Transição Cultural Histórica de Carne às Dietas Baseadas em Plantas
Ao país que deu ao mundo o patê de foie
gras, coq au vin (frango ao vinho) e carnes fritas está sendo pedido para
abandonar a sua dieta pesada de carne em favor de opções vegetarianas, à medida
que a França embarca numa histórica “transição cultural”, que trará mudanças
varrendo todos os aspectos da sociedade.
Estas propostas estão se dando em meio ao
barulho e gritos de repúdio dos tradicionalistas da cozinha francesa, mas sendo
bem-vindas pelos mais jovens. Há poucos meses a decisão do prefeito da cidade
de Lyon, vista como a capital culinária do país, de tirar temporariamente a
carne do menu das cantinas das escolas durante a pandemia levou a uma briga
política na França. O prefeito de Lyon, Grégory Doucet, foi acusado de
comportamento ideológico e elitista depois de medidas que foram estudadas por
outras cidades, incluindo Paris.
Resistencia a qualquer proposta de reduzir o
consumo de carne será forte por parte dos poderosos lobbies da agropecuária. A
decisão de Lyon foi enfrentada com protestos de tratores e uma parada de vacas
e ovelhas no centro da cidade, embora o prefeito nunca tentou uma dieta
vegetariana para as crianças da cidade, mas apenas uma mudança temporária de
cardápio na capital da gastronomia. A ministra do meio ambiente e transição
ecológica da França, Barbara Pompili, não demonstrou preocupação com o repúdio
e barulho destes poderosos lobbies, mas a intenção de reformar o sistema
alimentar do país e seguir a orientação de recente relatório apoiado pelas
Nações Unidas, que enfatiza uma convergência do consumo global de alimentos em
torno de dietas predominantemente baseadas em plantas.
Reconhecendo erros do passado, a ministra não
pretende privilegiar determinados grupos, mas envolver todos, de modo que o
meio ambiente seja um reflexo das pessoas e cada um dos franceses desempenhe o
seu papel na proteção ambiental, na tentativa de uma transição cultural de seu
povo. O propósito é trazer mudanças sustentáveis nas atividades agrícolas,
enfatizando a produção local de alimentos, reduzindo carbonos, garantindo menus
de alta qualidade vegetariana e favorecendo a produção de carne no país a ser
maior do que as importações. Por fim, para ela, a política ambiental sustentável
deve ser sobre a vida das pessoas.
Ao encaminhar propostas de lei para o Parlamento,
que inclui um menu compulsório de alimento vegetariano uma vez por semana em
todas as escolas, uma escolha de alimentos vegetarianos em todas as cantinas do
país, gerenciadas pelo governo, incluindo órgãos públicos e universidades e
treinamento para se garantir um menu de alta qualidade, a França propõe um
estímulo econômico de quase 200 bilhões de dólares para renovar sua economia, que poderá
se tornar a mais verde do mundo, além de enfatizar sua responsabilidade
especial de implementação do Acordo de Paris.
Está sendo dito que uma mudança de bife para
vegetais pela população dos Estados Unidos reduzirá o uso de terras equivalente
a 42%, de modo que elas possam ser usadas para outras atividades agrícolas,
renaturalizando e protegendo a natureza. Similarmente, como disse a ministra
Barbara Pompili, cerca de 15% das emissões de gases e 91% do desmatamento da
Amazonia estão ligados às atividades da agropecuária. Assim sendo, desenvolver
uma oferta vegetariana significa agir em favor do clima, contra o desmatamento.
Se o mundo não enfatizar uma política ambiental
sustentável valorizando a vida das pessoas, a produção de alimentos à base de
plantas tornar-se-á insustentável, servindo apenas aos interesses do capital. A
partir do momento em que o grande dinheiro começa se tornando vegano,
investindo na indústria de alimentos à base de plantas como uma grande
oportunidade de crescimento, já se percebe a raposa cuidando do galinheiro.
Corporações como JBS e Blackstone, acusadas de desmatamento na Amazônia, estão fazendo grandes investimentos,
incluindo a compra de empresas produtoras destes alimentos. A JBS está sendo
muito criticada na Europa, principalmente por suas práticas de desmatamento e
de financiar ilicitamente políticos brasileiros, enquanto a Blackstone não
parece ser diferente por financiar as campanhas de Trump e, segundo os
comentários, também desmatou a Amazônia.
Enquanto alguns países estão embarcando numa
transição para dietas baseadas em plantas, o governo brasileiro não parece se
preocupar com os incêndios da Amazônia e o nosso Congresso engajado na
aprovação de legislações nocivas e favoráveis à aquisição de terras por
estrangeiros, além das que facilitam práticas de destruição do meio ambiente. Resta
saber se o financiamento ilícito de políticos está por trás destes absurdos.
Precisamos reformar a forma como produzimos e consumimos alimentos como uma
prioridade urgente, longe dos interesses destas megacorporações. Voce acha que é possível reduzir o
consumo de carne, pensando em salvar o planeta, apoiando os maiores produtores
de carne do mundo?
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