Corporações na COP28 Não Fecharam os Portões do Inferno
Fonte: Academia Brasileira de Ciências - Anti-Prêmio Fóssil do Dia
Grandes corporações, produtores de combustíveis
fósseis, lobistas e bilionários alcançaram um consenso e uma grande “vitória”
na COP28, mas falharam em não fechar os portões do Inferno, evitando a eliminação
progressiva dos combustíveis fósseis, conforme indicado pela ciência. Para o
professor Martin Siegert, da Universidade de Exeter, Reino Unido, “não fazer
uma declaração clara para PARAR a queima de combustíveis fósseis é uma tragédia
para o planeta e para o nosso futuro”.
A COP28 parecia ser uma vitória entre os países em
Dubai, mas os impactos climáticos devastadores não irão parar enquanto
continuarmos a queimar combustíveis fósseis. A cientista climática, Dra.
Friederike Otto, do Imperial College London, mencionou que “o mundo continuará
a se tornar um lugar mais perigoso, mais caro e mais incerto para se viver”.
É uma pena que, após 30 anos de debate sobre as mudanças climáticas, os produtores de combustíveis fósseis concluíram cinicamente que há
necessidade de uma transição para os combustíveis fósseis, mas insistem em
continuar a sua exploração sem um calendário. Portanto, a COP28 foi uma vitória
para os Estados Unidos como o maior poluidor e produtores de combustíveis
fósseis, oferecendo o menor valor para ajuda aos países pobres. Foi oferecido
apenas o dinheiro da pinga.
Por outro lado, a China, também como um dos maiores
poluidores mundiais, continuará a prosseguir a produção de carvão e a indústria
do carvão da Índia também terá pouco a temer. O acordo finalmente alcançado na
COP28 contém inúmeras lacunas e “distrações perigosas”. Em suma, não há
possibilidade de reivindicar compromissos por parte dos grandes poluidores e
produtores de combustíveis fósseis.
O Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que
“estamos diante de um confronto entre o capital fóssil e a vida humana. Para
ele a “luta é existencial tanto para a indústria dos combustíveis fósseis como
para o resto da civilização. Este tipo de análise deve ser feita em todo o
mundo para nos dar boas informações sobre a forma como os países estão a
enfrentar as mudanças climáticas.
No Brasil, por exemplo, o fracasso em fechar as portas
do inferno parece ter sido comemorado. Um dia após a COP28, o Congresso
Nacional brasileiro derrubou os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
ao projeto sobre o marco temporal das terras indígenas que já era considerado
inconstitucional pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Com esse projeto, o marco temporal significa que os
povos indígenas têm direito apenas às terras que ocupavam em 5 de outubro de
1988, data da promulgação da Constituição Federal. Foi esse infame “truque de
limite de tempo” ou golpe, engendrado pelo Congresso Nacional, que foi considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.
Enquanto em setembro passado o Alto Comissariado da
ONU para os Direitos Humanos divulgou um comunicado elogiando a decisão do
Supremo Tribunal Federal, que rejeitou a tese jurídica do marco temporal, ontem
a ONU expressou sua preocupação com a decisão do Congresso de derrubar 41 dos
47 vetos que o presidente Lula impôs à lei do marco temporal, aprovada em
setembro. A questão indígena é um dos temas que mais mobilizam a entidade, em
relação às violações de direitos humanos no Brasil.
Portanto, um dia após a COP28 o projeto de marco
temporal foi transformado em lei, o que inclui outras violações dos direitos
dos Povos Indígenas. Embora alguns membros do governo tenham criticado o
Congresso brasileiro, outros membros votaram a favor do projeto. A falta de
lealdade e a degeneração no processo de votação no Congresso passaram do
presidencialismo de coalizão para o “parlamentarismo de coerção”. O Ministro da
Agricultura, Carlos Fávaro, votou contra o governo e a favor do projeto de
marco temporal.
Diferentemente de seus mandatos anteriores no governo,
Lula agora lida com a direita conservadora e até reacionária como maioria no
Congresso Nacional, razão pela qual seu governo tem evitado questões de
direitos civis e liberdade individual. O governo Lula agora e os seus
“ministérios são ilhas políticas exploradas pelos interesses dos partidos com
velhas histórias inglórias”, e magnatas dos combustíveis fósseis, industriais,
grandes agricultores e barões da carne, grandes criminosos e assim por diante.
Eles estão destruindo física (e moralmente) o país.
Menciona-se que um “ano após sua vitória eleitoral, o
governo Lula parece esquizofrênico com uma gestão que apresenta uma face
internacionalmente e outra completamente diferente dentro do país, e também no
que Lula diz e no que Lula faz.
É por isso que Lula tentou mostrar a grandiosa
exibição do Brasil na COP28 recebendo aplausos. Mas poucas horas depois
percebeu-se que suas palavras estimulantes não mudariam nada. “Parece que
qualquer mudança que o governo Lula fizer será como colocar um band-aid em
algum lugar, em qualquer lugar, em um corpo político cheio de veneno”. Ele não
mostrou quão desarticulada é a política.
Além disso, muita gente ficou surpresa com o anúncio
na COP28 de que o Brasil planeja ingressar no grupo OPEP+ de países produtores
de petróleo. A reação foi tal que poucos dias depois a Rede de Ação Climática
de organizações não-governamentais concedeu ao Brasil o seu simulado “Fóssil do
Dia”. Este tipo de prêmio é para países que “fazem o seu melhor para serem os
piores”.
Foi mencionado que o resultado disso é que “Lula poderia
ser o político ousado e visionário que às vezes tem dado sinais de querer ser”.
Se o Supremo Tribunal Federal não proteger a população indígena e o governo não
desistir da ideia da exploração de combustíveis fósseis, a COP30 a ser
realizada no Brasil, será mais um encontro de corporações, lobistas e
bilionários contra a civilização.
Se o povo, os eleitores e a sociedade não reagirem às
tenebrosas mudanças climáticas, se é que existe tempo para isto, os representantes
do capital irão sempre manter os portões do inferno abertos, rumo à destruição
humana e do planeta.
Comentários