Responsabilização da Elite Política aos Ataques Golpistas Covardes
Difícil acreditar que a carreira política de Bolsonaro
o levasse a ser Presidente da República. Sempre mantendo a defesa da ditadura,
o deboche aos direitos das mulheres, além de homenagem a torturadores e o porte
de armas, Bolsonaro iniciou sua primeira campanha política à Presidente, com um
forte apoio dos militares.
Contudo, no seu segundo ano de governo, cerca
de 60 pedidos de impeachment foram registrados, tendo chegado ao final do
governo com cerca de 150 pedidos, elaborados por cerca de 1500 pessoas e 500
organizações. Os maiores juristas do país formularam pedidos de impeachment de
Bolsonaro.
Um dos fatores que pode ter pesado muito contra
o impeachment de Bolsonaro, seria deixar o general Hamilton Mourão como
Presidente, num governo já militarizado por Bolsonaro. Havia muita desconfiança
e, para alguns parlamentares, tirar Bolsonaro e deixar Mourão era a mesma coisa
que entregar o poder aos militares, considerando também seus gestos
antidemocráticos.
Portanto, no governo militarizado de Bolsonaro,
muitos militares direta e indiretamente se envolveram com os ataques golpistas covardes,
mantendo acampamentos golpistas ao redor dos quartéis em todo o Brasil, já que
havia interesse de manterem os privilégios adquiridos, com o apoio da classe
política. O governo militarizado de Bolsonaro o levou a se fortalecer para
atacar a democracia e o Supremo Tribunal Federal. Tudo isto acontecendo diante
de uma elite política silenciosa, quando o interesse maior não era a defesa da
democracia, mas do orçamento secreto e aumento da liberação de verbas para seus
redutos eleitorais.
Se as elites políticas foram desfavoráveis a
tantos pedidos de impeachment, como justificar o apoio delas à reeleição de
Bolsonaro? Ao que parece, as práticas corruptas do orçamento secreto não só fortaleceram
o apoio à sua reeleição como seus ataques a nossa democracia. A eleição de
vários parlamentares de extrema direita se deu graças ao orçamento secreto.
Estamos vendo que só alguns políticos dos
partidos de esquerda estão se manifestando contra os ataques golpistas covardes
a nossa democracia. Chegou o momento de se avaliar o silencio dos que foram
eleitos com recursos do orçamento secreto e julgar a responsabilização da elite política e de todos
os envolvidos na trama e no ataque golpista na Praça dos Três Poderes.
O momento é de se ter a coragem de defender a
democracia, tanto de Generais como dos parlamentares, lembrando que a defesa da
democracia implica na defesa de políticas públicas, sobretudo em benefícios dos
mais necessitados.
Esta semana o General Tomás Paiva do Comando
Militar do Sudeste definiu claramente o que é ser militar e fez uma defesa
contundente da democracia, contrariando o discurso de Bolsonaro acostumado a
chamar ‘Meu Exército” ou minhas forças armadas. O fracasso do golpe covarde de
8 de janeiro mostra claramente que dificilmente os militares se envolveriam
diretamente num golpe para deixar Bolsonaro no poder. É possível que só o “Meu
Exército” ou as forças armadas de Bolsonaro tenham participado de ataque tão
covarde.
Ao perder as eleições, Bolsonaro e seus
apoiadores covardes se concentraram no caos e no golpe militar, cujas condições
foram criadas ao longo dos quatro anos de governo. Foram 60 dias de
articulações, incluindo os acampamentos na frente dos quartéis. A elite
política recém-eleita manteve-se silenciosa, como se nada estivesse
acontecendo. O que causou estranheza foi também o silencio do alto comando das
Forças Armadas que, apesar de legalista e contrária ao golpe, manteve
acampamentos de golpistas nos quartéis.
É importante prender e levar à justiça os
diretamente envolvidos com a destruição na Praça dos Três Poderes, mas os que
colaboraram para fortalecer as ameaças golpistas de Bolsonaro (autoridades
omissas) precisam, também, ser responsabilizados, incluindo a elite política,
que durante o governo Bolsonaro nunca contestou e enfrentou os ataques à
democracia.
Por fim, se o silencio das Forças Armadas
fortaleceu o golpe covarde de bolsonaristas, é inaceitável o silencio e a falta de responsabilizaçao da elite
política, defensora do orçamento secreto, mas inútil na defesa da democracia e
ao atendimento das necessidades de seus eleitores. Parlamentares da esquerda ou
da direita democrática precisam se engajarem na defesa da democracia,
conscientes de que a extrema direita está ameaçando o mundo.
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