Justiça em Inteligência Artificial e Injustiça Estruturada

 

Fonte: Linkedin                                                                                                                                              

Há poucos dias o Brasil deu um exemplo ao mundo do quanto a Justiça e o sistema judicial são fundamentais para preservar o Estado de Direito, podendo ser usados para examinar os desafios éticos críticos dos vieses algorítmicos em Inteligência Artificial, com foco no conjunto de dados tendenciosos e nos designs algorítmicos que perpetuam a injustiça estruturada ou desigualdades estruturais.

Ademais, o sistema judicial é de fundamental importância para administrar a justiça e salvaguardar os direitos individuais em benefício da justiça social e equidade ou justiça de dados. Já foi dito que a ética em IA não pode ser delegada às Big Techs, sempre voltadas para a injustiça estruturada. Neste caso, não podemos continuar reforçando o foco da IA na Justiça, em detrimento da Justiça em IA.  

Sabe-se, contudo, que os procedimentos judiciais existentes são morosos e lentos, não conseguindo satisfazer os benefícios da justiça. Um enfoque de Desenho Participativo no desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial, envolvendo profissionais da área jurídica em todos os laboratórios de Inteligência Artificial pelo mundo afora deve ser adotado. Modelos top-downs das Big Techs devem ser rejeitados.

É preciso que os juristas ou profissionais da área judicial reconhecem de início, que a Tecnologia em geral e a Inteligência Artificial em particular herdaram o poder absolutista do passado e são impostas numa visão de sujeição humana.  

Não devemos esquecer o que eminentes pesquisadores na área da tecnologia estão dizendo sobre o poder e o controle da IA:

O cientista da computação Geoffrey Hilton disse recentemente: "A IA tornará algumas pessoas muito mais ricas e a maioria das pessoas muito mais pobres".

Por outro lado, Alan Turing mencionou as consequências das máquinas de IA:

"Vamos supor... que essas máquinas sejam uma possibilidade real e analisar as consequências de construí-las. Haveria muito o que fazer ao tentar, digamos, manter a inteligência de alguém no padrão estabelecido pela máquina, pois parece provável que, uma vez iniciado o método de pensamento da máquina, não demoraria muito para superar nossos fracos poderes... Em algum momento, portanto, devemos esperar que as máquinas assumam o controle".

Já foi dito que não compreendemos o presente e precisamos recuar bastante no tempo para conhecer a gama de rupturas no cenário social. Entre as principais perturbações podemos citar a ameaça à democracia, os riscos existenciais da destruição ambiental e das mudanças climáticas e as intrusões da inteligência artificial “tirando a construção da realidade das nossas mãos”.

A literatura nos mostra que, ao longo dos anos, os arranjos institucionais e seus poderes absolutistas, como a Divindade Cristã, o Estado e o Mercado Neoliberal fracassaram, tendo como sucessora a Tecnologia. Portanto, é afirmado que a Tecnologia atingiu o "status de absolutismo fundacional na forma de inteligência artificial generativa".

Nesse sentido, os profissionais da área jurídica devem ter uma visão ampla para examinar as vísceras da história, a fim de compreender como enfrentar o presente, tendo em mente que a promoção de interesses dominantes, tanto nos arranjos institucionais mencionados quanto na Tecnologia, visa manter a sujeição humana.

O exemplo do cientista da computação Geoffrey Hilton, mencionado anteriormente, é muito claro sobre isso. Nesse caso, os profissionais do sistema judicial precisam compreender as atuais rupturas e os riscos existenciais enfrentados pelas comunidades ocidentais no contexto da sujeição.

Por fim, os fracassos do absolutismo da Divindade Cristã, do Mercado e do Estado resultaram na criação do absolutismo da Tecnologia, que já demonstra falhas em não responder aos riscos existenciais, levando o ser humano a uma sujeição nunca vista antes, principalmente com o advento da Inteligência Artificial.

Como resultado, uma abordagem participativa no desenvolvimento e design de sistemas de informação e algoritmos de inteligência artificial deve ser adotada, além da influência nas atividades regulatórias visando aplicações responsáveis, sustentáveis, eficientes e eficazes, com uma base ética reconhecida.

Não queremos que uma lei seja vista como uma arma, como foi mencionado nos Estados Unidos sobre o Take it Down Act, assinado pelo Presidente Trump e sua esposa. Nesta "era de regulamentação da tecnologia gangster", muita reflexão deve ser feita sobre inteligência artificial não apenas por legisladores, mas também por acadêmicos, profissionais de diferentes áreas científicas e pela sociedade.

Em relação à Inteligência Artificial, em muitos casos será necessária a interferência dos Tribunais de Justiça. Estamos falando de riscos existenciais e da nossa realidade existencial, devendo a Justiça exigir regulamentações éticas da Inteligência Artificial para mitigar o poder absolutista da Tecnologia e a condição de sujeição humana.

Justiça e ética em IA é uma necessidade urgente, mas do que IA na Justiça.


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