Espionagem: Dependência, Insegurança e Invasão de Privacidade
Entre os países que compõem o bloco BRICS (Brasil, Rússia, India,
China e Africa do Sul), o Brasil é considerado como tendo feito os
maiores investimentos em tecnologia da informação, ficando atrás
apenas da China. Mesmo assim, as últimas notícias de espionagem
demonstram a fragilidade do nosso país em termos de dependencia,
insegurança e invasão de privacidade. A China, por exemplo, tem sua
internet própria, dificultando os ataques no ciberespaço praticados
pelos Estados Unidos.
Apesar destes elevados investimentos, não se sabe quais as
tecnologias de informação que o governo tem dado prioridade, além
das tecnologias de controle, a exemplo dos sistemas de informações
financeiras, receita federal, voto eletronico, recadastramento
biométrico e outras da educação e previdencia social. Boa parte
destas tecnologias não só servem para o governo nos controlar e
espionar, como para facilitar a espionagem externa, sobretudo dos
países de onde elas são adquiridas. O escândalo da espionagem
americana e canadense no Brasil e no mundo deixaram claro a
capacidade tecnológica destes países, não só de controlarem as
tecnologias do nosso país como de invadirem a privacidade
individual, das empresas e dos negócios.
Não somos contrários investir em tecnologias de informação, mas o país precisa priorizar os tipos de tecnologias de informação que possam acelerar o desenvolvimento e ampliar a nossa cidadania. Infelizmente, o nosso país tem feito grandes investimentos em tecnologias de informação que contribuem, em muito, para deteriorar a nossa cidadania, a exemplo de voto eletronico e recadastramento biométrico. Além de serem inseguraças, contribuem para invadir a privacidade das pessoas. Só através de um processo de avaliação destas tecnologias, o que não é feito no país, é possivel determinar quais as que merecem grandes investimentos.
As últimas notícias de espionagem evidenciaram a nossa insegurança
e de nossas organizações, que vem acontecendo desde há muito
tempo. Muitos, em vão, vinham alertando o lado perverso das
tecnologias de informação. Mas só com a denúncia de Edward
Snowden, enquanto funcionário da Agência de Intelegência dos
Estados Unidos, o mundo começa a se preocupar com o tema. Os países
dotados de maior competência tecnológica tem se protegido mais. No
caso do Brasil ficou evidenciado que a nossa segurança é limitada,
conforme demonstrado pelo próprio governo. O governo tem que tomar
as providencias para mostrar a sociedade brasileira o que foi
espionado na Petrobrás e no Ministério das Minas e Energia,
deixando de fazer comentários apenas em cima das denúncias de
Edward Snowden, noticiadas pela mídia. Snowden deu uma grande
contribuição ao mundo, ao denunciar a espionagem americana. Deu a
sua vida por isto. Mas, doravante, cada país deve se prevenir e
mostrar claramente onde surgem as tentativas de espionagem. Edward
Snowden não vai mais voltar para a agência de inteligência
americana para dizer como cada país está sendo espionado.
Há poucos dias uma empresa de comunicações da Bélgica denunciou
as tentativas externas feitas para espioná-la. Segundo o Jornal
alemão, Spiegel, o ataque cibernético à empresa Belgacom foi feito
pela agência de inteligência inglesa, denominada de GCHQ. Uma
auditoria externa constatou o fato. Como a empresa deveria ter uma
boa proteção, os alvos foram seus funcionários. A tentativa,
portanto, foi a de penetrar nas tecnologias usadas pelos funcionarios
da empresa. Neste caso, o fato foi comprovado e, ao contrário do que
está acontecendo no Brasil, não dependeu simplesmente de notícias
da mídia.
No
caso da Petrobrás e do Ministério das Minas e Energia, quais as
comprovações das tentativas de ataques cibernéticos, além do que
a mídia tem comentado sobre o caso Snowden? No tocante ao ataque ao
Ministério das Minas e Energia, as autoridades canandenses ficaram
surpresas, uma vez que o Brasil parece indicar a ausência de
capacidade de contra-espionagem, ou seja, ausência de capacidade de
proteger informações valiosas contra a espionagem internacional.
Assim sendo, o governo deve
demonstrar
ao mundo que tem capacidade de se proteger contra a espionagem
internacional. Ademais, a
sociedade não
poderá continuar sendo enganada quando o governo
afirma que nossas tecnologias são altamente seguras, a exemplo da
tecnologia de voto eletrônico, mundialmente reconhecida como
altamente insegura. Já está demonstrado que a capacidade
tecnológica dos Estados Unidos permite acessar informações da
tecnologia de voto eletrônico sem nenhuma dificuldade. Comenta-se
que a proteção tecnológica
de nosas organizações por empresas americanas sempre deixa “as
portas de fundos” para que a inteligência americana possa entrar.
Por
fim, a definição de prioridades é fundamental quando se trata de
investimentos em tecnologias de informação, que deve levar em
consideração a segurança, desenvolvimento e cidadania e não os
modismos, mitos e o chamado determinismo tecnológico, que aumentam a
nossa dependencia, insegurança e invasão de privacidade. O acervo
tecnológico do Brasil ainda é mínimo, quando comparado com outros
países. Enquanto a China possui mais de 66 super-computadores, a
Suécia 7 e os Estados Unidos 252, no Brasil temos apenas 3
super-computadores. Com esta disparidade de estrutura tecnológica
estamos diante de um grande dilema, enquanto país em
desenvolvimento: será que poderemos nos manter independentes e
suportar os ataques dos Five
Eyes? O que nos alegra é a
constatação de que programas como Fome Zero e Bolsa Família foram
reconhecidos como tendo impulsionado o nosso desenvolvimento nos
últimos anos, talvez mais do que o nosso acervo em
tecnologia da informação.
A
decisão da Presidente Dilma em determinar que a tecnologia de e-mail
(Expresso) seja utilizada por órgãos da Administração Federal
merece elogios. O que nos alegra é que não conhecemos ainda a nossa
capacidade, em termos de tecnologia da informação. Não há dúvidas
de que as denúncias de Edward Snowden vão contribuir para uma
mudança no setor de tecnologia de informaçao. É chegado o momento
de se mapear este setor no Brasil e privilegiar as empresas
brasileiras interessadas
em desenvolver ferramentas tecnológicas para ampliar o nosso
desenvolovimento e nossa cidadania.
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