Bancos Centrais, Tecnologia e o Fim da Democracia
Fonte: Banco Central do Brasil
Paradoxalmente, a descrença em Bancos Centrais
com a crise financeira de 2007-2008 levou estas instituições a buscarem
independência na busca de mais poderes e encontraram na tecnologia de
informação o caminho adequado para este propósito que, para muitos
pesquisadores, pode ser o fim da democracia.
Para o professor de Direito, Lev Menand, da
Escola de Direito de Columbia, nos Estados Unidos, o Banco Central Americano, o
chamado Federal Reserve (Fed) nos últimos 15 anos vem colocando o projeto dos
Estados Unidos em risco. Com intervenção nas políticas públicas e na vida
econômica, o Fed encoraja o mercado financeiro em detrimento da economia
produtiva, aumentando as desigualdades e acentuando a lacuna da riqueza.
Por fim, o Fed é hoje a instituição mais
poderosa dos Estados Unidos, funcionando na obscuridade. O professor Lev
Menand, como economista e ex-assessor do secretário do Tesouro Americano aponta
os riscos para a democracia americana dizendo que “sem estabilidade econômica e
monetária, a democracia não sobrevive”. O Fed, depois de mais de um século, não
conseguiu isto.
As justificativas de economistas para a
independência de Bancos Centrais vêm sendo contestadas no mundo inteiro e, para
muitos cientistas políticos, estamos diante de uma terrível maximização de
poder. Consequentemente, como já foi dito, boa parte da literatura sobre a
independência de bancos centrais tem se preocupado com questões sobre como
desenhar e instaurar a separação efetiva da política monetária de outras
políticas governamentais.
A independência do Banco Central no Brasil está
ameaçando sorrateiramente a democracia brasileira de forma nunca vista,
mantendo taxas de juros elevadíssimas e não justificadas, que comprometem o
crescimento do país, aumentando a fome, as desigualdades sociais e o
empobrecimento da população.
Nos últimos dias o Presidente Lula vem
criticando as elevadas taxas de juros e implorando, sem resposta, uma
explicação por que o país tem as maiores taxas de juros do mundo. A
independência do Banco Central do Brasil se deu em 2022, num governo de extrema
direita, quando a prioridade era privilegiar o mercado financeiro, sendo o
atual presidente do Banco Central indicado na gestão do governo Bolsonaro.
Este presidente tem demonstrado claramente que
seu poder, mesmo sem ser eleito, é superior ao do Presidente da República
quando diz que vai ver o que pode ser feito pelo país. É como se ele fosse primeiro
ouvir a Faria Lima (Avenida de São Paulo aonde a elite financeira decide tudo
neste país) e não os reclamos do Presidente Lula sobre as elevadas taxas de
juros.
Fica, assim, claramente demonstrado que o Banco
Central privilegia o mercado financeiro. Neste caso, as elevadas taxas de juros
encarecem o crédito tanto para as pessoas físicas quanto para as empresas. O
resultado disto é a redução do crescimento econômico, uma vez que nem as
famílias têm dinheiro para comprar e nem as empresas para investir.
É bom lembrar que uma das marcas do governo
anterior foi, também, a disseminação do ódio, violência, desinformação e fake news.
Já que não se tem uma explicação para se ter uma taxa de juros de 13,75%, será que
isto não é uma desinformação que está sendo divulgada para se tornar uma verdade?
No momento, a grande inovação tecnológica nos
sistemas financeiros do mundo é o uso da moeda digital, denominada de CBDC (Central
Bank Digital Currency) que, para alguns pesquisadores, pode ser o fim da
democracia no mundo, ao se tentar construir uma rodovia monetária para o
inferno. Neste caso, a tecnologia, o poder político e a justiça social poderão
nos levar a experiencias desagradáveis com esta inovação tecnológica. CBDC tem
o potencial de desencadear consequências sociais indesejáveis e inesperadas
para todos nós, através de punições que poderão ser severas.
O sistema financeiro sempre foi um dos
primeiros a adotar as tecnologias de informação (fintech, blockchain, crypto
moedas), que muitas vezes beneficiam mais seus inventores do que seus clientes.
No caso do CBDC, haverá uma concentração de poder no âmbito do governo e uma
redução de poder nas instituições do setor privado.
Nas economias avançadas, um arcabouço legal do
CBDC ainda está em progresso, ao contrário do que acontece no Brasil aonde a
moeda digital está prestes a ser implementada. O Brasil sempre foi o escolhido
por empresas internacionais de tecnologia de informação para experimentar suas
bugigangas tecnológicas.
Segundo recente relatório da Casa dos Lordes, no Reino Unido, enquanto parecer que não há vantagens significantes para o Reino Unido ser um adotante muito cedo da CBDC, se reconhece que os desenvolvimentos tecnológicos e escolhas de outros países podem melhorar o caso para o CBCD no Reino Unido no futuro.
Por fim, a implementação desta tecnologia não pode acontecer sem um consistente arcabouço legal e orientações éticas, sociais e ambientais, até porque não se conhece ainda a relação entre as moedas digitais, democracia, políticas públicas, governança pública e o fenômeno da maximização de poder.
No Brasil, no momento, a experiencia entre a política monetária e o crescimento econômico é péssima. Ademais, a ditadura digital, investigação, ataques aos direitos humanos e invasão da privacidade voltaram às páginas dos jornais nos últimos dias. Quando os riscos de uma tecnologia chegam a estas dimensões, arruinando a democracia, torna-se difícil falar de suas vantagens.
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