Responsabilidade Empreendedora e Planos de Governo dos Presidenciáveis
Fonte: Oxfam Brasil
Com exceção do presidenciável Ciro Gomes, que
propõe um novo modelo de gestão nos campos econômicos e políticos, os demais
candidatos demonstram querer manter o status quo, num país severamente
desgastado por práticas corruptas, de desigualdades sociais e de violência.
Nada mudará neste país sem uma revisão dos
fundamentos éticos e morais, que estão corroendo as gestões públicas e
privadas, tornando o Brasil um dos países mais corruptos do mundo, com desigualdades, fome e violência extremas. Neste caso, não só o plano do presidenciável Ciro
Gomes, mas dos demais candidatos deveriam contemplar o que se chama de
responsabilidade empreendedora.
O discurso dos liberais conservadores de uma
responsabilidade social está explicito nas falas de alguns candidatos, a qual tem
beneficiado mais as grandes corporações do que as comunidades e a sociedade em
geral. A Pandemia mostrou que o discurso de responsabilidade social, oriundo da
responsabilidade social corporativa, contém suas controvérsias, considerando os
elevados lucros destas corporações e a expansão das desigualdades sociais e a pobreza
no mundo.
No Brasil, o que se tem observado nos últimos
anos é a violação dos direitos dos trabalhadores, com a perda de benefícios e
outras garantias sociais, além dos ataques aos sindicatos. Portanto, a falada
responsabilidade social é muito em cima de interesses econômicos, eficiência e
aumento de produtividade, em detrimento do massacre aos trabalhadores. A desastrosa
reforma da previdência, apoiada pelas empresas, é um exemplo típico de como é a
responsabilidade social delas.
Por conta disto, a responsabilidade
empreendedora deve ser defendida e reforçada em todo sistema educacional do
país. Os temas de empreendedorismo, empreendedorismo social, responsabilidade
social, sustentabilidade e outros já vem sendo bastante discutidos nas empresas
e escolas de administração, mas precisam ser ampliados para contemplar a
responsabilidade empreendedora, que enfatiza os princípios éticos e morais nos
modelos de gestão.
Qualquer pessoa pode empreender suas ações e
atividades, sem necessariamente pensar em iniciar um negócio, enfatizando os
princípios éticos e morais e pensando no bem-estar da sociedade. Não adianta
falar em responsabilidade social das empresas ou corporações, empreendedorismo
social, se as práticas antiéticas e individuais são predominantes, com o
intuito de ganância e aumento de lucros.
Já existem no mundo grandes corporações
defendendo a responsabilidade empreendedora das empresas. Neste caso, não se
torna difícil para qualquer governante trazer o tema para ser discutido com o
empresariado e membros de outras instituições públicas e privadas.
Tanto os políticos quanto as empresas neste
país devem responder por suas irresponsabilidades. Os políticos não poderão
continuar escondendo seus orçamentos secretos e outros benefícios indecentes da
sociedade. Da mesma forma, as empresas não poderão esconder os males causados
por suas práticas danosas, dizendo que estão preocupadas com a responsabilidade
social. O que queremos delas é uma responsabilidade ética e moral, chamada de
responsabilidade empreendedora, pagando na justiça pelos erros cometidos.
Neste caso, a educação em responsabilidade
empreendedora deve ser enfatizada em todos os campos de ensino e educação,
principalmente nos cursos de ciências sociais e humanas, a exemplo de ciências
políticas, ciências contábeis, direito, administração, psicologia, sociologia,
entre outros, de modo que se construa e amplie o conhecimento de ensino e
pesquisa no país na área de um empreendedorismo que contemple a
responsabilidade empreendedora.
Uma das competências mais discutidas e exigidas
nos dias de hoje diz respeito a competência empreendedora. Esta visão é
compartilhada pela maioria das instituições internacionais, a exemplo da
Comissão Europeia, pela OECD, instituições educacionais e alguns pesquisadores
em empreendedorismo. Tanto as pessoas quanto as empresas, governantes, cidades,
regiões e países querem ser empreendedores.
Portanto, o empreendedorismo é visto como uma
força positiva e o seu contexto está se tornando mais amplo, indo além da
conotação tradicional de pequenos negócios ou simplesmente criar seu próprio
negócio. As atitudes e valores estão levando ao crescimento econômico e social,
à inovação, criação de empregos e sustentabilidade, além de serem considerados
como uma fonte de autossatisfação e autorrealização de indivíduos conscientes que
querem tornar a criação de suas aventuras ou iniciativas em realidade.
Neste caso, as ações humanas devem respeitar
códigos morais e éticos, sem ferir os elementos do ecossistema empreendedor,
nas dimensões econômicas e sociais. Estabelecer um novo negócio ou implementar
inovações só são desejáveis quando o empreendedor assume a responsabilidade por
suas consequências. Portanto, a educação em empreendedorismo deve focar num
fazer consciente e responsável e só tem sentido se caminhar nesta direção,
enfatizando dois conceitos importantes na teoria e prática da educação em
empreendedorismo – experiencia empreendedora e responsabilidade empreendedora,
com base nos escritos de educadores e filosóficos clássicos.
Surpreendentemente, as experiencias na educação
em empreendedorismo geralmente são entendidas de forma estreita e simplista. A
responsabilidade é muito menos presente e aparece de forma fragmentada quando
se debate a ética em empreendedorismo e se tenta adaptar a responsabilidade
social corporativa no contexto de pequenos negócios.
Assim sendo, temos que recorrer à velha ética
para enfatizar que o tópico de responsabilidade não seja discutido apenas do
ponto de vista da responsabilidade social e do desenvolvimento sustentável, uma
vez que pouca atenção tem sido dada à responsabilidade como uma questão moral
que guia o comportamento do empreendedor.
É inaceitável desumanizar a responsabilidade no
empreendedorismo, discutindo-a apenas do ponto de vista da responsabilidade
social das empresas, apesar do óbvio caráter humano da responsabilidade, que
deve estar mais associada com os indivíduos do que com as empresas.
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