Difamação de Urnas Eletrônicas e Multi-bilhões de Dólares – Parte II
Fonte: TRE - PR
A difamação de urnas eletrônicas por mentiras e
teorias da conspiração pela Corporação Fox News pode resultar no pagamento de
multi-bilhões de dólares. Num primeiro julgamento, a favor da corporação
Dominion, a Fox News concordou em pagar quase quatro bilhões de reais, como foi
explicitado na Parte I deste tópico.
Como a difamação e malícia envolve dinheiro,
não sabemos se houve excesso ou não na recompensa financeira. É possível que a
empresa Dominion tenha sido compensada, mas a sociedade americana perdeu muito,
já que o caso demonstrou grandes riscos à democracia. Até parece que em se tendo
dinheiro ou multi-bilhões de dólares a difamação continua.
O mais preocupante é que estes movimentos de difamação
partem de uma extrema direita fascista, que enaltece a violência contra a democracia,
valorizando turbas de violência de ruas no ataque às instituições e aos
processos democráticos, como se fossem mártires da nação. O nosso 8 de janeiro
e o ataque ao Capitólio nos mostraram a capacidade violenta da extrema direita
fascista.
Embora se trate de um julgamento de difamação
de urnas eletrônicas, questões mais sérias inerentes aos riscos à democracia
não foram expostas. Primeiramente, a corporação Fox News, como a maior cadeia
de média do país, não sofreu uma humilhação pública, ao não fazer um pedido de
desculpas ao povo americano pelas mentiras levantadas. Pelo que se comenta,
foram mentiras levantadas para que a corporação Fox News mantivesse uma
audiência crescente, num mercado em que são consumidas intensamente, resultando
em lucros de multi-bilhões de dólares.
Depois, como bem disse a Professora de Direito,
RonNell Andersen Jones, da Universidade de Utah, não se conseguiu uma resposta
à grande mentira. Para ela, durante o julgamento não se perguntou ou respondeu se
a eleição foi roubada ou se a fraude aconteceu. O que mais interessa à democracia é a
segurança das urnas, mas nada disto foi apontado. Nos últimos anos o governo
americano tem investido maciçamente na segurança de urnas eletrônicas. Apesar
de riscos, com certeza a segurança delas foi melhorada.
No Brasil, Bolsonaro não só atacou as urnas
eletrônicas como a própria Justiça Eleitoral, sem provas, dizendo que só
aceitaria os resultados das urnas se ele fosse o eleito. Esta malícia e
difamação de urnas eletrônicas vão ser julgadas por nossa Justiça Eleitoral. Espera-se
que os quatro anos de difusão intensa de Fake News, mentiras e teorias da
conspiração, além do 8 de janeiro, sejam consideradas neste julgamento.
O estranho é que Bolsonaro não envolveu a
fabricante de nossas urnas eletrônicas, mas só a Justiça Eleitoral. Por que a
empresa fabricante não foi envolvida em suas denúncias? Quem é o fabricante de
nossas urnas? Como ela se compara com as fabricantes americanas?
Espera-se que o julgamento, como sempre vem
acontecendo no país, enfatize a defesa da democracia. Se antes havia muitas
dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas no país, os avanços da
tecnologia e maior controle sobre elas está acontecendo, implicando num maior
controle social da tecnologia de voto eletrônico. Uma Comissão de Transparência
foi um grande passo nesta direção, com o envolvimento da comunidade científica
e da sociedade como um todo.
Durante a eleição de 2020, 59 cientistas de
Ciência da Computação, das principais Academias de Ciências dos Estados Unidos,
emitiram uma carta afirmando que tem se preocupado e vem estudando a segurança
do voto eletrônico. Para eles, existem falhas de segurança nas urnas
eletrônicas, razão pela qual vem alertando que tais sistemas se tornem mais
seguros contra cyber-ataques.
Contudo, apesar destas sérias preocupações,
eles nunca afirmaram que as vulnerabilidades técnicas das urnas eletrônicas
alteraram resultados de eleições nos Estados Unidos. Para eles, os que afirmam
que eleições foram manipuladas estão fazendo uma “afirmação extraordinária”,
que deve ser apoiada em evidências verificáveis e persuasivas. Na ausência de
evidências, afirmaram eles, é simplesmente especulação.
Neste caso, como afirmaram os cientistas da
computação dos Estados Unidos, tanto as denúncias de Trump quanto as de
Bolsonaro sobre a manipulação de urnas eletrônicas não têm substância e são
tecnicamente incoerentes. Dito isto, tanto os Estados Unidos quanto o Brasil vêm
adotando medidas para fortalecer a segurança do voto eletrônico contra
adversários sofisticados.
Nos Estados Unidos, tanto a Diretora da Agência
de Infraestrutura e Cyber-Segurança, Jen Easterly, e o conselheiro do Centro Brennann em
Eleições e Programas de Governo, Derek Tisler, foram taxativos em afirmar que o
grande desafio hoje nos Estados Unidos não são mais as vulnerabilidades
técnicas das urnas eletrônicas, mas a desinformação e teorias de conspiração
difundidas por grupos extremistas visando arruinar a democracia. Vivenciamos isto também no Brasil.
O que se espera é que no Brasil o julgamento de
Bolsonaro não se limite apenas à difamação das urnas eletrônicas, mas envolver
a defesa da democracia. Trata-se de um julgamento de uma extrema direita
fascista que deve aprender a lição como foi feito na Alemanha nazista.
Bolsonaro, seus financiadores e seguidores e seu Partido Político devem pagar
alguns milhões de reais e até bilhões pelo que fizeram por práticas fascistas e
negacionistas, além de outras punições.
Se medidas duras não forem consideradas, como
foi feito na Alemanha nazista, destruindo mitos e enfrentando demônios, depois
de tantos ecos de horrores nos últimos anos, estaremos enveredando por um
tenebroso e arrepiante caminho.
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