Mercado Bêbado por Riquezas, Moedas Digitais e Vigilância
Fonte: Unsplash
A avareza no mundo inteiro está levando os
mercados a uma embriaguez por riquezas, usando as tecnicalidades da ciência da
computação e da economia em busca de maiores lucros através das moedas digitais,
sem a criação de um marco legal de segurança e, pior ainda, sem uma clareza, do
ponto de vista legal, se a moeda digital é dinheiro, como conhecemos hoje.
Os que defendem as vantagens das moedas
digitais não conseguiram ainda comprovar nada empiricamente, mas os que tratam
dos riscos e desvantagens delas, apontam para os assombrosos riscos que
experimentamos no dia a dia, sem falar do pior que é o dinheiro sem o Estado,
assunto muito controverso. Imagine o que significa mercados poderosos emitindo
muito dinheiro. O Estado ainda é a melhor instituição para tratar da oferta de
dinheiro.
Estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI)
mostrou que apenas 40 países permitem legalmente a emissão de moedas digitais.
Como criar o arcabouço legal nos demais países? Sabemos muito pouco sobre a situação
no Brasil e muito menos sobre o arcabouço legal regulatório inerente à
segurança do uso de moedas digitais no país.
Assim sendo, a criação de moedas digitais do Banco Central levanta questões legais em muitas áreas, incluindo impostos,
propriedades, contratos, leis de insolvências, sistemas de pagamentos,
privacidade e proteção de dados, sendo fundamental a prevenção de lavagem de
dinheiro e financiamento do terrorismo. Se as moedas digitais vão ser o marco
da evolução do dinheiro, os bancos centrais precisam de fundações legais
robustas, visando assegurar integração suave ao sistema financeiro,
credibilidade e ampla aceitação dos cidadãos do país e agentes econômicos.
As tecnicalidades e a base teórica existentes
até agora são limitadas e insuficientes. Sem a integração de outras áreas de
conhecimento, tais como ciência política, filosofia e sociologia é muito
temeroso a introdução de moedas digitais em qualquer país, razão pelas quais as
economias desenvolvidas começam a considerar a discussão de marcos regulatórios
em termos de segurança destas tecnologias.
Desde a criação da Bitcoin em 2009, as
criptomoedas explodiram em popularidade, valendo hoje mais de um trilhão de
dólares e com o potencial de causar rupturas no sistema financeiro global. Para
alguns críticos, a falta de regulamentação das criptomoedas empodera grupos
criminosos, organizações terroristas, Estados desonestos, enquanto seus ativos
provocam desigualdades e elevado consumo de energia. In 2022, diversas empresas
de criptomoedas entraram em colapso, a exemplo da FTX, causando trilhões de
dólares em perdas. Mesmo assim, muitos governos buscam capitalizar com a tecnologia
que empodera as criptomoedas, investindo em suas próprias moedas
digitais.
Assim sendo, mais de 100 países, incluindo os
Estados Unidos, estão considerando introduzir suas próprias moedas digitais do
Banco Central (CBDCs) para competir no boom das criptomoedas. Enquanto alguns
países pobres do Caribe já introduziram suas moedas digitais (CBDCs), a China e
o Brasil pretendem introduzi-la durante o corrente ano.
Enquanto isto, nos Estados Unidos, não há um
consenso entre os servidores do próprio Banco Central americano (Federal
Reserve), incluindo a própria indecisão de seu presidente, sobre a necessidade
de um dólar digital. Para muitos, a introdução da moeda digital cria problemas
ao centralizar um poder gigante, dados e riscos dentro de um simples banco,
comprometendo potencialmente a privacidade e cyber segurança.
O dinheiro é relativamente anônimo, mas com a
moeda digital esta anonimidade tende a desaparecer, deixando claro o quanto de
poder o governo terá sobre nossos recursos e dos detalhes das trilhas de nossas
transações. Já foi dito que os CBDCs são tentativas do governo em proteger seus
privilégios e exercer mais controle sobre o dinheiro do povo.
Recentemente, o Instituto Cato nos Estados
Unidos publicou que as moedas digitais de banco central são incompatíveis com a
liberdade e que nas contas de CBDCs, em princípio, é possível implementar taxas
de juros negativas, encolhendo seu saldo nestas contas. Neste caso, quando
começarmos a perder dinheiro, todos nós vamos ter saudades do confisco da poupança
no Governo Collor de Melo.
Há poucos dias o Instituto Cato publicou
dezenas de depoimentos de políticos americanos, pesquisadores, banqueiros e
autoridades governamentais, alguns deles descritos abaixo, mostrando os riscos
dos CBDCs e as razoes pelas quais não deve ser implementado nos Estados Unidos.
Entre os políticos foi dito que “uma moeda
digital nos Estados Unidos seria um dos mais perigosos desenvolvimentos na história”
e que “um CBDC, centralmente gerenciado e controlado, é uma ferramenta de coerção
e controle. Enquanto foi dito que o CBDC “pode ser usado como uma ferramenta de
vigilância que os americanos nunca deveriam tolerar de seu governo”, o Senador
Ted Cruz afirmou: “Um CBDC permitiria que o governo nos espionasse. O Congresso
precisa parar o FED de desenvolver um CBDC agora!”.
Por outro lado, para o próprio presidente do
FED, Jerome Powell, “Nós não queremos um mundo em que o governo vê, em tempo
real, cada transferência que alguém faz com um CBDC”. Em resumo, o que foi argumentado
é que o Congresso deve proibir o FED e o Tesouro de emitir uma moeda digital
nacional e que um CBDC não tenha lugar na economia americana.
A desregulamentação do Banco Central no Brasil,
que levou a sua independência, foi visando a implementação de um CBDC, abrindo
o caminho para uma vigilância do Estado, com consequências sinistras para toda
a sociedade. Espera-se que o Senado Federal pare com isto.
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