Plásticos Invadem o Corpo Humano pelo Ar, Água e Alimentos

Fonte: BBC   Estamos bebendo plásticos                                                                                                      

 Nós, humanos, somos expostos aos pequenos fragmentos de plásticos ou microplásticos, com menos de cinco milímetros de diâmetro e aos produtos químicos utilizados na fabricação de plásticos. Enfim, vivemos num ambiente de poluição plástica generalizada no ar, água e até nos alimentos.

Já foi dito que o plástico é barato de ser fabricado e surpreendentemente lucrativo, razão pela qual está em todo lugar, tendo os cientistas, nos últimos anos, encontrado quantidades significativas de microplásticos nas profundezas do oceano, na neve e na chuva em locais aparentemente imaculados em todo o mundo.

Por conta disto, todos nós estamos pagando o preço, considerando que os microplásticos estão no ar que respiramos, com presença marcante no sangue humano, nas veias, cólon, pulmões, leite materno, placentas e fetos. Por fim, os microplásticos invadiram o corpo humano, do cérebro ao pênis e testículos.

Para se ter uma ideia do volume de plásticos produzidos no mundo anualmente, basta ver os números do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). São 430 milhões de toneladas anualmente. Isto é maior do que o peso de todos os seres humanos juntos. Com os plásticos descartáveis, se intensifica a interação humana durante segundos ou minutos com estes produtos.

No momento existem vários estudos propondo formas de reduzir a produção de plásticos no mundo, mas a raiz fundamental do problema é o seguinte: o plástico é muito barato e surpreendentemente lucrativo. Qualquer solução exigirá mudanças comportamentais e de políticas públicas, que não venham afetar a economia tão drasticamente.

Muitos se lembram dos botijões de vidro sendo substituídos pelos botijões de plásticos da água que bebemos ou os filtros de barros sendo substituídos por bebedouros de plásticos. Tudo isto em nome da ganância, porém causando sérios danos a nossa saúde.

São assombrosas as pesquisas recentes sobre a invasão dos microplásticos e danos à saúde humana, inclusive no Brasil. Pesquisadores das Universidades de São Paulo (USP), Campinas e de Berlim (Alemanha) publicaram trabalho recentemente no Journal of the American Medical Association (JAMA), mostrando, pela primeira vez no Brasil, microplásticos no cérebro humano.

O estudo analisou o cérebro de 15 pessoas falecidas, que residiam em São Paulo, mostrando que em oito delas foram encontrados resíduos de microplásticos. O cérebro é uma das partes do corpo humanos mais difícil de ser invadida, inclusive por medicamentos, mas os microplásticos estão facilmente chegando lá.

O tipo de plástico mais comum encontrado na pesquisa brasileira foi o polipropileno, usado em roupas, embalagens de alimentos e garrafas. Muitos usam roupas de poliéster, mas não sabem que se trata de um dos produtos que mais derrama microplásticos, quando usado e lavado. As microfibras do poliéster lançadas no ar causam níveis preocupantes de poluição no ar, afetando o pulmão.  

A explosão de pesquisas sobre os microplásticos é grande, sobretudo por não se conhecer as consequências, de longo prazo, dos microplásticos acumulados nos tecidos humanos mais sensíveis, a exemplo dos órgãos reprodutivos, segundo Ranjith Ramasamy, urologista da Universidade de Miami, nos Estados Unidos.

Em pesquisa realizada em maio passado e publicada no Jornal científico, Toxicological Sciences, foi encontrado microplástico nos testículos de 23 seres humanos e em 47 cachorros. O estudo mostrou que a concentração de microplásticos nos testículos humanos e três vezes maior do que nos testículos de cachorros.

A elevada quantidade de partículas componentes de plástico de garrafas d’água está correlacionada com o baixo acúmulo nos testículos de cachorros, ou seja, os cachorros não usam tantas garrafinhas de plásticos como nós humanos estamos usando.

A questão é tão séria que a própria Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente concordou, há dois anos, começar trabalhando para alcançar um acordo global visando por um fim à poluição de plásticos, um processo que está em andamento.

Relatos recentes sugerem que a Administração de Biden, nos Estados Unidos, deu sinais de que a delegação americana envolvida nestas discussões apoia medidas para reduzir a produção global de plásticos, num momento em que os pesquisadores estão dizendo que temos de enfrentar este problema tão crítico.

Não existe nenhum lugar que não esteja sendo afetado, desde as profundezas do mar até a atmosfera e o cérebro humano, disse Bethanie Carney Almroth, um eco toxicologista da Universidade de Gothenburg, na Suécia. Para ele, estamos diante de algo que nos faz medo.

Infelizmente no Brasil, as pesquisas eleitorais estão mostrando a inclinação da sociedade para a extrema direita e negacionismo da ciência e das mudanças climáticas. Além disto, as florestas que protegem a atmosfera, estão em chamas tão perigosas quanto os microplásticos. Ações criminosas já são identificadas para se continuar as políticas do mal.  

Comentários