Necessidades de Informação para Consumidores dos Sistemas Alimentares - Fechando Lacunas
José Rodrigues Filho *
Euda Marques Gouveia Rodrigues **
O conceito de sistema alimentar está passando por uma rápida evolução de significadocon. Antes focava basicamente na necessidade de alimentar populações crescentes, limitando-se à produção, distribuição e consumo. Mais recentemente, o conceito mais holístico de sistema alimentar ganha força entre pesquisadores e tomadores de decisão, de acordo com o Painel Global de Agricultura e Sistema Alimentar para Nutrição (Global Panel on Agriculture and Food System for Nutrition – 2016), com uma perspectiva que integra todos os elementos (meio ambiente, pessoas, inputs, processos, infraestrutura, instituições, etc.) e atividades relacionadas com a produção, distribuição, preparação e consumo de alimentos, incluindo os resultados socioeconômicos e ambientais.
Com uma interpretação ampliada dos sistemas
alimentares, especialistas de diversas disciplinas e tradições intelectuais
estão cada vez mais interessados nas questões relacionadas com a natureza e
origem da insustentabilidade de nossos modernos sistema alimentares. Apesar de
toda mecanização da agricultura e modernas ferramentas de tecnologias de
informação, os dados atualmente existentes e disponíveis nos sistemas
alimentares tendem a ser fragmentados e incompletos. Esta falta de dados e
informações, de forma compreensiva, impede nossa habilidade de compreender de
forma holística as dinâmicas e complexidade dos sistemas alimentares. Por esta
razão, alguns autores já chegaram a afirmar que nossas fábricas de alimentos
são lugares de “manipulações obscuras”. No caso do Brasil, a agroindústria
demorou muito a fornecer um mínimo de informações de seus produtos aos
consumidores, as quais são ainda incompletas e falhas.
Contudo, o discurso de sustentabilidade está
influenciando os sistemas alimentares em todos os países do mundo em direção a
transições e transformações, de forma rápida, com importantes implicações para
crescentes desafios, incluindo a necessidade urgente de melhor entender os
caminhos de sua evolução e recuperar a confiança da mão que nos alimenta, hoje
em risco. Neste sentido, as empresas da cadeia de suprimentos da agroindústria
estão enfrentando novas expectativas e buscando comunicar o desempenho social, econômico e ambiental de seus negócios para consumidores dentro da cadeia de
suprimentos e consumidores como clientes finais. Novas iniciativas de
sustentabilidade estão acontecendo como as etiquetas de informações nos
produtos.
Não há dúvidas de que no período pós-pandemia,
o discurso de sustentabilidade vai ser intensificado e a agroindústria brasileira
vai enfrentar grandes desafios. Com o chamado Green Deal no mercado europeu,
produtos contaminados com agrotóxicos e oriundos da Amazônia, dificilmente
entrarão na Europa. Aliás, o setor agrícola do Brasil não é bem visto no mundo
em termos de segurança alimentar, levando a uma intensificação da
rastreabilidade da produção, certificação e outras informações não existentes
em nossos produtos.
Num mercado competitivo, em que as
responsabilidades integradas em termos sociais, econômicas e ambientais
tornam-se um pré-requisito para um bom empreendedorismo, consideração desta
visão integrada é um dos fatores críticos de sucesso para o bom sucesso de
longo prazo do setor de alimentos. Com a integração de sistemas computacionais
e melhoria das informações é possível proporcionar soluções para se medir e
avaliar a sustentabilidade de produtos ao longo da cadeia de suprimentos. A
informação adquirida das características do produto pode ser usada para a
tomada de decisão dentro das empresas e para a comunicação de práticas
sustentáveis para clientes e consumidores, resultando numa competição crescente
das empresas, cadeias de suprimentos e o próprio setor, satisfazendo as
necessidades de informação de clientes e consumidores e garantias da
sustentabilidade do produto.
Desta feita, desenvolver um modelo de serviço
de informação no setor da agroindústria é de fundamental importância e
urgência, devendo contemplar segurança alimentar (representando a dimensão de
sustentabilidade social), qualidade (representando a dimensão de
sustentabilidade econômica) e potencial de informações globais (representando a
dimensão de sustentabilidade ambiental). Este modelo foi selecionado pelas
seguintes razões: 1) há uma necessidade de garantias da segurança alimentar,
como requisito para a confiança do consumidor e aceitação do mercado; 2) no
mercado altamente competitivo da agroindústria, a qualidade torna-se uma
precondição para a sustentabilidade econômica das empresas do setor da agroindústria;
3) os consumidores demonstram interesses crescentes nos impactos de alertas
globais dos produtos alimentares e esperam que varejistas proporcionem
informações e garantias dos produtos comercializados.
Assim sendo, torna-se necessário investigar a
infraestrutura de informação do setor da agroindústria e as lacunas existentes,
considerando as principais dimensões de sustentabilidade, com sugestões de
futuras necessidades de pesquisa com foco informacional nas áreas de logística,
rastreabilidade, segurança alimentar, qualidade e outros aspectos da
sustentabilidade. Num momento de grandes preocupações com as questões
sanitárias, o setor da agroindústria deve se preocupar cada vez mais com a
segurança alimentar visando atender as exigências dos mercados e consumidores.
A literatura mostra cada vez mais as inseguranças dos alimentos, o medo e
pânico universal, que podem ser atenuados através de infraestruturas de
informação e da digitalização visando recuperar a confiança de todos.
*Jose Rodrigues Filho é professor da
Universidade Federal da Paraíba. Foi pesquisador nas Universidades de Johns
Hopkins e Harvard. Recentemente foi professor visitante na McMaster University,
Canadá, onde desenvolveu trabalho sobre Sustentabilidade e Tecnologia da Informação
em Saúde. https://jrodriguesfilho.blogspot.com/
** Euda Marques Gouveia Rodrigues é graduada em
Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com
experiencia em plataformas dos sistemas de informação bibliotecários e
necessidades de informação da comunidade.
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