Seleção Brasileira Derrotada Política e Tecnicamente
Foi chocante, emocionante e triste para quem tinha
a esperança de que a seleção brasileira iria trazer o título de campeã da Copa
do Mundo, ao ver o jogo entre Brasil e Croácia. Foi agonizante ver o gol de empate
da Croácia e decepcionante não ver Neymar como o primeiro a marcar um pênalti,
isto sem falar na falta de agressividade da seleção no primeiro tempo do jogo.
Quem assistiu alguns jogos percebeu claramente
a falta de treinamento técnico de nossa seleção, quando se compara com a
qualidade técnica de outras seleções como da própria Croácia, Espanha, Alemanha,
etc. O próprio goleiro do Brasil nos pênaltis não pareceu estar devidamente
treinado. Aliás, isto foi reconhecido por pessoas tecnicamente qualificadas quando
trataram desta questão e tornou-se bem perceptível.
Matéria do maior jornal do mundo, New York
Times, mostrou com muita clareza como estava a nossa seleção do ponto de vista
político, fato que não pode deixar de ser interpretado por nós torcedores,
embora muitos deixem de associar o futebol com a política. Como já foi dito,
futebol não é só entretenimento.
Neymar, o mais caro jogador do mundo, visto
como o ícone e talismã do futebol, de repente começou a ser visto como algo
mais, ou seja, como o avatar da união entre o lado nacional e a política de
extrema direita de Jair Bolsonaro, prestes a deixar o poder. Ao dizer que os
valores do presidente Bolsonaro são similares aos seus, Neymar contribuiu para reduzir
as chances de alegria do campeonato no país, como acontecia antes com todos
juntos. O que era antes o orgulho da nação, a seleção brasileira se tornou um
emblema de polarização, com vários de seus membros sendo defensores do pensamento
de extrema direita do presidente Bolsonaro.
Além disto, a camisa amarela da seleção começou
sendo usada pelos apoiadores de Bolsonaro nas suas manifestações, reivindicando
um dos mais significantes símbolos da nação. Os não apoiadores de Bolsonaro, por
sua vez, resgataram a apropriação da camisa pelos bolsonaristas, mas o estrago
foi feito e um em cada cinco brasileiros, de acordo com um estudo recente, não utiliza
a camisa amarela nos dias de hoje por questões políticas.
Estamos vendo em várias partes do mundo que a
ameaça chave do terror é a extrema direita, no Brasil representada por
Bolsonaro e seus apoiadores. Esta semana o governo da Austrália alertou que as
leis contra o terror devem mudar, se o país quiser atacar o surgimento de
ameaças de violência da extrema direita. Na Alemanha, depois da identificação de
52 suspeitos de um golpe, o governo declarou que “o terrorismo de extrema
direita ainda é a maior ameaça à democracia da Alemanha”. No Reino Unido, a
polícia descreveu a extrema direita como a ameaça de terror de crescimento mais
rápido, com 41% de prisões de terroristas envolvendo suspeitos de extrema direita.
Três em cada quatro golpes identificados pela polícia envolvem extremistas da
direita.
Isto requer uma mudança não só no policiamento,
mas também no nosso pensamento. O que vem acontecendo no Brasil, as prisões na
Alemanha esta semana e os extremistas que atacaram o Capitólio em 6 de janeiro
de 2021, tem como objetivos derrubar governos democraticamente eleitos e se
instalarem no poder. São encorajados quando Trump pede a suspensão da Constituição
dos Estados Unidos querendo ser restaurado ao poder, como fez esta semana.
Não é a primeira vez que a seleção brasileira
foi tomada pela política, principalmente do lado da direita, a partir da era
Vargas, quando se pretendia o apoio das massas ao regime da época. Na ditadura
militar, de 1964 a 1985, se tentou fazer algo similar, quando os militares não mediram
esforços em se ligarem à seleção brasileira, com jogadores e autoridades militares
lado a lado.
Desde a campanha de Bolsonaro que a seleção se
associou com uma agenda da extrema direita e os dois se tornaram inseparáveis,
a medida que apoiadores do governo tomaram as ruas para exigir o fechamento do
Supremo Tribunal Federal, retirada das restrições da Pandemia e o fim do voto eletrônico.
Nas diversas manifestações, a camisa verde amarela compartilhava os espaços com
símbolos da extrema direita, a exemplo de bandeiras do neonazismo, além de slogans
antidemocráticos.
Por conta das ligações entre a seleção brasileira
e a política, o New York Times percebe sentimentos mistos no Brasil e indaga,
depois de uma ardente derrota, o que é a seleção brasileira e a quem está
servindo? É uma questão que incomoda, mas permanece em aberto.
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