Cortes de Justiça Sob Ataques Políticos – Fragilidade da Independência Judicial
Os avanços do fascismo pelo mundo estão
alertando as Supremas Cortes de Justiça em vários países contra ataques de
políticos sobre a independência do Poder Judiciário, como foi informado pelo
Chefe da Suprema Corte de Justiça do Canadá, Richard Wagner. Para ele, se as
pessoas perderem a fé no sistema de justiça, o que acontecerá? Como disse ele,
as pessoas resolverão seus problemas nas ruas, surgindo a anarquia, com a perda
da calma, serenidade e o bem-estar dos cidadãos.
Para a professora de Direito da Universidade de
Ottawa, Vanessa MacDonnell, as instituições canadenses não estão imunes a estes
ataques. Para ela, o Chefe da Suprema Corte canadense, vendo o que está
acontecendo pelo mundo e o quão rápido pode se deteriorar, decidiu enfrentar a
questão imediatamente, não deixando para depois, de forma proativa e não
reativa.
É preciso compreender as diferenças entre as
Cortes de Justiça dos diferentes países, mas os recentes eventos ocorridos nos
Estados Unidos demonstram a fragilidade da independência do Poder Judiciário.
Como disse Richard Wagner, quando se senta numa cadeira da Suprema Corte do
Canada, não estamos lá para representar um movimento de direita ou esquerda ou
vermelho ou azul, mas para julgar os méritos de acordo com a lei.
Infelizmente, no Brasil, estamos vendo
ministros da nossa Suprema Corte servindo aos interesses do presidente da
República, o que dificulta a sua independência. Leva anos para que as pessoas
confiem nas instituições, mas um simples evento destrói esta confiança. A necessidade de se manter e construir esta
confiança é uma das razões pelas quais a Suprema Corte do Canada está
intensificando uma campanha para explicar seu papel na democracia do país.
No Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) convocou
acadêmicos de várias universidades para auxiliar no combate à desinformação que
toma conta do país com a ajuda das mídias sociais. É louvável a iniciativa, mas
diante das investidas atuais do governo contra o STF e o sistema de votação eletrônico, as Cortes de Justiça devem intensificar ações além da
desinformação, voltadas para a educação, transparência e a guerra na Amazonia,
com vistas a intensificar o apoio e confiança da sociedade brasileira.
Apesar de suas falhas, o único poder no Brasil
que está defendendo nossa democracia é o poder judiciário, razão pela qual
Bolsonaro está tentando desmoralizá-lo. Durante a Pandemia foi o único poder
que enfrentou as ações negacionistas do presidente, junto de alguns
governadores. Por conta disto, movimentos apartidários têm que desenhar um
movimento de lutas contra ações nefastas, principalmente contra o STF,
considerando as ameaças e grandes riscos a que estamos submetidos.
Não podemos esquecer o que aconteceu a semana
passada nos Estados Unidos durante as audiências que trouxeram revelações
extraordinárias sobre o movimento em que Donald Trump deu um golpe para destruir
a ordem política, depois das eleições de 2020. Em uma das audiências, o ex-juiz
federal, Michael Luttig, deixou um alerta que teve e está tendo grande
repercussão no país, nas seguintes palavras: Trump e seus aliados são um perigo claro para
a democracia americana, implorando ainda que eles podem ter sucesso em 2024.
Diante disto, a sociedade brasileira tem que considerar
que as ameaças de Bolsonaro podem ser mais intensas do que o golpe de Trump.
Instituições como CNBB e OAB, de grande prestígio nacional, têm que se
mobilizar para enfrentar o possível golpe de Bolsonaro. Representantes do
empresariado, de grande força nacional, devem também se mobilizarem para salvar
nossa democracia.
O poder Judiciário tem um grande trunfo nas
mãos e que se for intensificado poderá ter uma confiança redobrada da sociedade
brasileira e que diz respeito à necessidade de justiça. Vale lembrar aqui o que
disse o Chefe da Suprema Corte do Canada, ou seja, o acesso à justiça não é
apenas um serviço ou um direito fundamental, mas é acima de tudo uma
necessidade humana básica e um ingrediente essencial da democracia,
reconhecendo que as expectativas de uma justiça rápida e oportuna é a grande
tarefa, num momento em que as cortes estão abarrotadas de casos causando
demoras. Neste sentido, convocou todos do sistema judicial para reavaliar o que
fazem, como fazem e como atender as necessidades das pessoas que servem.
Bolsonaro e seus apoiadores representam um
grande risco à democracia brasileira e o sistema judicial, que tem ainda a
grande missão de enfrentar a guerra na Amazonia, trazendo a justiça para uma
região tão carente, precisa de apoio da sociedade. Combatendo a desinformação e
intensificando a confiança que se deve ter no sistema judicial são caminhos
para enfrentar as tentativas golpistas que nos rodeiam, articuladas por aqueles
que não respeitam a dignidade humana.
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