no Rio Grande do Sul representa um cenário de negócios como sempre (business as usual) que não consegue atender às necessidades das gerações futuras. Está profundamente interligado com a desigualdade social, a pobreza, a destruição ambiental e os problemas de saúde. Isso levou ao pior desastre do país.

Em outras palavras, o desenvolvimento insustentável é definido como o não atendimento das necessidades das gerações atuais, causando problemas sociais, econômicos e ambientais, enriquecendo uma minoria e empobrecendo a maioria. O pior de tudo, é que todos estes problemas terão de ser resolvidos pelas gerações futuras.

A crise do modelo ocidental centrado na globalização é evidente, assim como a erosão da agenda socioeconômica universalista de desenvolvimento sustentável, que enfatizou o crescimento econômico em detrimento do social e ambiental, dando origem ao desenvolvimento insustentável, priorizando ganhos de curto-prazo sobre uma sustentabilidade de longo prazo. A encíclica Laudato Si do Papa Francisco nos mostra isto.

O desenvolvimento insustentável do Rio Grande do Sul é muito bem explicitado por cientistas da região, mostrando como as estruturas políticas danosas, ao longo dos anos, praticaram as maiores brutalidades ecológicas num Estado privilegiado pela Natureza, brutalmente destruída.

Conforme foi publicado pela BBC News Brasil, “a relação entre a perda de vegetação nativa e os impactos das inundações no Rio Grande do Sul começou a ser feita por pesquisadores que estudam a ocupação do solo no Estado gaúcho há décadas.”

O pesquisador do MapBiomas, Eduardo Vélez, um dos responsáveis pelo levantamento feito pela organização, “explica que o levantamento comparou as coberturas vegetais de diferentes categorias ao longo dos anos para estimar a quantidade de vegetação nativa perdida e o que ocupou o seu lugar no Rio Grande do Sul.”

É assombroso o crescimento da área plantada de soja, que teve um crescimento de 366% no período estudado, ou seja, um crescimento de 4,99 milhões de hectares. “Em 1985, o Estado tinha uma área de 1,3 milhão de hectares ocupada pela soja. Em 2022, essa área saltou para 6,3 milhões.”

A quem interessa a troca de vegetação nativa por soja, que pode ter agravado as enchentes no Rio Grande do Sul? No contexto do desenvolvimento insustentável, as práticas insustentáveis, a exemplo do agronegócio, resultam na desigualdade social, afetando de forma desproporcional, as diferentes comunidades e grupos de pessoas.

Em geral, são os mais pobres e os membros mais vulneráveis da sociedade que são afetados pelo desenvolvimento insustentável, através das pobres condições de vida e de trabalho, além dos problemas de degradação ambiental.  Isto ficou muito claro quando o Presidente Lula, surpreso com tanto negro no Rio Grande do Sul, teve a resposta de sua esposa, Janja: "É porque [os negros] são os mais pobres e moram nos lugares mais arriscados…”

As elites e as estruturas políticas do Brasil, em geral, e do Rio Grande do Sul em particular devem pedir desculpas à sociedade brasileira pela imposição, ao longo dos anos, de um modelo de desenvolvimento insustentável, voltado para as desigualdades sociais, brutalidades contra o meio ambiente, além do terrível sofrimento e mortes de muitos.

No caso do Rio Grande do Sul, o  Professor Marcelo Dutra da Silva, da UFRG (Universidade Federal do Rio Grande), não só vem estudando o cenário climático nos últimos 50 anos, como demonstrando sua decepção com as flexibilizações de normas, impedimentos, leis e tudo mais  que facilitasse a degradação ambiental, que contribuiu para as enchentes.

Para o Professor Marcelo Dutra, isto “acontece dentro das casas legislativas. É lá nas câmaras de vereadores, que essas votações ocorrem e que essas vulnerabilidades são ampliadas, porque quem mexe nisso, mexe sem entender e sem compreender ... o verdadeiro perigo”.

Assim sendo, com a cumplicidade de autoridades nesta tragédia somos levados a pensar - onde será a próxima?  Sem responsabilização de culpados, com provas contundentes, dificilmente a sociedade vai se organizar para pensar um modelo de desenvolvimento centrado na justiça social e ecológica e os negacionistas serão os premiados.

Nas próximas eleições, os eleitores terão a chance de eleger seus representantes municipais e devem observar os candidatos negacionistas e os que reconhecem os riscos das mudanças climáticas, com compromissos com práticas sustentáveis. 

Comentários