Teorias da Conspiração, Ignorância e Corrupção

 

Fonte: IHU - Unisinos (A virulência da ignorância)                 

Será que o Brasil é um campo fértil para florescer as chamadas teorias de conspiração, considerando os níveis de educação e corrupção existentes? Enquanto ferramenta de mobilização política, a teoria da conspiração é desenhada para capturar o ódio, legitimar ressentimentos raciais e unir eleitores que se sentem oprimidos pela cultura dominante do momento ou ideias liberais progressivas. Com certeza, o Brasil é um campo fértil para se estudar as teorias de conspiração.

Estudos realizados em vários países mostram que o pensamento conspiratório tem sido usado muito em regimes autoritários, tanto de direita quanto de esquerda. Estamos vendo como a extrema direita autoritária vem utilizando as teorias de conspiração, a exemplo do Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil. Ainda em 2017, vários autores já indicavam a subida de Trump como candidato a presidente, através do uso de teorias de conspiração e, tanto Trump, quanto Bolsonaro, introduziram uma política perturbadora, levando-os a presidência da República.

Portanto, como perturbadores ou arruaceiros num linguajar mais elementar, as soluções de Trump e Bolsonaro são o que se pode chamar de política da teoria de conspiração, que acredita “no arranjo secreto de um grupo de pessoas poderosas para usurpar o poder político ou econômico, violar os direitos adquiridos, acumular segredos vitais ou alterar, fora da lei, as instituições governamentais”. Estamos assistindo o ataque de Bolsonaro ao Poder Judiciário.

Na retórica conspiratória de Trump, as elites políticas abandonaram os interesses dos americanos em favor de interesses estrangeiros, sendo o sistema político corrupto, não merecendo confiança. Para ele, só um perturbador podia parar a corrupção. No Brasil já tivemos a experiencia do caçador de marajás, com Fernando Color de Melo e a bandeira de Bolsonaro era a de acabar com a corrupção. De início a retórica de Bolsonaro levou muitos a acreditarem que “acabou a mamata” e a corrupção estava ligada a Lula e ao PT.

Aos poucos foi-se percebendo, conforme noticiado, o quanto a família Bolsonaro era envolvida com a micro corrupção, ou seja, as pequenas corrupções no campo das rachadinhas, compra de imóveis e dinheiro emprestado. Por fim, com o orçamento secreto, a ligação de Bolsonaro com o Centrão e a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro se chega a grande ou macro corrupção, que não difere da corrupção dos demais partidos políticos e de figuras da elite política brasileira.

Já foi questionado que se os bolsonaristas não votam em Lula por conta da corrupção do PT, como irão encarar a corrupção do governo Bolsonaro? Colocá-lo no armário? Com base nas teorias da conspiração, que tomaram conta da cabeça dos bolsonaristas, eles continuam afirmando que não há corrupção, da mesma forma que menosprezam a democracia e até a vida em favor da morte. O nível de alienação e ignorância de muitos chegou a um ponto em que era comum desrespeitar as medidas de proteção durante a Covid-19, incluindo médicos. Através da desinformação, muitos se tornaram menos livres, sendo manipulados pelas ideias bolsonaristas a tal ponto de tomarem cloroquina no lugar da vacina, abraçando o kit da morte.

Boa parte da população brasileira já começa a perceber que não precisamos de um “Messias”, um “juiz durão” ou os “homens de bem” de Bolsonaro para acabar com a corrupção e solucionar os problemas de desigualdades sociais no país. O que o Brasil precisa são de políticas públicas para a solução de nossos problemas e temos aí vários candidatos de esquerda, centro e direita propondo defender nossa democracia e combater as desigualdades sociais. Mais importante do que eleger um presidente é fazer uma boa escolha de seu deputado federal e senador para o Congresso Nacional diferente da maioria dos que estão aí, só defendendo seus interesses e os interesses das grandes corporações, além da defesa das teorias de conspiração de Bolsonaro.

Em 2019, vários estudiosos do pensamento conspiratório concluíram que as crenças conspiratórias estão correlacionadas com a alienação do sistema político e a falta de compreensão do mundo social, principalmente quando a economia não vai bem. Nos Estados Unidos observou-se que o pensamento conspiratório está correlacionado com os baixos níveis educacionais e de renda, ao contrário do que está acontecendo no Brasil, onde os que detém melhores níveis educacionais e renda são os defensores de Bolsonaro e das teorias de conspiração. Vale mencionar que melhores níveis educacionais não isentam as pessoas da alienação e ignorância. Ser bacharel não isenta a ignorância, o que é lamentável.

De muita importância são os estudos mostrando o quanto as crenças conspiratórias estão ligadas às intenções violentas das pessoas. É o que mostra os estudos de Uscinski e Parent, da Universidade de Notre Dame, indicando que os mais inclinados às teorias de conspiração são os que concordam que a violência é uma forma aceitável de expressar discordância com o governo. São estes os favoráveis às leis de uso de armas, de conspirar com as intenções de se engajar com o crime, como os de não pagar impostos. Para alguns autores, comportamentos criminosos não se associam com honestidade, humildade, consciência e identidade moral.

Para Rachel Kleinfeld, pesquisadora da Carnegie Endowment for International Peace, as ideias de supremacia branca, milícias e teorias da conspiração estão na mídia nos últimos anos provocando violência e normalizando ideologias radicais, vindas principalmente da extrema direita a partir de 2015, quando Trump entrou na arena política. Foi o primeiro presidente americano a considerar que o resultado de uma eleição era ilegítimo. Isto teve uma grande influencia para os que o viam como líder, incluindo membros do Partido Republicano e do movimento denominado de MAGA, visto como um movimento terrorista.

No Brasil, Bolsonaro segue os mesmos passos de Trump, deslegitimando as urnas eletrônicas, depois de mais de 20 anos de uso no país, dizendo inclusive que não aceita os resultados das eleições, se não for eleito. Os depoimentos dos últimos dias no Congresso americano sobre o golpe e as mentiras de Trump em não aceitar os resultados da eleição de 2021, já estão prevendo e sendo noticiados que se ninguém está acima de lei, isto deve começar com Trump, que poderá passar alguns anos na prisão.

Bolsonaro e alguns militares brasileiros que estão na mesma situação vão resistir, sabendo que a prestação de contas com a justiça vai ser longa. Bolsonaro, seus seguidores e apoiadores representam um grande risco à nação brasileira e a nossa democracia, principalmente se resistirem ao golpe planejado. Uma das características das teorias de conspiração é justamente planejar golpes. Estamos muito próximo disto e os efeitos das urnas podem reduzir este risco.

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