Cinismo da Crise dos Ovos e Carnes no Brasil - Ganância
Fonte: Revista Oeste
No Brasil,
cinicamente, procura-se o pilantra responsável pelo aumento dos preços de ovos.
Por sua vez, nos Estados Unidos, o presidente Trump pediu uma investigação do
Departamento de Justiça para saber se o aumento de preços tinha relação com
lucros elevados dos grandes produtores, apesar dos efeitos da gripe aviária.
Se antes, os brasileiros foram impedidos de comer
carne, agora começam a ser impedidos de
comer ovos. Enfrentaram as filas de ossos e pés de galinhas, e agora o que vão
fazer com a falta de um grande nutriente como o ovo?
É preciso que se faça uma análise profunda da falta
dos nutrientes da carne e ovos na mesa dos consumidores brasileiros,
principalmente da população de baixa renda, num contexto do mercado e ações
governamentais responsáveis por isto. Infelizmente, a imprensa burguesa foge
deste assunto e não nos mostra o que realmente está acontecendo.
Com a gripe aviária nos Estados Unidos, que levou a
sacrificar mais de 100 milhões de galinhas, a oferta de ovos no mercado
americano caiu drasticamente, impulsionando o aumento vertiginoso dos preços de
ovos. Além disto, produtores dominantes de ovos no país, como a Cal-Maine Foods,
alavancaram a crise para aumentar os preços, acumular lucros recordes e
consolidar o poder no mercado.
A ganância no Brasil não poderia ser diferente,
sobretudo quando o governo americano, no início deste ano, permitiu que
empresas americanas comprassem ovos do Brasil para o consumo humano. Antes era
permitido a importação de ovos, mas para ser usado na produção de alimentos de
cachorros.
Assim sendo, empresas dos países sul-americanos não
podiam exportar ovos frescos para serem vendidos diretamente aos consumidores
americanos, pela falta de acordo sanitário necessário com os Estados Unidos,
porém empresas americanas podem importar ovos e tomar os cuidados necessários
de processamento e vendê-los aos consumidores.
Foi neste contexto que a JBS SA, maior exportadora de
carnes do mundo, com sede também nos Estados Unidos, expandiu sua presença no
país, com a aquisição de 50% das ações de uma das maiores produtoras de ovos da
América do Sul – Mantiqueira Brasil.
Portanto, é muito cinismo falar do ladrão que passou a
mão nos ovos, quando o próprio governo deve ter participado de todas as
transações que contribuíram com o aumento do preço de ovos no Brasil. O
Congresso Nacional, os órgãos da justiça e dos consumidores devem uma resposta
aos brasileiros sobre os abusos de preços não só de ovos, mas principalmente da
carne.
O cinismo de comer picanha e agora do ladrão de ovos
já levaram os brasileiros à fila do osso por conta de estratégias do governo e
corporações, que priorizam o mercado externo, em detrimento do mercado interno,
com elevações assustadoras de preços.
Além disto, é preciso separar o joio do trigo, principalmente
quando se fala do agronegócio no Brasil, quando se observa que os pequenos e
médios produtores não são os mais privilegiados nas políticas públicas, mesmo
sendo os que mais se esforçam para levar os alimentos a nossa mesa.
A sociedade brasileira é carente de uma análise
aprofundada entre o governo, grandes corporações do agronegócio, principalmente
a JBS, o BNDES e a agricultura familiar, até para se saber o quanto estamos
sendo sacrificados com a perda de nutrientes ao longo dos anos. No próximo
texto tentaremos trazer estas questões ao debate.
Se na pandemia a ganância, práticas antiéticas e desumanas,
além de dezenas de mortes foram registradas em corporações como a JBS, não só
no Brasil como nos Estados Unidos e Canadá, a gripe aviária nos Estados Unidos
já está afetando a população brasileira, sobretudo os mais pobres, que deixarão
de consumir um dos nutrientes mais populares do país – o ovo.
O momento não é de enganos, cinismo e brincadeiras por
parte das autoridades brasileiras, num momento em que a situação alimentar do
país é preocupante. Depois da fila do osso, o não à picanha pode até ser aceitável,
mas um não ao ovo pode ensejar uma revolução, considerando que a ganância está
acontecendo de forma inaceitável.
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