Da Geração Z aos Mais Velhos na Batalha de Não Morrer
O que
observamos no mundo de hoje, da geração Z aos mais velhos, é uma grande batalha
de prolongamento da vida, esquecendo que não se chega aos céus sem morrer,
pelos menos para os cristãos que querem a vida eterna. Ademais, o prolongamento
da vida em bases materiais é mais uma forma de negar a morte, na relação de
vida e morte.
A lição do
Evangelho de Cristo nos leva a refletir sobre isto, de modo que tanto os mais jovens
como os mais velhos deveriam começar a deixar morrer dentro de si uma série de
vaidades, orgulhos, maldades, busca de poderes e da beleza corporal, em
detrimento da beleza interior e de amor ao próximo. A parábola do grão de trigo
no Evangelho de João nos leva â reflexão sobre a importância da morte como
caminho para a vida eterna.
De acordo
com a literatura, a geração Z tem demonstrado preocupações com as desigualdades
sociais, destruição ambiental e outros males de um mundo visto como uma
perturbadora confusão de horrores. No caso do Brasil, com a COVID-19, o
contágio, sofrimento e morte estiveram presentes na mente de todas as gerações.
Será que a
Geração Z, diferentemente das demais, está começando a pensar em deixar morrer
dentro de si o egoísmo, a ambição, a inveja, a ganância, a raiva e a violência,
em busca de um mundo melhor? Se assim o
for valorizaremos a vida, sem evitar a morte. Já foi dito que ao evitar a
morte, o homem ironicamente evita a vida.
Comenta-se,
também, que o egoísmo, a ambição, bravatas, ganância, sede de poder,
raiva, ódio e violência procedem de um
profundo medo do fracasso e da morte. Muitas vezes a morte cria uma ansiedade
existencial, com muitos em buscas vãs em fuga de nossa finitude humana. O mundo
está cheio de projetos heroicos daqueles que negam a morte, na busca de uma
imortalidade fracassada.
Todos nós
viemos à existência sem nossa vontade e morreremos sem nossa vontade. É preciso
compreender que fomos lançados ao mundo para descobrir que somos
seres-em-direção-à-morte. Santo Inácio de Antióquia
fala da morte como um nascimento. “Estou passando pelas dores do nascimento”,
escreve ele aos romanos enquanto se aproxima do martírio.
Está claro
para todos que todo homem morre e a cruz de Cristo não nos livra da morte, mas
nos mostra que não devemos temê-la, pois Ele morreu para nos salvar e nos levar
a vida eterna. Portanto, a morte corporal é o nascimento para uma vida humana
autêntica. Infelizmente, a negação cultural e
institucional da morte — ou seja, o medo da morte — continua a guiar, de forma
inquieta, muitas atividades.
Nos últimos
100 anos são vários os impulsos que tentam negar a morte, com tentativas de
desnaturalizar nossos corpos, em criações de um novo corpo artificial,
profundamente alienado da mente. Assim sendo, a negação da morte, prolongando a
vida biológica ou recriando nosso próprio corpo para ocultar sua finitude e
condição de criatura é uma prática comum nos nossos dias.
Perpetuar a
perfeição artificial, o prazer e a estética, apenas revela o desespero niilista
diante da morte que busca esconder: mata o ser humano em nós. Evidentemente,
que quando se busca melhorar o visual. ocasionalmente (sem perpetuar a
perfeição), não parece que se está negando a morte. Faz parte de nossa cultura
esconder algumas rugas ou pregas e outras características do envelhecimento numa
noite de festas.
Já foi dito
que só o corpo se lembra de que é finito. Só ele nos enraíza nos seus limites e
nos impede ainda de ser Deus para nós mesmos e para os outros. Por conta disto,
as tentativas de prolongamento da vida nos dias de hoje são preocupantes,
considerando que a cultura atual procura não só negar a morte, mas todos os
tipos de sofrimentos.
Saindo da
Bíblia e entrando na antropologia e psicologia não podemos esquecer o trabalho
do antropólogo Ernest Becker e da teoria da gestão do terror, que nos levam a
compreender como nós humanos embarcamos num mundo de ilusões sociais, com uma
cultura que cada vez mais enfatiza a negação da morte e ofusca o sofrimento
humano, com os avanços do conhecimento científico.
As
estatísticas estão sempre mostrando a suposta qualidade de vida dos países mais
felizes do mundo, mas não se discute que são nestes países aonde altos índices
de suicídios são registrados. Não podemos negar o sofrimento humano, expondo
apenas a qualidade de vida material, sem nenhuma reflexão da condição humana.
Hoje,
segundo a literatura, estamos diante de dois projetos ou sistemas heroicos
surgidos do medo da morte e do desejo de escapar dos desafios da existência
orgânica e material. Um é religioso e o outro é científico – ambos ameaçam
levar o mundo a mais destruição e alienação. O sistema heroico religioso é
baseado no fundamentalismo cristão e promete uma existência corporal
sobrenatural acima do mundo “amaldiçoado” e “pecaminoso”. Tem seu foco numa vida futura “real” após a
morte, exigindo um afastamento ou fuga deste mundo e de seus problemas.
O outro é o
sistema do herói científico/secular, chamado de utopismo técnico, que acredita
no "progresso" tecnológico infinito.
É o projeto científico das tecnologias que já vem causando sérios danos
à existência humana, através da alienação, mortes e suicídios. A inteligência artificial
está chegando para fortalecer tudo isto.
Já mencionamos que o uso intensivo das mídias sociais tais como Instagram, Facebook, Tik Tok, Snapchat e outras é responsável por suicídios em diversas partes do mundo e pela construção de uma sociedade de idiotas, uma vez que é o prazer material que nos alimenta e não nossa preocupação com os que estão sofrendo com isto.
Por fim, precisamos de uma geração, que pode ser a Z, que não continue negando a morte para nós cristãos ou produzindo mais mortes, mas com a crença no surgimento de um novo tipo de pessoa em harmonia com a natureza, que poderia formar comunidades genuínas para substituir as coletividades de nosso tempo, vistas como criaturas criadas por uma cultura materialista.
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