Lobistas e Advogados das Big Techs Sequestram Leis Comerciais
Fonte: FIA
Há poucos dias a senadora Elizabeth Warren, nos
Estados Unidos, divulgou relatório mostrando as tramas das Big Techs em
manipular as leis comerciais americanas em benefícios delas. Para a senadora
Warren, durante décadas a cúpula oficial do governo americano negociou acordos
comerciais em segredo, representando o interesse de grandes corporações sobre
os trabalhadores, consumidores e pequenas empresas.
A administração do governo Biden prometeu mudar
este enfoque e usar políticas de comércio para promover competição e avançar
numa agenda centrada nos trabalhadores e consumidores, ajudando controlar o comportamento abusivo das Big Techs e outras corporações internacionais.
Contudo, as Big Techs continuam trabalhando
para sabotar os esforços da administração Biden e um conjunto de e-mails entre o
Escritório do Comércio Representativo dos Estados Unidos (US Trade
Representative – USTR) e as Big Techs, recentemente obtidos pela senadora
Elizabeth Warren, mostraram o continuado acesso e influência destas corporações
e seus esforços para manipular a política de comércio e fragilizar os esforços
em promover competição no setor.
Outros relatórios mostram as ligações entre as
Big Techs e o Departamento de Comércio, que desempenha um crescente papel na
política de comércio, incluindo o comércio digital. Portanto, estas duas
instituições governamentais (USTR e Department of Commerce) concedem irrestrito
acesso aos lobistas e advogados corporativos, mas negado ao público.
Por sua vez, o Congresso Americano apresentou
um conjunto de projetos de leis sem precedentes, visando controlar as Big Techs
gigantes que dominam os setores de vendas, transportes e outros setores, ou
seja, uma legislação que acabaria ou mitigava os abusos das grandes plataformas
sobre os trabalhadores, consumidores e pequenos negócios foi aprovada por
comissões.
Enfim, os congressistas buscavam conter a
vigilância comercial online e a exploração de dados pessoais de cidadãos
americanos, assegurando que os sistemas de Inteligência Artificial (AI) não
mascarem a discriminação. Contudo, boa parte das propostas legislativas não se
tornaram leis comerciais, graças ao lobby das Big Techs.
Uma poderosa estratégia camuflada e sigilosa
priorizada pelas Big Techs para inviabilizar estes esforços é formar uma preempção
internacional. O objetivo é garantir a ligação de regras internacionais de
comércio digital que limitam e até proíbam totalmente os governos em adoptarem ou
impor políticas domésticas para conter os abusos de privacidades das Big Techs,
discriminação da inteligência artificial e outras ameaças e condutas
monopolísticas que ameaçam nossa economia e democracia.
Em resumo, já está sendo revelado as tramas das
Big Techs destinadas à preempção internacional nas iniciativas de privacidade, antimonopólio
e transparência de algoritmo nos acordos de comércio digital, quando os Estados
Unidos e seus parceiros comerciais são bloqueados em regras internacionais que
proíbem iniciativas de governança digital. É viver num mundo governado pelos
interesses das Big Techs.
Por fim, os emails compilados pela senadora
Warren mostram que ex-servidores da USTR e do Department of Commnerce no
momento trabalham nas empresas das grandes corporações como Amazon, Google e
Facebook, estabelecendo reuniões com os líderes atuais e discutindo acordo de
comércio em negociação ativa. Em seu relatório, a senadora Warren faz uma
grande recomendação no sentido de que a USTR rejeite a agenda das Big Techs,
mesmo reconhecendo ser difícil separar a agenda das Big Techs da USTR. Esta
falta de transferência nos acordos comerciais é mais do que preocupante.
Isto acontece num momento em que o Presidente
Biden busca acordos comerciais anti-China em várias partes do mundo, a exemplo
das negociações do acordo Indo-Pacific Economic Framework (PEF), envolvendo
vários países asiáticos. Do lado das
Américas, as discursões já se iniciaram no Americas Partnership for Economic
Prosperity (APEP), embora Argentina e o Brasil, maiores economias da América do
Sul, não estejam participando desta parceria.
Lembrar que os lobistas e advogados das Big
Techs estão por trás de portas fechadas tentando influenciar todas as regras
destes acordos. Felizmente, tomadores de decisões nos Estados Unidos e em
várias partes do mundo estão acordados para a realidade indiscutível da
autorregulação das Big Techs enquanto catástrofe colossal para as democracias,
qualidade do debate público, desinformação durante a Pandemia, direitos
humanos, direitos trabalhistas, taxação inadequada e uma série de outras
questões, incluindo o algoritmo danoso e perverso usado por elas.
Nesta direção, mais de uma centena de
organizações americanas, incluindo centrais sindicais, encaminharam documento
ao Presidente Biden não só pedindo mais transparência, mas a participação delas
nos debates de acordos comerciais por se sentirem prejudicadas nos acordos do passado,
centrados nas corporações. Estão pedindo acordos centrados nos consumidores,
trabalhadores e ações climáticas, ou seja, com benefícios para as pessoas e o
planeta.
Comentários