Apocalipse Brasileiro e Políticas do Mal e Devoração
Fonte: CEBI
Em texto
anterior mencionamos a necessidade de se
fazer uma análise destas eleições e seus resultados numa perspectiva
apocalíptica, considerando que o apocalipse brasileiro se assemelha bastante às
visões apocalípticas bíblicas, diante de políticas do mal, destruição e
devoração, aprovadas pelo sistema político ou Congresso Nacional.
Para alguns
a política ou “ser político” passou a representar a forma como se vota no
processo político partidário e é considerada como não tendo nada a ver com a
mensagem espiritual do Evangelho. Para outros, os cristãos estão fortemente
envolvidos neste processo, muitas vezes através de lobbies, para manterem uma
voz moral forte em prol dos “valores cristãos” nos corredores do poder.
O Apocalipse
do apóstolo João enfatiza sua preocupação com o sofrimento humano, pobreza e as maldades do poder ou sistema
político, de modo que o apocalipse, fé e política são temas interligados. Nos
capítulos segundo e terceiro do Apocalipse temos a série de sete cartas
enviadas para sete comunidades, que podem ser utilizadas para se fazer
comparações com comunidades brasileiras no momento.
Em estudos e
pregações sobre o apocalipse, fé e política, o Frei Carlos Mesters e seus
seguidores, do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), nos traz uma compreensão
clara e compreensiva do último livro da Bíblia, mostrando-nos o abuso de poder
naquelas comunidades, ajudando-nos a refletir sobre a realidade brasileira nos
dias de hoje e o quanto somos mornos em não enfrentar os poderosos deste país.
Assim sendo,
a literatura sobre o Apocalipse ou Revelação tem se tornado abundante, com
sacerdotes católicos, teólogos e pastores de outras religiões tratando do tema
de forma compreensiva. Graças a eles, podemos construir nossa interpretação do
Apocalipse, que é escrito numa linguagem cheia de figuras e simbolismos.
Antes tudo,
porém, precisamos compreender que o Apocalipse se baseia numa profunda e sólida
reflexão e conhecimento histórico, teológico e filosófico, além da relevância
de textos sagrados do discurso teológico. Assim sendo, percebemos o eco do que
foi escrito há mais de dois mil anos em comunidades asiáticas sendo
reproduzidos nas comunidades brasileiras, sem uma reação da sociedade sobre o
que está acontecendo.
A sétima e
última carta do Apocalipse foi dirigida à comunidade cristã de Leodiceia, mas a
mensagem de João parece ecoar nos resultados das eleições brasileiras e na
construção do apocalipse brasileiro, que se assemelha ao apocalipse americano e
de outras partes do mundo, acontecendo sob o silencio da sociedade e da maior parte da academia.
Foi lá em
Leocideia que o Cristo fez um julgamento da comunidade nestas palavras:
“Conheço
tuas obras: Tu não és nem fria nem quente! Oxalá fosses frio ou quente. Mas
como és morno e não és nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha
boca!” (3,15-16).
Portanto,
numa comunidade influenciada pela riqueza e morna ou indiferente ao sofrimento
do povo, o julgamento foi mais além:
“Tu
imaginas: Sou rico. Tenho tudo, nada me falta. E não sabes que és um infeliz,
miserável, pobre, cego e nu!” (3,17).
Não podemos
esquecer João nos versículos iniciais do Apocalipse 13 fazendo alusão ao
Império Romano, quando cita a besta devoradora – Roma – que exigia a adoração e
lealdade de seus cidadãos a um poder brutal. Seríamos tolos se ignorássemos os
sistemas políticos bestiais que devoram o nosso mundo de hoje, punindo aqueles
que se recusam a cumprir os negócios como sempre (business as usual).
O
apocalipse brasileiro começa com a guerra contra a democracia no governo
anterior, respaldada nestas eleições
municipais, com a vitória da extrema direita e a própria direita, que congrega
as forças de opressão da sociedade. O que mais preocupa, é que este estado
corrosivo começou de cima para baixo, mas agora começa a ter força de baixo
para cima, com os pobres de extrema direita, como mostraram os resultados das eleições..
Por outro
lado, a centro-esquerda no Brasil vem ocupando o poder por um bom tempo, mas a
preocupação maior foi a de formar “frentes amplas” para manter o status quo,
relegando as necessidades do povo e preocupando-se com o fortalecimento do
Estado, a serviço de grandes corporações, a exemplo do agronegócio.
Neste ano
de 2024, várias instituições, a exemplo do Congresso Nacional, e vários temas,
a exemplo da violência contra as mulheres, envenenamento da sociedade, golpe do
marco temporal, orçamento secreto, chamas de fogo e vários outros oferecem oportunidades
para se discutir o apocalipse brasileiro, que inclui as políticas do mal, da
destruição da natureza e devoração.
João nos
convoca a resistir à tentação de acreditar no engano da besta. Para ele, devemos
adorar somente o Cordeiro morto, que venceu não com a espada, mas com a cruz,
fugindo de um sistema que devorava para manter o status quo. Por fim, já
foi dito que o Apocalipse não foi escrito para nos encher de medo. É o caminho
de nossa salvação ao revelar e tirar o véu da política que devora e que choca o
mundo.
O
Apocalipse nos guia a ser fiel ao Crucificado e Ressuscitado, cuja política não
devora, mas traz verdade, cura, justiça e paz, dando-nos forças para chocar o
poder e aliviar o sofrimento humano.
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