Cartel do Petróleo na COP28 – Negócios e Lavagem Verde?
Fonte: ONU
Uma Conferência mundial de mudanças climáticas como a
COP28, realizada no eixo do Cartel do
Petróleo, mesmo organizada por uma instituição da ONU, pode nos tornar céticos
e nos levar a indagar se a intenção é manter os negócios como sempre e
alavancar a chamada lavagem verde (greenwashing), diante das críticas que vem
sendo feitas à COPs anteriores e das tenebrosas mudanças climáticas.
Já foi dito que discutir a redução de combustíveis
fósseis com o Cartel do Petróleo é quase que a mesma coisa que convidar a
indústria de tabaco para uma conferência sobre saúde. Na COP26 a adolescente e ativista Greta Thunberg
nos alertou que as conferências da ONU são apenas “blah, blah, blah”, onde
todas falam e não se vê nenhuma ação.
Portanto, o anúncio da hospedagem da COP28 por um dos
maiores produtores de petróleo do mundo (Emirados Árábes Unidos) deu origem a
uma desconfiança generalizada, principalmente quando Sultan Ahmed al Jaber foi
nomeado como Presidente COP28. Ele é o chefe da Abu Dhabi National Oil Company
(ADNOC), grande produtora de petróleo.
A controvérsia foi tão intensa que políticos europeus
e dos Estados Unidos pediram a renúncia de al-Jaber. O ex-vice-presidente
americano, Al Gore, alegou que os interesses dos combustíveis fósseis
capturaram o processo da ONU num nível perturbador, ao se colocar o diretor
geral de uma das maiores companhias de petróleo do mundo como presidente da
COP28.
As reclamações são legítimas para este caso, assim
como para outros casos em que é comum a participação de diversos lobistas
defendendo interesses de seus países. Contudo, não se pode negar a participação
da indústria de combustíveis fósseis nas discussões de mudanças climáticas, mas
não em posições dominantes, como aconteceu na COP28.
Quem ainda esperava ter uma desconfiança infundada com
a COP28, nas últimas horas caiu na real, quando el Jaber afirmou que a
eliminação (phase out) de combustíveis
fósseis é a volta à caverna, apesar de estar sendo defendida por dezenas de
países, atingidos por terríveis desastres naturais. O próprio secretário-geral
da ONU é um grande defensor de uma decisão da COP28 sobre a eliminação de
combustíveis fósseis.
O Presidente da COP28, el Jaber, defende uma mudança
progressiva (phase-down), que não define limites, mas que atende aos interesses
das grandes corporações de petróleo, que tem demonstrado demora, obstrução e
falta de progresso na redução de emissões. Neste caso, a visão do Presidente da
COP28 deve estar alinhada com outras nações produtoras de petróleo, a exemplo
dos Estados Unidos, China, Rússia, Brasil, Canadá e Irã.
Os países acima citados têm planos de expansão de
combustíveis fósseis maiores do que a ADNOC. Enquanto se posiciona com o apoio
ambicioso favorável à eliminação de combustíveis fósseis, a Europa investiu
mais de um trilhão de dólares em combustíveis fósseis desde o Acordo de Paris,
incluindo 130 bilhões de dólares só em 2022. Globalmente, subsídios para os
combustíveis fósseis são equivalentes a 7% do produto interno destes países ou
duas vezes mais do que os governos gastam em educação.
Assim sendo, se os Emirados Árabes Unidos não são um
modelo para hospedar uma Conferência do Clima, os países acima citados
dificilmente serão. Se não houver outras novidades positivas na COP28, a
comunidade científica foi desafiada e deve se sentir desrespeitada, pelas
insinuações de que a eliminação dos combustíveis fósseis não traz o
desenvolvimento sustentável.
Além disto, outras críticas vêm sendo registradas
durante a COP28. A maior delas talvez seja a ausência dos Presidentes dos dois
países mais poluidores do mundo – Estados Unidos e Rússia. Enquanto o Rei
Charles III, do Reino Unido, mostrou que o mundo está terrivelmente fora dos
trilhos, com 30% a mais de dióxido de carbono e 40% a mais de metano, o Primeiro-Ministro,
Rishi Sunak, da Inglaterra, deixou sua hipocrisia registrada.
No caso do Brasil, o Presidente Lula foi muito
elogiado em seu discurso de abertura da COP28. Ao enfatizar a relação entre
desigualdades sociais e as mudanças climáticas, a destruição ambiental com as
guerras, consumindo trilhões de dólares, enquanto os países pobres mais
atingidos pelos desastres naturais recebiam a promessa do dinheiro da pinga, o
Presidente deu demonstração de ser uma liderança já na COP28, no debate das
mudanças climáticas.
Mas isto durou poucas horas e sua dubiedade foi logo
demonstrada, quando o Ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira,
anunciou o desejo do Brasil em participar da OPEC+. Pelos comentários da
imprensa internacional, o Presidente Lula talvez não seja uma liderança para a
COP30, a ser realizada no Brasil em 2025. Alinhar-se com monarquias árabes
autoritárias e com os planos da OPEC parece mais uma tentativa de manter o greenwash
do que um desejo de enfrentar as mudanças climáticas.
Ainda se tem mais uma semana de Conferência, onde mais
de 100 países esperam por uma decisão sobre a eliminação dos combustíveis fósseis,
entre eles os mais afetados pelas mudanças climáticas. Espera-se que a velha Europa
ouça o grito da atual geração, que não quer vivenciar os terríveis momentos do
fim do planeta.
Os responsáveis por isto são os executivos das grandes
corporações de petróleo que durante décadas sabiam do que ia acontecer, mas
intencionalmente ofuscaram e bloquearam legislações que pudessem evitar o que
está acontecendo. Os mais velhos (pais e avós), que continuam elegendo os que negam
as mudanças climáticas, estão deixando o legado do fim do planeta para a geração
atual.
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