Pecuaristas Americanos e Qualidade da Carne Brasileira
As
associações de pecuaristas americanos elogiaram não só as tarifas, mas a
investigação de Trump sobre o desmatamento e qualidade da carne brasileira, que
não se enquadra no padrão de qualidade deles, que levou mais de dez anos para
ser construído.
Nossa
crítica foi contundente ao ataque de Trump à democracia brasileira e ao
Ministro Alexandre de Moraes não só aqui, mas na mídia internacional. Contudo,
nossa crítica também vem sendo contundente aos Poderes da República, quando se
trata da destruição ambiental.
A
investigação de Trump sobre o desmatamento pode ser um brefe, mas pode ser um
alerta para a sociedade brasileira, que não parece preocupada com o descaso das
autoridades brasileiras em continuarem com a destruição ambiental, como os
exemplos recentes das leis do marco temporal, do agronegócio e da destruição.
A natureza
criminosa destas leis precisa ser tipificada pela justiça ambiental do país,
como já foi o caso do marco temporal, considerada ilegal pelo STF (Supremo
Tribunal Federal). Além disto, é preciso que se recorra às Cortes Internacionais,
que recentemente se tornaram bastante rígidas em relação aos crimes
ambientais.
Os governos
no Brasil aceitaram o discurso perigoso, falso e danoso de que o Brasil deveria
“alimentar o mundo”. Para isto fortaleceram corporações e abriram as portas dos
bancos públicos para financiar o desmatamento, tomar as terras dos índios e
envenenar a população com agrotóxicos, sem nenhuma preocupação com a soberania
alimentar.
O resultado
disto está aí, com a concentração de riquezas em poucas mãos, o empobrecimento
da população e, no caso da carne, a fila do osso. Não podemos, também, deixar
de falar da exploração e regime de escravidão de mulheres, índios e negros nos
campos deste país.
Assim
sendo, os governos deste país deveriam pedir perdão à sociedade pela falta de
defesa de um programa sobre a soberania alimentar,
revertendo recursos públicos do suor do povo brasileiro nos bancos públicos, beneficiando
corporações avarentas, para áreas como agroecologia e reforma agrária, voltadas
para o desenvolvimento sustentável.
A
investigação de Trump, que pode barrar para sempre a entrada da carne
brasileira no mercado americano é em cima do desmatamento ilegal, conforme está
descrito no documento oficial, Seção 301, que abrange várias atividades da
economia brasileira:
“Evidências
indicam que a falta de aplicação efetiva das leis e regulamentações ambientais
no Brasil contribuiu para o desmatamento ilegal no país, e pecuaristas e
agricultores brasileiros têm utilizado essas terras desmatadas ilegalmente para
a produção agrícola, incluindo pecuária e uma ampla gama de culturas, incluindo
milho e soja”.
“A
conversão de terras desmatadas ilegalmente para a produção agrícola proporciona
uma vantagem competitiva injusta às exportações agrícolas, reduzindo custos e
expandindo a disponibilidade de insumos agrícolas.”
Todos nós devemos
ser contra o desmatamento ilegal e, pelo que se comenta, as grandes corporações
são responsáveis por isto. O documento de Trump só não cita que foi no governo
Bolsonaro, que o desmatamento ganhou força no país. É muito estranho a
investigação de seu governo sobre desmatamento no Brasil, num momento em que já
demitiu centenas de cientistas e especialistas que analisavam os efeitos das
mudanças climáticas.
Para a
professora de ciências políticas da Stanford University, Margaret Levi, Trump
nega a ciência e sai das projeções baseadas nela, mostrando os custos das
mudanças climáticas sobre os cidadãos. Para ela, Trump está interessado nos
negócios e não no bem-estar dos cidadãos.
Por outro
lado, as associações de pecuaristas americanos já vinham pedindo a proibição da
entrada da carne brasileira no mercado americano, a exemplo da National
Cattlemen’s Beef Association (NCBA) ou Associação Nacional de Pecuaristas, por
conta das “sérias preocupações com a segurança alimentar. Para estes grupos, a fiscalização frouxa da
segurança alimentar no Brasil está colocando os consumidores americanos em
risco, além de prejudicar a reputação da carne bovina entre os consumidores.
Para um dos
diretores da NCBA, Kent Backus, não foram as questões competitivas que levaram
sua associação a pedir a suspensão das importações da carne bovina do Brasil, mas
devido ao fraco histórico do Brasil em notificações de doenças, particularmente
a encefalopatia espongiforme bovina atípica (EEB) e outras ameaças à saúde
animal.
Para Backus,
“a última coisa que queremos é colocar nosso rebanho e nossos consumidores em
risco". "Também não precisamos negociar com países que possam minar
ou comprometer a imagem de confiança da carne bovina que construímos nos
Estados Unidos."
Assim
sendo, pelo que se comenta na imprensa americana, eles têm criticado a
qualidade da carne brasileira, sobretudo sobre “o histórico alarmante de febre
aftosa e de não relatar surtos de saúde animal, como casos de doenças da vaca
louca”.
Com isto,
dificilmente a carne brasileira entrará no mercado americano. Isto é mais um
exemplo da falsa promessa de “alimentar o mundo”, a serviço do agronegócio das
grandes corporações. A soberania alimentar do Brasil deve repudiar a avareza
destas corporações e se concentrar na agroecologia e reforma agrária, a serviço
de todos.
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