Desconfiança de Bancos – Privatizam os Ganhos e Socializam as Perdas
A desconfiança de bancos vem de longe e já á foi dito que não se pode confiar neles uma vez que representam aos olhos do público a privatização de ganhos e a
socialização de perdas, principalmente nos períodos de crises. Por outro lado,
resistem às iniciativas de processos regulatórios.
A recente falência do Silicon Valley Bank, nos Estados Unidos, teve duas causas principais – a crescente subida de juros pelo Federal Reserve (Banco Central americano) e a resistência ao processo regulatório. Os Bancos são instituições poderosas e grandes e não deveriam falhar, pois quando falham buscam a socialização de suas perdas e prejuízos com a sociedade.
Não se sabe ainda o que vem por aí do lado do
sistema financeiro, mas diante do que está acontecendo não se observa ainda
iniciativas dos próprios Bancos sobre a definição de marcos regulatórios
apropriados para se evitar tantas crises. Até parece que a cada década a
sociedade tem que pagar um preço muito alto por conta das crises do sistema
financeiro, a exemplo do que aconteceu em 2008, aumentando a desconfiança de bancos.
Em 2021, a professora Saule Omarova, da
Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, foi nomeada pelo Presidente Biden
para chefiar o Escritório de Controle da Moeda, órgão principal de regulação do
sistema bancário, como imigrante e mulher a liderar uma instituição de 160
anos.
Infelizmente, logo que foi nomeada a indústria
bancária e seus aliados políticos conduziram uma intensa campanha pública para
bloquear a candidatura da professora Omarova, que tinha trabalhos escritos
sobre as falhas do sistema financeiro, pedindo uma forte supervisão pública.
Foi vista até como uma comunista, mas o que realmente afundou as chances da
professora foi o fato de se opor a retirada de restrições regulatórios sobre os
Bancos americanos.
A professora demonstrou e comprovou em seus
escritos que seu objetivo era assegurar que os Bancos focassem na ajudas às
pessoas e a promoção da economia real e não em obter altos lucros de negócios
especulativos. Por fim, a posição dela era muito simples. “Acho que nosso
sistema financeiro precisa fazer melhor para servir aos interesses dos
americanos comuns, aos negócios americanos e a real economia americana”.
Agora com a crise do sistema financeiro se percebe claramente a falta de atuação de órgãos reguladores do sistema. A crítica que tem sido feita nos Estados Unidos é que nem o Congresso Americano e nem o Federal Reserve estão interessados em regulação do sistema.
Tudo isto piorou na administração
de Donald Trump, cujo legado foi o de indicar pessoas para as posições de regulamentação
do sistema, exatamente aquelas que se opunham e visavam enfraquecer a regulação
ou o pouco do que existia antes, a exemplo da Lei denominada de Dodd-Frank, da administração
de Obama, que poderia ter evitado a atual crise, que resultou na desconfiança de bancos.
Como pode um Banco Central se preocupar com a
política monetária de um país, rejeitando uma profunda supervisão pública e a atuação
de seus órgãos responsáveis por iniciativas regulatórias? A situação do Brasil
é, com certeza, pior. A independência do Banco Central na administração Bolsonaro
até parece mais uma iniciativa de desregulamentação do nossos sistema
financeiro do que uma verdadeira independência.
Onde está o Congresso Nacional ou Senado, que não pode compactuar com a arrogância
do presidente do Banco Central, aceitando uma taxa de juros de 13,75%? Onde estão
os órgãos reguladores compactuando e aceitando que as pequenas e médias empresas
e sociedade como um todo paguem silenciosamente os juros mais caros do mundo?
No Brasil estamos vivenciando os resultados de
um discurso neoliberal perverso, que enfatiza a destruição do bem-estar social,
ataca os sindicatos e fortalece a desregulamentação, quando a liberdade é
transferida da liberdade humana para a liberdade do mercado, através de ações
coercitivas do Estado. Ao longo dos anos, o regime financeiro dominante no
Brasil conseguiu produzir a concentração econômica, de capital e de poder nas
mãos de poucos que lucraram muito, enquanto a maioria dos cidadãos são
incapazes de confrontar as classes dominantes levantando a voz.
Embora se perceba que vem de longe a percepção
do poder destrutivo do Sistema Financeiro do Brasil, que funciona numa
obscuridade total, dificultando a avaliação de questões relacionadas com um modelo de finanças sustentáveis, no momento, com a independência do Banco
Central, o pouco do que resta da democracia brasileira está em risco. Não se pode
discutir autonomia e independência de bancos centrais, sem discutir os poderes
dos órgãos de supervisão e dos marcos regulatórios, que não devem se limitar
apenas em preencher relatórios.
Não se pode continuar com modelos arcaicos e sem uma regulamentação apropriada, longe da obscuridade, evitando-se a improvisação, até engraçada do “chama o Meireles”, quando se quer salvar o sistema financeiro. A crise dos Bancos está aí de novo e é provável que sejamos convocados a pagar a farra deles mais uma vez. Privatizaçao de lucros e socialização de prejuízos não devem ser práticas de grandes instituições numa democracia.
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