O Capitalismo Digital Produz Idiotas, Ilusões e Violência

 

Fonte: Medium                                                                                                                                               

O capitalismo digital, através das redes sociais, está aí produzindo idiotas úteis, co-optados para ajudar os ricos a prevalecerem às custas de todos nós. A ilusão criada pelas Big Techs e Big Data, empacotada pelas plataformas digitais, prospera com nosso sofrimento, vulnerabilidade, danos e violência, incluindo o suicídio.

Muitos idiotas não reconhecem que a liberdade sentida por meio de cliques, compartilhamentos e a compulsão de serem vistos, postando fotos, não passa de uma bela ilusão, no lazer digital, que poderia ser um espaço libertador, mas tornou-se uma máquina estrutural de exploração emocional, simbólica e econômica, criada pelos algoritmos das Big Techs para a acumulação de capital.

O renomado filósofo, Umberto Eco, disse recentemente que houve uma invasão de idiotas nas redes sociais. Para ele, as mídias sociais dão a legiões de idiotas o direito de falar, quando antes só falavam num bar, depois de uma taça de vinho..., mas agora eles tem o mesmo direito de falar como um ganhador do Prêmio Nobel.

Passamos horas no Facebook, Instagram, Tik Tok, Snapchat e outras plataformas, convencidos de que estamos escolhendo, curtindo e até mesmo nos libertando. Mas quem realmente se beneficia? Não somos nós. Para alguns criminologistas, nem tudo que parece empoderamento realmente o é. Este lazer digital é muito danoso e violento, mas infelizmente está aí acontecendo com nosso consentimento aparente.

Portanto, temos que fazer um esforço para sair do pacote de ilusões das mídias sociais. Infelizmente vivemos numa economia emocional onde os algoritmos não recompensa o que é valioso, mas o que é viral. Não é o ético, mas o que é lucrativo. Lágrimas, nudez, automutilação, humilhação, tudo vale se atrair cliques.

O Brasil é um campo fértil para as mídias sociais, onde os influencers têm mais espaço do que os acadêmicos. Além disto, tivemos a destruição das universidades no governo anterior. Nos Estados Unidos, isto está acontecendo de forma nunca visto, incluindo as investidas contra grandes universidades tais como Harvard e Columbia.

É lamentável o que aconteceu recentemente nos Estados Unidos, quando o Conselho de Vacinas do país foi substituído por outro que, pelo se comenta, é anti-vacina. Por outro lado, os membros do Conselho de uma das instituições acadêmicas mais prestigiada do  país (Fulbright Commission), da qual fui bolsista, renunciaram seus cargos por não aceitarem as exigências do governo quanto à escolha de seus bolsistas.

Há mais de 20 anos iniciei o uso de redes sociais, começando com meu blog para divulgar material acadêmico com meus ex-alunos. Na época, tive alguns textos divulgados pelas mídias sociais através do Congresso em Foco, Eco-Debate e outros.

Contudo, diante da censura atribuída pelas mídias sociais a meus textos (que sempre foram críticos da nossa realidade), desisti delas e comecei a divulgá-los no meu próprio blog. Estou falando de pequenos textos, pois minha produção acadêmica foi publicada em revistas científicas no Brasil e exterior.

Nos últimos três anos tive uma publicação mais continuada no blog, o que levou a um aumento de visitantes, principalmente nos Estados Unidos e Europa. Os blogs, em geral, já tiveram seu auge em termos de divulgação de notícias, mas hoje são mais usados pelas empresas para vendas de produtos, exceto os oriundos da produção acadêmica.

Nunca pensei também num blog de grande audiência, de divulgação de notícias, de publicação de anúncios e outros mecanismos, pois não quis sair de sua origem, como um blog mais acadêmico. Assim sendo, mesmo com uma audiência limitada, o blog está aí durante 20 anos.

Como a audiência do blog parece ser mais cativa, não houve tanta influência das mídias sociais. Ler mais de uma linha é um sacrifício para maioria dos brasileiros, sendo um campo fértil para as mídias sociais. Pesquisa recente realizada em Portugal mostrou que mais de 60% da população não lê um livro por ano. No Brasil, talvez chegue a mais de 90% da população.

Hoje se você divulga textos na plataforma Google é quase forçado a entrar em outras plataformas como Facebook e Instagram para postá-los. Resisti entrar no Facebook, mas recentemente tive de fazê-lo. A questão é aumentar o número de cliques para estas plataformas ganharem dinheiro, mas não lhes dei esta oportunidade.

Nunca tinha recebido uma advertência da Google, hospedeira do blog, sobre minhas publicações. Contudo, há poucos dias isto aconteceu. A Google não deve ter gostado de minhas críticas ao próprio Google e Facebook, como instrumentos de exploração.

O capitalismo digital não domina mais pela força quando pode nos seduzir e nos explorar e as mídias sociais se tornam o espelho onde muitos esperam “ter importância”, mesmo que isto signifique causar danos ou nos reduzir a espetáculos. Vamos sair deste espetáculo porque, se não o fizermos, continuaremos a celebrar escravidão como idiotas, achando que estamos tendo autonomia.

A questão agora não é mais de ética, mas de ações políticas que possam desmantelar as estruturas das Big Techs. Ainda acredito nas tecnologias desenhadas para nos oferecer outras formas de viver, conectar, aparecer e cuidar. Formas que honrem a dignidade humana, não a visibilidade do mercado e do lucro fácil para poucos.

 

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