Big Techs e Doenças Mentais de Jovens no Carnaval da Loucura
Fonte: Fiocruz
Jose Rodrigues Filho *
Susanna Gouveia Rodrigues **
Os últimos minutos de vida de Ian Ezquerra, 16
anos, foram no Snapchat
A crise de doenças mentais de jovens ou adolescentes,
como depressão e suicídios, chegaram a um ponto nunca registrado na história,
exigindo um acerto de contas com as Big Techs, talvez através da regulação e outros mecanismos rígidos. Só assim será
possível deixar de ler frase como a acima citada, de pais que reconhecem que
muitos conteúdos de mídias sociais são inapropriados até para eles, imagine
para jovens.
Para exemplificar a crise vigente de doenças
mentais de jovens, os números mostram que a taxa de suicídio entre jovens na
idade de 10 a 19 anos aumentou 45.5 por cento entre 2010 e 2019, de acordo com
o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. Além disto,
pesquisa de uma agência do governo americano registrou recentemente que uma em
cada três garotas jovens considerou seriamente em tirar a vida. Em 2011, a
estatística era de uma em cada cinco.
Neste e num próximo texto as questões de
doenças mentais dos jovens e a colonização digital das big techs, incluindo a
saúde mental digital, que se não forem descolonizadas, levarão a maior servidão
e escravidão do mundo, entregue às loucuras dos algoritmos.
Nosso corpo e nossa mente detêm
vulnerabilidades naturais e o poder persuasivo das tecnologias está tirando
vantagens destas limitações, negligenciando a responsabilidade pelos cuidados e
bem-estar de jovens com mentes inocentes e sadias.
No mundo atual existe uma grande desconexão e
os jovens estão perdendo qualificações sociais críticas, através da comunicação
online deles, num contexto não verbal, totalmente desabilitado, onde a
linguagem do corpo e as expressões faciais bem como as reações vocais são
processadas de forma invisíveis. Pesquisa realizada pelo Escritório Nacional de
Estatística registrou que 30% das crianças na faixa etária de 10-15 anos, na
Inglaterra e País de Gales, aceitaram um “pedido de amizade” com pessoas que
não conhecem.
Portanto, o impacto das big techs sobre os
jovens é muito forte, com especialistas afirmando que as mensagens de texto
estão promovendo a ansiedade e baixando a autoestima. Estamos vendo muitos
jovens hoje não aceitarem mais a criação de Deus, com muitos deles tendo uma
imagem pobre do próprio corpo.
Um dos maiores medos comumente expressos por garotas
jovens nos dias de hoje é que elas estão sendo expostas a imagens cruéis ou
implacáveis de um “corpo perfeito” e a uma cultura pro-dieta, seguindo as
mídias sociais, o que está danificando a autoestima e a imagem do corpo delas. As
pessoas podem ver alguém online e tentam se comparar, começando a pensar que
precisam perder peso e mudar seus hábitos alimentares, fazendo isto muitas vezes
de forma extrema e exagerada.
Nesta direção, pesquisa realizada no Reino
Unido pela Sociedade Royal de Saúde Pública mostra o quanto as plataformas de
mídias sociais como Facebook, Snapchat, Twitter e Instagram impactaram a saúde
de jovens, levando a um aumento de depressão, ansiedade, imagem pobre do corpo
e solidão.
Todavia, a questão das big techs neste carnaval
da loucura é mais sério do que se imagina, principalmente na área de saúde, e
precisa ser analisado de uma forma mais profunda. Se os danos do momento são
irrecuperáveis, os do futuro são inimagináveis.
Enquanto os obcecados pela high-tech deixaram
de contemplar a natureza e a face de seus semelhantes, de olhos vidrados nas
telas de celulares, as big techs comemoram e priorizam lucros pornográficos
sobre o bem-estar da sociedade.
Com a pandêmica Covid-19, os adolescentes começaram
a usar as mídias sociais como nunca. Um crescente número de pesquisas está demonstrando
as associações entre o uso das mídias sociais e os pobres resultados de doenças
mentais de jovens, incluindo a ansiedade, depressão, imagem pobre do corpo e
transtornos alimentares. Um fator importante sobre as preocupações com a saúde
mental é a utilização de algoritmos pelas mídias sociais.
Por fim, a colonização digital está aí e são assombrosos
os recentes resultados de pesquisas. Neste carnaval da loucura, as grandes corporações
já estão impondo seus algoritmos danosos e envenenados para o tratamento de doenças
mentais, de forma digital. Que beleza! Lucram exageradamente criando as doenças
e fazendo de conta que podem curá-las.
*Jose Rodrigues Filho é professor da Universidade Federal da Paraíba. Foi pesquisador nas Universidades de Johns Hopkins e Harvard.
** Susanna Gouveia Rodrigues é estudante de Ciências Biológcas na Universidade de Guelph, Canadá.
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