Os Presidenciáveis e o Sistema Financeiro do Brasil
Vem de longe a percepção do poder destrutivo do
Sistema Financeiro do Brasil, que funciona numa obscuridade total, dificultando
a avaliação de questões relacionadas com um modelo de finanças sustentáveis. As
denúncias de corrupção no sistema financeiro público são alarmantes no Brasil.
Comenta-se que o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) investiu
mais de 30 bilhões de dólares na corrupção de megaprojetos em países pobres da
África e América Latina. São mencionados os péssimos exemplos de investimentos
feitos pelo BNDES, que afetam a distribuição de renda e a injustiça social. Um
deles, bastante criticado, é o empréstimo de alguns milhões subsidiados, a uma
taxa de juros muito baixa, que beneficiou o apresentador de TV, Luciano Huck, para
a compra de um avião privado para ser usado poucas vezes por semana, num
percurso limitado. Enquanto a maioria dos trabalhadores brasileiros, nas
grandes cidades, gasta mais de duas horas e tomam dois ou três veículos
desconfortáveis para chegarem ao trabalho, é inaceitável que um avião privado,
subsidiado com dinheiro público, não tenha uma utilização bem justificada.
O que se esperar de um sistema financeiro público
envolvido com práticas corruptas e uma governança insustentável e de um sistema
financeiro privado dominado por menos de meia dúzia de grandes bancos, com
lucros exorbitantes, cobrando taxas de juros imorais dos contribuintes? Este
sistema financeiro só causa instabilidades, sendo o seu custo muito elevado
para a sociedade. Nem sempre o dinheiro deste sistema está disponível para
projetos sociais e ecológicos, por exemplo. O que se pode esperar deste sistema
são crises múltiplas, destruição ambiental, desigualdades crescentes e
desemprego em massa. Observem o discurso neoliberal dos últimos anos
enfatizando a destruição do bem-estar social, atacando os sindicatos com
regulações draconianas, de tal modo que a liberdade humana é transferida para a
liberdade do mercado, através de ações coercitivas do Estado. No mundo inteiro
e principalmente no Brasil o regime financeiro produziu uma concentração de
capital e o poder econômico nas mãos de poucos que lucram muito, enquanto os
cidadãos mais fracos são incapazes de confrontar as classes dominantes para que
a voz sobre suas necessidades seja ouvida.
Será que os nossos candidatos presidenciáveis vão
propor algumas mudanças do nosso sistema financeiro, a exemplo do que está
acontecendo em vários países, sobretudo na Europa? Os sistemas financeiros
tradicionais são insustentáveis e novos enfoques estão sendo propostos para
integrar a sustentabilidade nos sistemas financeiros, evitando que seus custos
sejam transferidos e socializados pela sociedade, devido às más práticas destas
instituições. A imprensa comenta que alguns partidos e grupos políticos já
buscam se alinhar com o candidato que, possivelmente, vai manter o status quo e que deveria ser rejeitado
pelos eleitores. Infelizmente a influencia do capital tem sido decisivo nas
eleições brasileiras, pois a prioridade é o mercado e não a democracia, a
justiça social e as práticas éticas dos candidatos. Sem mudanças e compromissos claros, o que for
eleito, de esquerda ou direita, só vai trazer mais sofrimento para a sociedade.
Para alguns pesquisadores brasileiros, através da
ideia de meritocracia emergiu no campo das finanças uma convergência das elites
financeiras. Estes grupos dominantes, com práticas validadas pela meritocracia,
legitimadas pelas especialidades e aquisição de qualificação educacional como a
chave do sucesso são hoje os “experts” e tomadores de decisões nas grandes
corporações financeiras do país e em parte da academia, todos responsáveis pela
reprodução da estrutura de poder, exclusão e violência simbólica, sociologicamente
falando.
Neste sentido, é impossível se pensar em finanças
sustentáveis no Brasil com uma meritocracia de especialistas agindo contra os
princípios básicos de desenvolvimento sustentável. O desmatamento da Mata Atlântica
brasileira, da Floresta Amazônica, sobretudo em 2017, e a explosão da corrupção
no sistema financeiro do Brasil exigem que as finanças sustentáveis sejam
tratadas diferentemente da forma como as elites dominantes têm preconizado até
agora, enfatizando a obscuridade e relegando a comunidade e outros stakeholders beneficiários.
Já foi dito há muito tempo que os sistemas financeiros
são incompatíveis com a sustentabilidade, razão pela qual uma reflexão profunda
é requerida, considerando que o setor afeta diretamente a humanidade e o planeta
Terra. Neste caso, os presidenciáveis deveriam discutir o assunto com a
sociedade brasileira, garantindo que, no mínimo, as ações da Lava Jato sejam
fortalecidas no setor, considerando as constantes denúncias que começam a
mostrar a ponta do iceberg da
corrupção. Além dos casos de polícia e justiça, o sistema financeiro do Brasil
é carente de uma discussão sobre finanças sustentáveis.
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