Descolonização da Cura e da Terra Impedida pelos Poderes
O debate
sobre a descolonização do conceito de terra no Brasil é mais do que oportuno
neste ano de realização da COP30, quando o colonialismo da terra está ligado a
maior crise climática mundial. Contudo, as ações dos poderes impedem a
descolonização da terra, da cura de doenças e de outras atividades.
É um
momento oportuno não só para reescrever a história das leis violentas que os
colonizadores portugueses usavam para roubar terras, mas para mostrar como a
violência destas leis e ações dos poderes continuam nos dias de hoje, com os
mesmos propósitos, como o roubo de terras, a supressão do conhecimento e das
tradições dos povos indígenas.
A
colonização no mundo afeta quase todos os setores e atividades humanas, imposta
por um sistema econômico com interesses externos e internos, em detrimento do
desenvolvimento sustentável e bem-estar social. Assim sendo, descolonizar a
terra inclui o reconhecimento dos impactos históricos e a continuação do
colonialismo, com violência, mortes, escravidão e crescente sofrimento humano.
Estamos
tratando de duas atividades que estão entre as que mais causam sofrimentos e
violências à humanidade, justamente por conta de poderosas profissões,
corporações e governos. Como aconteceu no Canadá, é preciso mostrar a natureza
criminosa das relações dos governos e demais poderes com as terras indígenas
para fins capitalistas, que se reflete na legislação vigente que permite o
envenenamento das terras indígenas para processos de extração de recursos.
Embora
a brutal violência atual do colonialismo
de terras no Brasil seja reconhecida pela própria ONU, o Congresso Nacional não
parece estar preocupado com isto. É
preciso que a sociedade tome conhecimento da natureza criminosa das ações dos
poderes refletidas nas legislações e justiça ambiental deste país, de modo que haja
uma mobilização e luta pela
descolonização da terra.
Embora seja
a população indígena que sofra mais, com mortes, violência, expulsão e roubo de
suas terras, todos nós estamos sendo
brutalmente atingidos por um colonialismo cruel, brutal e descarado, sobretudo
agora com a crise climática. No colonialismo português era uma luta de índios e
negros contra os brancos. No colonialismo atual é uma luta de uma maioria
empobrecida contra uma minoria muito rica, defendida pelos poderes.
Estamos
vivenciando a violência do marco temporal tornado ilegal pelo STF (Supremo
Tribunal Federal), que nos parece defini-lo como um crime ambiental.
Insatisfeito, o Congresso Nacional aprova a lei do marco temporal, chamada de
lei do genocídio ou lei dos agronegócios, consagrando a violência e manutenção
do colonialismo.
A justiça ambiental brasileira precisa avançar na definição e punição de crimes ambientais, até porque há uma forte conexão entre os crimes ambientais e o crime organizado. Não há dúvidas de que as recentes decisões da Corte Internacional de Justiça levarão o Brasil a ser severamente punido caso implemente a lei do marco temporal – lei de crime ambiental, rejeitada pelo STF.
Além do
marco temporal, há poucos dias, a maior violência do colonialismo neste país
foi praticada pelo Congresso Nacional, ao aprovar a chamada lei da destruição,
enquanto a passividade da sociedade continua como sempre. É preciso que a
justiça ambiental tipifique este tipo de crime.
Esta semana
foi revelado o cúmulo do absurdo. Os congressistas, antes de entrarem de
férias, aprovaram uma pauta-bomba de R$ 30 bilhões em créditos ao agronegócio.
Foi noticiado ainda que o Congresso tem 44 propostas de mudanças ambientais.
Segundo levantamento do Observatório do Clima, todas são nocivas ao meio
ambiente. Isto deve ser analisado à luz da natureza criminosa destas leis e da
justiça ambiental deste país.
Não se pode
deixar de estudar a relação entre a colonização da terra e a colonização da
estrutura médico-farmacêutica, sobretudo em termos da supressão do conhecimento
indígena na cura de doença e do conhecimento da população negra escravizada,
além do conhecimento de outras gerações.
Portanto, a
descolonização da cura de doenças se dá através da integração do conhecimento
biomédico com o conhecimento tradicional, que não deve ser alcançado de forma
simplista, mas reconhecendo os desafios desta integração. A experiencia da
descolonização da cura em países africanos, Canadá, Índia e muitos outros deve
ser considerada.
Já foi dito
que um programa de cura deve combinar microformas de descolonização, a exemplo
da restauração das práticas terapêuticas tradicionais, orações, defumação,
manutenção do fogo sagrado, tambores e cantos
e outros rituais com cura cultural baseada na terra, terapia clínica e curas alternativas.
Para
enfatizar e reacender as conexões com a terra, estudos no Canadá revelam as
chamadas caminhadas medicinais, nas quais os participantes aprendem a
identificar e preparar remédios à base de plantas medicinais como um lembrete
convincente da relação sagrada com os territórios tradicionais. No Brasil, é
riquíssimo o uso de plantas medicinais em curas de doenças, assunto que será
discutido no próximo texto.
Por fim,
vamos abordar a crise climática por meio da descolonização da história da
justiça ambiental no Brasil. Conhecendo os valores que norteiam as regulamentações
ambientais atuais, como o marco
temporal, podemos responder a seguinte questão: Como resolver a maior crise que
a humanidade já enfrentou?
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