Crianças da Colômbia e o Marco Temporal da Mãe Terra
Fonte: The Guardian
“Estou com
fome. Minha mãe morreu.
Enquanto
quatro crianças da Colômbia, sobreviventes da tragédia que os levaram a passar
40 dias perdidos na selva comoveram o mundo, a Câmara dos Deputados aprovava o
projeto de lei, o chamado marco temporal, orientado para tomar as terras
indígenas no Brasil.
É estranho
que até hoje o Supremo Tribunal Federal não tenha enterrado este projeto travesti
para sempre, mas espera-se que num próximo e breve julgamento isto aconteça.
Esta criação da bancada ruralista e do agronegócio tóxico e lobista do país
deve ser expurgada da mente do nosso povo, cansado de enfrentar desigualdades,
fome e a fila do osso.
O exemplo das
crianças da Colômbia reforça o que sempre tem sido dito sobre o papel central
dos indígenas na proteção da natureza. Este fato foi chamado por muitos de um
milagre, mas é um exemplo de que a floresta é uma grande protetora da vida
humana, que está intrinsicamente ligada à vida vegetal e animal de toda a
Natureza.
Recentemente,
a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse: “Só posso
encorajar todos os atores institucionais no Brasil a trabalharem juntos para
proteger a Amazonia, bem como as comunidades indígenas que vivem lá”,
afirmando, ainda, que os indígenas “desempenham papel sustentável na
preservação e no uso sustentável da floresta e no desenvolvimento do potencial
de superpotência verde do Brasil”.
Mas não é
assim que pensa a maioria da Câmara dos Deputados, ao insistirem na limitação
de demarcação de terras no Brasil, prejudicando a população indígena do país,
que tem dado provas de preservar um conhecimento milenar na proteção da Natureza.
A Câmara menosprezou
os 40 dias de sofrimento das crianças da Colômbia, perdidas na selva da
Amazonia colombiana, entre cobras, mosquitos e fortes chuvas, aprovando um
projeto de interesse do agronegócio tóxico. Enquanto a imprensa burguesa
promove o agronegócio como pop, muitos sabem que o agro é tóxico e lobista.
Desprezou,
ainda, muitas das lições que podem ser tiradas desta tragédia, a exemplo do
próprio conhecimento das crianças e das pessoas indígenas adultas junto das
tropas militares em encontrá-las vivas, apesar das ameaças de onças, cobras e
as cruéis tempestades que dificultavam ouvir o chamado dos que queriam
salvá-las. Como foi dito pela Organização de Pessoas indígenas da Colômbia, a
sobrevivência das crianças é um sinal de que o conhecimento e a relação com o ambiente
natural são ensinados no ventre da mãe.
Mas, como
poderia uma criança de 13 anos, cuidando de outras três menores, está viva na
selva? Se tentasse se alimentar deixaria os outros com fome. O que fazia ela,
com uma criança nos braços para subir numa árvore e se livrar de uma onça? Como se livrava das mais de 80 espécies de
serpentes da selva, mesmo sabendo que apenas 5 delas são venenosas? E os
mosquitos, pequenos, mas bastante incômodos?
Não foi
estranho que as primeiras palavras dela ao se dirigir aos que os encontraram
tenham sido: “Estou com fome. Minha mãe morreu.” Para o ministro da Defesa da Colômbia,
Iván Velásquez Gómez, a liderança e coragem da mais velha, assim como o
conhecimento dela sobre a selva, ajudaram a salvar os outros.
Similarmente,
para o professor de Ecologia e Florestas Tropicais, Carlos Peres, da
Universidade de East Anglia, Inglaterra, foi o conhecimento das crianças sobre
a floresta que os ajudou a se salvar. Para o professor Peres, o que ele
lamenta, mais do que qualquer outra coisa, é que todo o conhecimento que salvou
estas crianças, neste caso particular, está rapidamente desaparecendo na Região
Amazônica.
Portanto,
como já foi dito, a combinação da sabedoria ancestral e a sabedoria Ocidental,
entre a tecnologia militar e a técnica tradicional foram usadas nas buscas das
crianças da Colômbia. Vale mencionar o que disse Fatima Valencia, avó das
crianças, ao creditar o encontro de seus netos ao mundo natural e espiritual,
finalizando: “Agradeço à Mãe Terra porque ela os libertou.”
Assim,
também, se expressou o Presidente da Colômbia: “a selva os salvou”. A cantora Shakira celebrou o resgate de Lesly,
Soleiny, Tien e Cristin, reconhecendo o sofrimento e o
milagre da vida destas crianças, que mexeu com todos nós, dando o maior exemplo
de união e resiliência.
Por fim, o
mundo inteiro celebrou o desfecho do que aconteceu na Colômbia, com muitos
brasileiros rechaçando o comportamento da Câmara dos Deputados de menosprezo à
população indígena, ao conhecimento milenar e à paz em defesa da Natureza, que
não deve ser destruída em benefício da avareza, acumulação de riquezas e enriquecimento
ilícito de uma minoria.
Comentários