O Medo da Morte da Extrema Direita no Congresso Nacional
A violência e brutalidade registradas no Congresso
Nacional, há poucos dias, pode ser explicada pelo medo e negação da morte, que
vem fortalecendo a extrema direita no Brasil e no mundo. Estudos vem mostrando
o quanto a violência, ódio, conspirações são resultantes da negação e medo da morte.
Já foi dito que líderes populistas autoritários
prosperam com o medo da morte, razão pela qual psicólogos, antropólogos, sociólogos,
filósofos e outros cientistas precisam dar uma resposta à sociedade sobre os comportamentos
horrorosos de nossos parlamentares. As teorias do antropólogo Ernest Becker e a
teoria de gerenciamento do terror podem ajudar na análise comportamental violenta
de nossos parlamentares.
Assim sendo, as teorias acima citadas nos oferecem uma
estrutura sociopsicológica que explora as maneiras pelas quais os humanos lidam
com a ansiedade existencial decorrente da consciência de sua própria
mortalidade. Neste caso, o medo da morte é um impulsionador fundamental do
comportamento humano.
A relação entre religião, política, religiosidade e o
medo da morte tem sido, há muito tempo, um tema central na psicologia,
sociologia, teologia e política. Durante séculos os humanos recorreram à
religião como um meio de lidar com a ansiedade existencial causada pela
consciência da mortalidade. As crenças religiosas fornecem narrativas que
explicam o que acontece após a morte, oferecendo conforto, esperança e um senso
de propósito da vida.
O declínio dos valores religiosos tradicionais,
associado a um crescente sentimento de alienação cultural e política, levou o
medo a desempenhar um papel predominante nas ideologias políticas tanto da
direita quanto da esquerda nos últimos anos.
O que a conscientização sobre a morte faz com as
pessoas? A teoria do gerenciamento do terror sugere que quando as pessoas não
estão pensando na morte, ela ainda exerce influência. O inconsciente permanece
no problema mesmo depois que as pessoas usam estratégias para acalmar o medo,
afastando-o da consciência.
O medo permeia a vida das pessoas e a política. Nos
Estados Unidos Trump tornou-se o mestre do medo, segundo a literatura,
conseguindo ganhar duas eleições. Além disto, vem espalhando seu discurso do
medo, violência e ódio para fortalecer a extrema direita pelo mundo. No Brasil,
Bolsonaro tentou imitá-lo, espalhando o medo e a violência que, há poucos dias,
foi usada pelo Congresso Nacional.
São várias as experiencias do uso do discurso do medo
e da violência na política pelo mundo afora e podemos citar algumas delas que incluem o
Brasil, a saber:
- O 6 de janeiro de 2021, quando os seguidores de
Trump invadiram o Capitólio, tendo ele dito que se eles não lutassem como se
estivesse no inferno não teriam mais um país. O resultado disto foi horrorizante;
- O 8 de janeiro de 2024, quando bolsonaristas
golpistas invadiram e depredaram as sedes na Praça dos Três Poderes em
Brasília, num dos maiores ataques à democracia brasileira. A Justiça brasileira
está prestes a julgar os traidores da Pátria;
- A recente violência e motim no Congresso Nacional,
quando parlamentares da extrema direita pediam anistia ampla, geral e
irrestrita para os traidores da Pátria.
É possível que no Brasil os valores religiosos sejam
diferentes dos valores do povo americano. Mesmo com o declínio destes valores
no Brasil, vale lembrar que na América Latina a religiosidade esta presente na
orientação das pessoas sobre a morte, considerando a riqueza de fundamentos
religiosos, principalmente na Igreja Católica, que considera a morte como
caminho de nossa Salvação e Vida Eterna.
A teologia da libertação e os ensinamentos do veterano
teólogo, Jon Sobrino, radicado em El Salvador, martirizado com outros jesuítas,
nos orienta sobre o Evangelho de Cristo e nos afasta da negação e do medo da
morte. O livro do teólogo Jon Sobrino, intitulado “Fora dos pobres não há
salvação”, nos ajuda a refletir sobre a vida e morte.
Voltando à política, o que se observou nos últimos
anos foi uma forte ligação entre a direita e extrema direita no Brasil, que foi
muito desastrosa. A experiencia dos anos anteriores foi quebrada, quando a
democracia do país se mostrava enriquecida com o revezamento de poderes entre
esquerda e direita.
Felizmente, o pronunciamento do Presidente da Câmara
vem fortalecer nossas esperanças e luta pela democracia ao dizer: “Eu não vejo
dentro da Casa um ambiente para, por exemplo, anistiar quem planejou matar
pessoas...”.
Nos Estados Unidos a imprensa comenta sobre o medo de
congressistas americanos votarem contra Trump, que envolve a própria morte ou
de familiares, enquanto outros comentam sobre a possibilidade de uma guerra
civil. Onde está a democracia?
Por fim, não
podemos descartar as ameaças de Trump e dos Bolsonaro ao Brasil. Ambos são
personificações ambulantes da teoria de Becker e as ansiedades existenciais
deles vão levar não só o Presidente Lula, como chefe da nação, mas todos os
brasileiros a sofrimentos perversos. Só a união da esquerda e direita
democráticas podem nos fortalecer a continuar nossa luta pela vida.
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